A ciência aberta, publicada em revistas de acesso livre ao público, nunca cresceu tanto. Um estudo recém-divulgado mostra que, só em 2009, quase 200 mil artigos foram publicados em periódicos que não cobram pelo acesso. A realização do mais completo levantamento sobre o tema é um pretexto oportuno para discutir o livre acesso à produção científica brasileira, que é na maior parte custeada pela sociedade."> Raio X da ciência aberta
minha conta a revista fazer logout faça seu login assinaturas a revista
piauí jogos

Questões da Ciência

Raio X da ciência aberta

A ciência aberta, publicada em revistas de acesso livre ao público, nunca cresceu tanto. Um estudo recém-divulgado mostra que, só em 2009, quase 200 mil artigos foram publicados em periódicos que não cobram pelo acesso. A realização do mais completo levantamento sobre o tema é um pretexto oportuno para discutir o livre acesso à produção científica brasileira, que é na maior parte custeada pela sociedade.

Bernardo Esteves | 24 jun 2011_18h50
A+ A- A

A ciência aberta, publicada em revistas de livre acesso ao público, nunca cresceu tanto. Um estudo recém-divulgado mostra que, só em 2009, 191 mil artigos foram publicados em periódicos que não cobram pelo acesso.

Os dados foram divulgados num artigo publicado na semana passada. Conduzido por uma equipe da Escola de Economia Hanken, na Finlândia, o trabalho é o primeiro a fazer um levantamento detalhado do número de artigos e periódicos de acesso livre desde os primórdios desse tipo de publicação, no início dos anos 1990.

O levantamento mostra que, na última década, o crescimento médio anual do número de artigos de livre acesso publicados foi de 30%. O número de revistas abertas – eram quase 5 mil em 2009 –, por sua vez, aumentou 18% por ano no mesmo período, em contraste com os 3,5% de crescimento anual registrados para os periódicos de acesso restrito. No entanto, os artigos disponíveis para o público ainda têm uma pequena participação – 7,7% – no total de trabalhos publicados.

Coerentemente, o artigo finlandês foi publicado na , que é de acesso aberto. A revista é o carro-chefe do grupo PLoS (sigla em inglês para Biblioteca Pública de Ciência), que deu força ao movimento de publicação aberta quando lançou seus primeiros periódicos em 2003. As revistas desse grupo editorial inovaram ao propor uma subversão do modelo de publicação: em vez de o leitor pagar para ler, é o autor quem paga para publicar. É uma solução engenhosa, que desonera o leitor e não pesa muito para os cientistas – a taxa de publicação se dilui no volume total de recursos destinados a uma pesquisa.

Evolução do número de artigos (em azul) e de periódicos (em vermelho) publicados no regime de acesso aberto entre 1993 e 2009 (fonte: Mikael Laakso et al., PLoS One, 2011).

A discussão sobre acesso aberto à ciência é relevante no Brasil, país em que uma parte considerável da produção científica é bancada pelo poder público, com recursos de agências de fomento federais (Capes, CNPq, Finep) ou estaduais (Fapesp, Faperj etc.). Nada mais legítimo, portanto, que o cidadão que financia essas pesquisas com seus impostos tenha livre acesso aos seus resultados. No entanto, nem sempre é o caso: parte da produção é publicada em revistas que cobram caro pelo acesso – em alguns casos, um único texto é vendido por 50 dólares.

O paradoxo não tem solução fácil, porque muitos dos periódicos de maior impacto, nos quais os pesquisadores almejam publicar seus trabalhos, são de acesso restrito – a começar pelas duas revistas científicas de maior visibilidade, Science e Nature.

É verdade, dirão alguns, que parte da produção científica nacional é veiculada num dos 261 periódicos brasileiros reunidos no portal SciElo, todos de acesso livre. Outros alegarão também que muitos pesquisadores do país têm acesso aos artigos de dezenas de milhares de periódicos de acesso restrito por meio do portal de periódicos da Capes, que beneficia cientistas vinculados a universidades e centros de pesquisa brasileiros. No entanto, essa iniciativa cobre um número limitado de publicações tem alcance restrito: para o pesquisador independente e para o contribuinte curioso, o acesso a parte da ciência financiada pela sociedade brasileira continua custando caro.

Um exemplo que pode servir de modelo às instituições brasileiras é o do NIH (sigla em inglês para Institutos Nacionais de Saúde), agência federal norte-americana que custeia pesquisas na área de medicina e saúde. Desde 2008, os resultados de todos os estudos financiados pelo NIH têm que estar disponíveis ao público no máximo 12 meses após a publicação.

Em tempo: quem tiver interesse pelo tema e disposição para encarar um longo texto em inglês não deve perder o artigo do jornalista David Dobbs publicado em maio em seu blog no site da Wired. O autor conta a história do biólogo John Eisen, que queria prestar uma homenagem ao pai morto recentemente disponibilizando na web sua obra científica completa, publicada em parte em periódicos de acesso restrito. Os obstáculos que ele encontrou para levar a ideia adiante são o ponto de partida para uma discussão bem abrangente dos principais desafios da ciência de acesso livre hoje.

Foto: sxc.hu/michag 

Assine nossa newsletter

Toda sexta-feira enviaremos uma seleção de conteúdos em destaque na piauí