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    ILUSTRAÇÃO: PAULA CARDOSO

questões eleitorais

Ritzel, Ritz, Wilten… Confirma

No Rio, maioria de eleitores do ex-juiz Witzel ouvidos pela piauí só soube da sua existência a dias ou horas de ir votar; Bolsonaro explica

Tiago Coelho | 10 out 2018_16h41
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“Eu ouvi falar dele no domingo, na fila de votação”, disse Maicon Jonathan, de 21 anos, sobre seu voto em Wilson Witzel, candidato ao governo do estado do Rio de Janeiro pelo Partido Social Cristão, o PSC. Quando saiu para votar no dia 7 de outubro, Jonathan não tinha um nome para governador e nem estava disposto a apoiar os veteranos que disputavam o cargo e que, segundo o rapaz, eram quase todos envolvidos em denúncias de corrupção.

Conversando com outros eleitores na longa fila que se formou em sua seção eleitoral, Jonathan, desempregado, ouviu o nome do tal “juiz federal”, novato no cenário político e que não aparecia em denúncias de corrupção. Acreditou ter encontrado o que procurava.

Na véspera da votação, dia 6 de outubro, a última pesquisa Ibope mostrava Eduardo Paes na liderança com 32% de intenção de votos e Romário com 20%. Witzel aparecia na terceira colocação, empatado com Índio da Costa com 12%. O resultado das urnas apuradas, no dia seguinte, reservava uma surpresa: o ex-juiz federal que nunca havia disputado uma eleição foi para o segundo turno como o candidato mais votado. Com 41,3%, superou Eduardo Paes, favorito nas pesquisas durante a campanha eleitoral, e que ficou com 19,6% dos votos válidos.

Nesta terça-feira, dois dias depois da eleição, conversei com vinte e um eleitores de Wilson Witzel em dois bairros cariocas onde ele foi bem votado: catorze entrevistados em Santa Cruz (onde 33% dos eleitores votaram nele), na Zona Oeste, e sete em Madureira (30% do eleitorado votou nele), no Mercadão, principal comércio popular do subúrbio carioca. Foram oito mulheres e treze homens.

Incluindo Maicon Jonathan, que decidiu na fila, dos vinte e um eleitores de Witzel que entrevistei, dezessete souberam da existência do candidato do PSC na semana anterior à votação. E quatro afirmaram ter decidido votar nele com pelo menos um mês de antecedência.

O debate da Rede Globo, cinco dias antes do pleito, foi importante para popularizar a figura até então pouco conhecida de Witzel. Quatro dos entrevistados que decidiram votar no ex-juiz na última semana disseram ter descoberto o candidato do PSC após sua performance no horário nobre da Globo – em que ele alardeou o apoio de Jair Bolsonaro. Seis eleitores disseram ter conhecido o candidato naquela semana por meio de Facebook e WhatsApp. Os outros, em menor número, souberam da campanha de Witzel pelo horário eleitoral gratuito, carreatas e corpo a corpo nas ruas ou indicação de terceiros.

O paraense Arlendouglas Leite de Souza, de 22 anos, por exemplo, ficou sabendo do candidato dois dias antes da votação. Witzel fez um corpo a corpo no Mercadão de Madureira, onde Souza trabalha como estoquista, e pôde então conhecer o candidato que nem sequer sabia quem era. “Ele disse que ia reduzir impostos e cuidar da segurança. O Rio está perigoso, então decidi votar nele.”

Em seus relatos, os entrevistados citam quatro aspectos da campanha de Witzel que atraíram os seus votos. Usar o cargo de juiz associado ao seu nome na campanha lhe conferiu credibilidade; assumir um discurso duro de combate à criminalidade como política de segurança pública; ser sangue novo no cenário político e não ser alvo de denúncias de práticas de corrupção. As palavras novo, novidade, renovação, mudança e diferença foram mencionadas em quase todas as entrevistas.

