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    INTERVENÇÃO DE PAULA CARDOSO SOBRE FOTOS DE WALTERSON ROSA E ALAN MARQUES/FOLHA PRESS E FABIO RODRIGUES POZZEBOM/AGÊNCIA BRASIL

questões de poder

“PSL é a Geni do governo Bolsonaro”

Líder do partido no Senado diz que ministros são mal-educados com a base e que nunca falou com Santos Cruz

Consuelo Dieguez | 25 abr 2019_15h06
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O balanço que o líder do PSL no Senado, Major Olimpio, de São Paulo, faz dos poucos mais de cem dias de governo não é dos mais positivos. Pelo menos no que se refere à relação dos ministros com a base aliada. Numa conversa em seu gabinete, na semana passada, ele destilou toda a sua ira contra a forma “deselegante e desatenciosa” com que alguns ministros têm tratado os políticos, principalmente os do seu partido.

Os maiores alvos de sua insatisfação são, justamente, os encarregados de fazer a articulação com o parlamento – o da Secretaria de Governo, general Carlos Alberto dos Santos Cruz, e o da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, do DEM do Rio Grande do Sul. “Não vejo articulação e, sim, desarticulação”, disse ele. E emendou: “Quem faz a coordenação política do Palácio do Governo está dizendo que está fazendo coordenação, mas nós aqui não nos sentimos coordenados.” Perguntei se suas críticas eram dirigidas a Lorenzoni e a Santos Cruz. “Eu sou o líder do PSL no Senado, e o Santos Cruz nunca falou comigo. Se está achando que eu vou lá pedir carguinho, eu não vou. Não é o meu perfil. Eu estou querendo as lições de casa do que eu tenho que fazer aqui para defender o governo”, disse indignado.

O senador se queixa de que, apesar de ser um aliado de primeira hora, amigo do presidente Jair Bolsonaro, não é tratado com a mesma lealdade por alguns ministros do governo e que a desatenção do governo com o Parlamento tem dificultado o seu trabalho. “Eu sou um soldado do Bolsonaro aqui nessa trincheira. Mas para defender o governo, preciso de munição, armas e logística”, afirmou. Suporte que, segundo ele, não vem recebendo, não só pela desarticulação política como pela má vontade de muitos ministros. Apontou, então, uma série de erros, em sua opinião, que vêm sendo cometidos pelo Planalto.

Um deles foi o anúncio de que o Orçamento não permite aumento real do salário mínimo. “A discussão vai esquentar. O governo informa que não pode dar o aumento real porque poderá impactar as contas públicas e, dessa forma, romper os limites da Lei de Responsabilidade Fiscal, o teto de gastos da Emenda Constitucional 95”, disse. “Vou defender o projeto de orçamento encaminhado pelo governo, mas até agora não recebi nota técnica, nem orientação da área econômica para defender a proposta.” Usou novamente a metáfora de guerra. “Eu posso ser um bom soldado, mas não posso lutar sem armas e munições.” Admitiu que, “por deficiência de formação”, não tem “conteúdo suficiente para responder e defender”, e, por isso mesmo, precisa da ajuda dos ministros. “Saio buscando argumentos técnicos, através de leituras, da mídia, tentando arrumar as armas para fazer a defesa do governo, mas não sei se estamos falando a mesma linguagem.”

 

Outra situação onde o governo falhou, segundo ele, foi nas emendas impositivas. “Engessa ou não orçamento público?”, perguntou. Disse que questionou o ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre o assunto na Comissão de Assuntos Econômicos. “Pelo amor de Deus, me dê argumentos para fazer essa defesa. Estou vendo muita coisa boa acontecer, tenho perspectiva que aconteça. Ainda assim, sinto a desarticulação política.” Reclamou da votação, na véspera, em plenário, do encerramento da empresa da base de Alcântara, no Maranhão, uma associação com a Ucrânia, criada no governo do PT, que resultou em prejuízo de 480 milhões de reais para o país entre 2003 e 2015. “Jogamos o investimento no lixo”, disse. Mas, segundo ele, até para encerrar essa empresa houve confusão. “Preciso de uma nota técnica para explicar por que precisa fechar e não sou atendido.” E, com uma irônica humildade, concluiu: “Como quero parecer que sou inteligente, preciso ter argumentação técnica. Não veio nada do governo para mim. Tive que pedir para a minha assessoria correr atrás, para que pudesse alimentar os senadores da base aliada com informações.”

