Os entusiastas da ciência publicada em periódicos de acesso gratuito comemoraram esta semana o anúncio do lançamento de uma nova revista aberta. Com previsão de estreia no segundo semestre, a promete cobrar dos autores uma taxa única de publicação de 99 dólares, até trinta vezes menor do que a praticada por periódicos que adotam o mesmo modelo de custeamento.
Em parte das revistas abertas – o exemplo mais emblemático é o das publicações do grupo PLoS (sigla em inglês para Biblioteca Pública de Ciência) –, os custos editoriais são transferidos dos leitores para os autores, que pagam uma taxa para publicar um artigo. A ideia por trás dessa mudança é que esses custos passem a ser incluídos nos projetos de pesquisa e absorvidos pelas agências que os financiam. Ainda assim, a medida onera pesquisadores independentes e de países com menos recursos para a ciência.
As taxas de publicação cobradas pela PLoS vão de 1300 a 2900 dólares [de 2500 a 5700 reais], dependendo da revista em que se quer publicar. A PeerJ promete uma redução radical nesses valores com uma cobrança única de 99 dólares [190 reais]. Mais do que uma taxa de publicação a ser paga para cada artigo, ela dará aos pesquisadores o status de associados à nova revista e permitirá que submetam um número ilimitado de estudos.
O valor “reflete a diminuição dramática nos custos de publicação acarretada pela tecnologia atual”, segundo o site da , que oferece poucos detalhes sobre como será a nova publicação – foi anunciada para as próximas semanas uma explicação detalhada de seu funcionamento. “Taxas de assinatura faziam sentido num mundo pré-internet, mas hoje elas apenas freiam o progresso da ciência”, afirma o site. “É hora de mudar isso.”
A PeerJ deve ser capitaneada por Peter Binfield, editor da PLoS One, carro-chefe do grupo PLoS (seu desligamento foi anunciado esta semana). A nova revista promete tornar públicas as avaliações dos artigos no processo de revisão por pares – um tipo raro de transparência no ambiente da publicação acadêmica. Oferecer acesso ao material de apoio usado na elaboração dos artigos científicos e tornar seu conteúdo acessível a leigos também estão entre os objetivos da , segundo um anúncio feito no blog da revista.
O lançamento da nova revista é uma notícia a ser festejada, mas ela tem pela frente a difícil tarefa de conquistar relevância editorial e se tornar uma opção atraente para os cientistas. A reputação de um periódico não se constrói da noite para o dia. Lançada em 2006, a PLoS One tem um fator de impacto de 4,411 (o índice é usado para calcular a influência das revistas científicas). Nature e Science, dois dos periódicos multidisciplinares de maior prestígio, têm um fator de impacto de 30,98 e 29,78.
Se a PeerJ de fato emplacar, será um marco importante na história da publicação acadêmica. O anúncio do seu lançamento se dá num o momento de pressão crescente para que a ciência se torne aberta de uma vez por todas. Enquanto isso, continua crescendo o número de adesões ao manifesto The Cost of Knowledge: já são mais de 11 mil os signatários da petição capitaneada pelo matemático Timothy Gowers para defender o boicote acadêmico à Elsevier, maior editora de periódicos científicos do mundo.
(foto: The Consumerist – CC 2.0 BY)
Leia também:
Em tempo real
Pé de guerra
Raio X da ciência aberta