Recente na cena política carioca, o candidato tem sobrenome que costuma enrolar a língua do eleitor. Quatro disseram não saber pronunciar. Outros arriscaram: Ritzel, Ritz, Wits e Wilten. Metade dos eleitores acertou. E um deles ficou só com o “juiz federal”. “Pra mim, ele é o Wilson Juiz Federal”, disse Neiva Lopes, dona de casa de Santa Cruz, retirando um santinho da bolsa, em que se lia, em letras grandes: “Wilson Juiz Federal.”



Santa Cruz tem 217 mil habitantes e é o bairro carioca com um dos piores indicadores de pobreza, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Os moradores testemunham constantemente a troca de tiros entre milicianos e traficantes do bairro. Dentro de um ônibus do BRT que chegava à estação final, no Centro Comercial de Santa Cruz, o vendedor de balas anunciou em tom gaiato: “Lá fora a bala come, aqui dentro é você que come a bala.”

Ao desembarcar em Santa Cruz, deparei-me com Darlene de Oliveira, moradora do bairro e operadora de caixa em uma loja de tecidos. Ela disse que estava no trabalho quando Witzel surgiu fazendo corpo a corpo, a menos de duas semanas da eleição. “Ele explicou as propostas, disse que iria escolher três escolas do município para virar escolas militares. E que cuidaria da segurança do bairro, que para mim é muito importante. Antes dele aparecer eu ia votar no Eduardo Paes, mas foi surgindo tanta história de roubalheira contra ele que desisti”, contou Oliveira.

Entre os 21 eleitores de Witzel, a metade apontou a segurança pública como sua principal plataforma política. Investimento na saúde pública foi a segunda mais citada. Seguida de desemprego, com três menções. Bolsonaro foi lembrado pelos eleitores de Witzel como seu principal aliado e apoiador. Ciro Gomes foi a escolha para presidente de quatro eleitores de Witzel. Dois escolheram Haddad e Cabo Daciolo. E quinze eleitores do candidato do PSC declararam voto em Bolsonaro.

O seu trabalho como juiz foi mencionado sete vezes. “Ele é juiz, conhece as leis, é íntegro”, disse Valter Teixeira, um comerciário de 52 anos. “Acho que ele é uma das pessoas mais indicadas, com seriedade. Um advogado que estudou para honrar a lei e nunca mentir”, disse Gabrielle Gomes, de 20 anos, moradora da Praça Seca, na Zona Oeste. “Votei nele porque era juiz federal”, disse o paraense Leite de Souza.

A Zona Norte do Rio é uma região da cidade historicamente conflagrada por tiroteios entre traficantes e policiais militares. Assim como em Santa Cruz, o sentimento de insegurança dominou os relatos dos moradores da Zona Norte. Mas foi ali que pela primeira vez o conservadorismo religioso foi associado ao candidato Witzel.

“Eu não ia votar para governador”, disse Damiana Peçanha. “Acabei votando por indicação dos irmãos da igreja que frequento. Vou votar nele porque é um homem de Deus”, disse a auxiliar de serviços gerais hospitalar, de 46 anos, mãe de duas filhas e frequentadora da Igreja Internacional da Graça de Deus.

“Votei pensando numa linha de pensamento de quem é contra a ideologia de gênero. Tem que entrar a bancada inteira”, disse Peçanha, que votou em Bolsonaro e em deputados e senadores que também fossem contra o que ela chama de ideologia de gênero – um termo usado por religiosos para definir a discussão que se dá no campo progressista sobre o gênero com o qual uma pessoa se identifica.

Reginaldo Barbosa é um pastor evangélico de Nova Iguaçu, também eleitor de Witzel. Ele soube da existência do ex-juiz no debate da Globo e diz ter criado “simpatia instantânea”. “Ele passa seriedade”, afirmou. Barbosa disse que, em 22 anos de ministério, jamais usou o púlpito da igreja para fazer proselitismo político, mas decidiu que “o momento pedia uma posição” e se manifestou diante dos fiéis pedindo voto para Jair Bolsonaro. “Não voto no Bolsonaro pela religião dele. Muitos religiosos de peso como Marcos Feliciano e Silas Malafaia apoiam não por ele ser evangélico, mas pela visão de vida dele. Ele defende a família”, justificou. “Eu pediria voto para o Witzel também, mas não deu tempo. Eu soube dele em cima da hora.”

 

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