Em tom de queixa, disse que ninguém é mais aliado do governo do que ele, como líder do Senado, e o PSL como um todo. “O único partido que assume estar na base do governo é o PSL. O DEM tem três ministros, preside a Câmara e o Senado e fica naquela de ‘nós somos neutros’”, criticou. Na verdade, o DEM, segundo ele, está com o governo apenas no bônus. No ônus, “que se virem”. Por isso mesmo, ele considera que o PSL é a Geni, da Ópera do Malandro, de Chico Buarque. “É feita para apanhar é boa de cuspir. O governo bate e cospe na gente.”

O senador não tem dúvida de que essa desatenção do Planalto com a base vai dificultar a votação das reformas da Previdência, Tributária e o pacote anticrime de Sergio Moro. “Já estamos atrasando o cronograma previsto na Câmara. Isso é articulação ou desarticulação?”, repetiu. Perguntei se seria o caso de mudar os ministros Lorenzoni e Santos Cruz. Tergiversou. Mas partiu para o ataque indireto. “Quer alguns gostem ou não, quem vai votar as reformas é deputado e senador. Temos que fazer a sensibilização dos parlamentares, e o que eu mais ouço, o tempo todo, é que eles não são tratados com o mínimo respeito”, disse. O PSL reivindicou, sem sucesso, a presidência da Comissão Especial da Reforma, mas o posto ficou com o PR, e a relatoria, com o PSDB.

O tom dos ataques subiu. Olimpio reclamou que alguns ministros não dão retorno sequer a um telefonema de parlamentares ou um pedido de reunião. Em muitos casos, disse ele, os parlamentares levam “uma canseira” para conseguir uma agenda com determinado ministro e, depois de horas aguardando na antessala dos gabinetes, são avisados pelos assessores de que não serão recebidos. “Antes de tudo é um princípio de educação.” Disse que os ministros deveriam seguir o exemplo de Bolsonaro, que tem aberto a agenda para conversar com os líderes e presidentes dos partidos. Afirmou que o presidente tem insistido com os ministros, nas reuniões ministeriais, para que deem a devida atenção aos políticos, mas não tem sido ouvido. “Esses ministros podem ficar sossegados. Tenho conversado com os senadores e ninguém quer reunião para pedir carguinho. Essa ideia de que o parlamentar quer o toma lá dá cá virou uma síndrome. Os ministros e dirigentes de empresas públicas precisam aprender a ser respeitosos com os parlamentares. Eles têm que saber que estão lá para isso. Que não fazem mais do que a obrigação. Eles não precisam atender as demandas, mas precisam, pelo menos, ouvir os parlamentares.”

Reclamou que os ministros não se dão ao trabalho de, pelo menos, convidar os parlamentares para eventos realizados nas suas bases. “Fico sabendo que os ministros foram lá no meu estado discutir Ferronorte, privatização e não chamam os parlamentares da base. Existe articulação nisso?”

O que mais se vê, diz o senador, são os ministros atacando os deputados, chamando-os de Centrão, e, correndo depois para pedir voto. “Os ditos do Centrão representam 230 votos. O governo precisa de 308 para aprovar as reformas. E os ministros que dizem que estão fazendo a articulação não param de atacá-los.” Olimpio me contou que já alertou o presidente Bolsonaro de que os únicos verdadeiros aliados são os parlamentares do PSL, que votarão fechado com o governo. E que, por isso mesmo, pediu ao presidente que dissesse ao seu “staff” , aos ministros e dirigentes de empresas públicas, que “o PSL só quer ser tratado com a educação, a cortesia e o respeito que ele nos dirige”.

