Science
Pesquisa multimídia
A proliferação das câmeras digitais e celulares capazes de gravar imagens em movimento, a disseminação da internet em banda larga e a popularidade dos repositórios de vídeos como o YouTube estão aos poucos dando novos contornos à prática científica. Mais do que mero material de apoio, os vídeos para internet são hoje inspiradores de pesquisas, suporte para a apresentação de resultados e ferramenta de acesso ao objeto de estudo.
A proliferação das câmeras digitais e celulares capazes de gravar imagens em movimento, a disseminação da internet em banda larga e a popularidade dos repositórios de vídeos como o YouTube estão aos poucos dando novos contornos à prática científica. Mais do que mero material de apoio, os vídeos para internet são hoje inspiradores de pesquisas, suporte para a apresentação de resultados e ferramenta de acesso ao objeto de estudo.
O exemplo mais evidente de apropriação do vídeo na pesquisa é seu uso como recurso para dinamizar a apresentação dos resultados. Os vídeos na internet para a divulgação de estudos estão cada vez mais frequentes e sofisticados. Um bom exemplo recente é um minidocumentário produzido pela equipe da bióloga Liana Zanette, da Universidade de Ontário Ocidental, no Canadá.
Em dezembro do ano passado, o grupo publicou na revista Science um artigo mostrando como o simples medo de predadores é capaz de comprometer a reprodução de pássaros. Para divulgar o trabalho, a equipe fez um vídeo narrado em linguagem acessível pela cientista e montado com imagens obtidas durante a pesquisa de campo. O vídeo (em inglês) funciona melhor que um texto para explicar as conclusões do estudo.
Mas o recurso ao vídeo não se restringe ao material de divulgação. O formato é usado também para a apresentação de resultados para os próprios cientistas. Existe, aliás, um periódico científico no qual os estudos são apresentados exclusivamente em suporte audiovisual – com hipóteses, métodos de pesquisa, resultados e conclusões, no mesmo molde de um artigo convencional.
No ar desde 2006, o Journal of Visualized Experiments se define como “a primeira revista científica em vídeo”. Os integrantes da equipe do biólogo Stevens Rehen, da UFRJ, estão entre os cientistas brasileiros que já publicaram nesse periódico – foram três estudos em 2009 e 2010 (não assinantes do periódico só podem assistir ao início dos vídeos).
No fim de fevereiro, um relato publicado num blog do Guardian expandiu de forma inusitada o leque de formas como os vídeos na internet podem influenciar a prática científica. O post discutia o desdobramento de um vídeo publicado no YouTube pelo jornalista de ciência britânico Brady Haran em parceria com o biólogo molecular Aziz Aboobaker, da Universidade de Nottingham. Chamado Vermes Imortais, o vídeo apresentava a formidável capacidade regenerativa das planárias, criaturas aparentemente indestrutíveis: quando uma delas é cortada ao meio, a cabeça desenvolve uma nova cauda e vice-versa.
No post no site Guardian, Haram contou que o pesquisador ficou intrigado com um comentário deixado por um leitor no YouTube: “Como é que você pode REALMENTE saber que eles são imortais?” Sem uma resposta convincente e motivado pelo desafio, Aboobaker acabou se lançando num estudo experimental que pudesse explicar quais características da fisiologia da planária explicavam sua aparente imortalidade.
O resultado veio a público na forma de um artigo da revista PNAS. A equipe de Aboobaker, explica Haran, “publicou o primeiro passo da sua demonstração revelando como suas planárias assexuais parecem contornar o processo de envelhecimento visto em organismos com reprodução sexuada. Elas conseguem fazer isso regenerando constantemente os telômeros nas pontas de seus cromossomos”.
E vale lembrar também um curioso trabalho de 2010 que usou vídeos do YouTube como corpus para uma pesquisa psicológica que estudou o comportamento de jovens sob efeito de sálvia – planta aproveitada como tempero na cozinha, mas também fumada por alguns com fins recreativos, por ter propriedades supostamente similares às da maconha.
Sem acesso a jovens sob efeito da sálvia em condições reais, os pesquisadores encontraram na profusão de vídeos postados por usuários no YouTube um meio de estudar a ação da planta. Os resultados foram apresentados num artigo na revista Drug and Alcohol Dependence (a Ciência Hoje contou essa história na época).
Em tempo: se você gosta de vídeos de ciência, está convidado a visitar com regularidade o tumblr do questões da ciência, projeto paralelo a esse blog que apresenta fotos, vídeos e áudios de ciência surpreendentes.
(arte: Louis Poyet / Archives Château Lumière)
Leia Mais
Assine nossa newsletter
Email inválido!
Toda sexta-feira enviaremos uma seleção de conteúdos em destaque na piauí