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    Erica Rivas em cena do filme argentino

questões cinematográficas

Relatos selvagens e O ciúme – excesso e sobriedade

Um mesmo cinema do Rio exibe atualmente em sessões alternadas Relatos selvagens, do argentino Damián Szifron, e O ciúme, do francês Philippe Garrel. O acaso aproximou filmes que à primeira vista parecem antitéticos, um fundamentado no excesso em cores densas, o outro na sobriedade em preto, branco e gama de cinzas. Mas, na verdade, à violência do primeiro se equipara ao desespero do segundo e eles acabam se aproximando ao mostrarem que resta pouco lugar no mundo para a delicadeza.

| 24 nov 2014_14h27
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Relatos selvagens

Exibidos no Rio em sessões alternadas, Relatos selvagens, do argentino Damián Szifron, e O ciúme, do francês Philippe Garrel, podem ser assistidos no mesmo cinema, um em seguida ao outro, nessa ordem ou invertendo o programa duplo. O acaso aproximou filmes que à primeira vista parecem antitéticos, um fundamentado no excesso em cores densas, o outro na sobriedade em preto, branco e gama de cinzas, ambos lidando bem com seus respectivos estilos. Mas, na verdade, à violência do primeiro se equipara o desespero do segundo e eles acabam se aproximando ao mostrarem que resta pouco lugar neste mundo para a delicadeza.

Se alguém for assistir aos dois filmes de uma vez, é recomendável ver primeiro Relatos selvagens. Szifron é despudorado, transitando entre farsa, humor negro, conto moral e grand guignol. Visto logo depois do relato em tom menor de O ciúme, o choque emocional pode ser demais para o espectador desprevenido.

Os 122 minutos de Relatos selvagens são divididos em 6 esquetes autônomos de durações variadas, sem separação entre um e outro, exceto no caso do que abre o filme, antecedendo o título. Começando pelo mais curto, a vingança perpassa todos. Bem mais breve, os 77 minutos de O ciúme são divididos em duas partes de durações aproximadamente iguais nomeadas de forma enigmática (“Eu cuidei dos anjos” e “Faíscas em um barril de pó”). O tema de Garrel, claramente indicado no título, de início parece motivar apenas as personagens femininas, Clothilde (Rebecca Convenant) e Claudia (Anna Mouglalis), mas acaba possuindo Louis (Louis Garrel).

Uma diferença notável entre Relatos selvagens e O ciúme é o foco de Szifron sempre estar nos momentos fortes da ação, enquanto Garrel se volta para o que antecede e sucede os eventos. Exemplar desse procedimento é a marcação que leva Louis para trás da parede, onde pode ser ouvido, mas não é visto no momento máximo do seu desespero.

Szifron domina melhor os episódios mais curtos e acaba caindo na sua própria armadilha. Passado o espanto inicial, uma vez estabelecido o código de Relatos selvagens, a resolução de cada história se torna repetitiva. O ponto alto do filme é a menção ao “crime passional” feita antes da metade, no final do terceiro esquete, quando ainda faltam outros três. Ainda assim, a empatia com o espectador é assegurada, pois dificilmente alguém não terá sido levado a se exasperar, enfrentado situações semelhantes às do filme, e tido o desejo inconfessável de reagir como seus personagens.

Quanto ao ciúme que domina o filme de Garrel, não é preciso mencionar a facilidade para todos, mulheres e homens, se relacionarem com ele.
 

 
Anna Mouglalis e Louis Garrel em cena do filme francês O ciúme

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