Segundo ele, o presidente é sempre atencioso. Já os ministros “precisam colocar as sandálias da humildade, principalmente os que fazem a coordenação política”. Em sua opinião, alguns ministros insistem na tecla de que, para ser atendido, o parlamentar terá que “rezar na sua cartilha”. Esse tempo, no entanto, diz ele, já passou. “Se o cara não atende porque acha que o deputado está lá para encher o saco, não pode, depois, querer cobrar lealdade.” Voltou a defender o PSL, afirmando que o partido é fiel ao governo, ao contrário do DEM, que só se apresenta quando lhe é conveniente. E contou, irritado, que uma senadora do PSL chegou a esperar uma hora e meia para ser atendida para depois “ouvir de um Zé Ruela que o ministro não iria recebê-la”. Ainda assim, disse ele, os parlamentares do partido sabem que têm que votar com o governo. Esse comportamento, no entanto, causa mal-estar. “Ou esses ministros vão aprender a nos tratar com educação, com dignidade e com respeito, ou teremos eternas interrogações. Embora irritado, fez uma ressalva. “Eu duvido que alguém do PSL vai deixar de votar contra a Previdência porque o ministro é mal-educado, não dá retorno, não marca uma agenda. Duvido que alguém ficará tão magoado assim a ponto de colocar o país em risco. Mas é claro que está havendo um somatório de mágoas.”

Essa “falta de educação” de muitos ministros, que, nas palavras do senador, são desrespeitosos com prefeitos, governadores, deputados e senadores pode, em sua avaliação, complicar a relação do governo com os parlamentares da base que não são do PSL. O desabafo que ele diz estar ouvindo de muitos parlamentares é “por que vou me posicionar como aliado se sou tratado como adversário”. Só quem não pode ter esse pensamento, segundo ele, é o PSL e, por isso mesmo, repete, ele chama o partido de Geni. “Nós estamos ali, tendo que aguentar ministro mal-educado, ministro que não dá retorno, que não convida para os eventos nos estados.”

Quando lhe perguntei se o ministro Paulo Guedes estava no rol dos mal-educados, se apressou em negar. “De forma alguma”, disse. “O Paulo Guedes é atencioso. Se tem um cara que não é vaidoso é ele. Embora tenha pulso, entende bastante de relações interpessoais. Ele está sempre disposto a nos ouvir. Toda vez que converso com ele, saio esperançoso.” Disse que Paulo Guedes, na visão dos parlamentares, é o ministro mais fácil de conversar. “Ele acaba sendo o suporte com que a ala política está conversando.” E fez uma provocação. “Seria ótimo se o Paulo Guedes fosse o ministro da articulação política.”

Do outro lado do prédio do Senado, na Câmara dos Deputados, o presidente do PSL, Luciano Bivar, na sua costumeira serenidade, tenta minimizar o discurso inflamado do senador Major Olimpio. “O major pode ter alguma particularidade”, me disse. “Eu, como presidente do partido, não recebi este tipo de queixa de que o parlamentar tenha procurado este ou aquele ministro e não tenha sido recebido”, assegurou. O PSL, disse ele, é um partido onde a grande maioria dos deputados é nova, de primeiro mandato, a procura de espaço. “Eles têm que entender que há uma longa vida política pela frente.” E tentou explicar as queixas do Major Olimpio. “Talvez ele tenha sido infeliz em alguns dos seus pleitos, mas eu não tenho visto isso.” O governo, diz ele, certo ou errado, está priorizando os técnicos, mas isso não significa que os políticos não possam indicar pessoas capacitadas.

Bivar saiu também em defesa de Onyx, afirmando que o ministro está sempre conectado com os pleitos aos ministérios. Quando lhe perguntei sobre o general Santos Cruz, foi evasivo. “Veja, eu sou presidente do PSL e estou mais preocupado com o partido do que com os ministérios. Eu nunca fiz qualquer demanda a qualquer ministério, porque antes disso, tenho que me preocupar com a unicidade do PSL e com que esse partido comungue dos anseios do governo que foi nossa marca de campanha.” Ele acredita, porém, que o governo tem procurado fazer suas articulações. E concluiu, encerrando a polêmica. “Os ruídos que acontecem você pode creditar a relacionamentos humanos. Entre aqueles que representam o governo e o Congresso de uma forma geral.”

 

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