Sem pena
Sem pena – relevância e carências
Há temas cuja relevância, por si só, parece sustentar filmes que os elegem como foco. Esse é o caso do sistema judicial e prisional brasileiro – arbitrariedade, lentidão e desrespeito mantêm mais de 40% da população carcerária presa sem julgamento. O tema foi abordado no documentário Sem pena, dirigido por Eugênio Puppo, que recebeu do júri popular o prêmio de melhor filme no 47º Festival de Brasília.
Há temas cuja relevância, por si só, parece sustentar filmes que os elegem como foco. Esse é o caso do sistema judicial e prisional brasileiro – arbitrariedade, lentidão e desrespeito mantêm mais de 40% da população carcerária presa sem julgamento.
Ao receber, em setembro, o prêmio de melhor filme atribuído pelo júri popular, no 47º Festival de Brasília, , dirigido por Eugênio Puppo, teve reconhecido esse mérito de tratar do atentado que é cometido contra os detidos, chamando atenção para essa perene mazela social brasileira.
Tão importantes, ou mais, porém, do que a relevância do tema são aspectos sem os quais nenhum documentário resulta plenamente satisfatório. Entre outros, o fato de não interrogar o que observa, limitando-se a fazer constatações; e também a unidade da opção formal adotada.
Assistindo a é difícil evitar a incômoda impressão de que o diretor se conforma em constatar a situação da população prisional, sem buscar as causas da perpetuação dessa tragédia. Além disso, em certos momentos altera o estilo dos enquadramentos da grande maioria das sequências.
Eugênio Puppo recorre a poucos depoimentos, longos e em voz off, sem revelar no transcurso do documentário a identidade de quem fala. O fato de serem poucos e longos lhes dá força. Por outro lado, não fica claro se preservar a identidade das pessoas detidas resultou de uma exigência legal ou se foi uma decisão do diretor. Além da descorporificação das vozes, de forma geral quem aparece só é filmado da cintura para baixo. O efeito dessa dupla despersonalização é poderoso. Pena é essa opção ter sido abandonada em alguns instantes, enfraquecendo .
Vale reproduzir o trecho de um dos depoimentos ouvidos no filme que tem sido reproduzido na imprensa: “Mostra um condenado aqui dentro que já foi julgado. Nenhum. Isso aqui não existe. Coloca um cavalo aqui dentro e vê quanto tempo ele dura. Ele morre, ele fica louco. O único que suporta isso aqui é o ser humano.”
Público escasso como o dos documentários brasileiros, em geral, e de , em particular, aliado à pequena repercussão que conseguem obter indicam a falta de eficácia do documentário de denúncia social. Em meio à avalanche de espetáculos oferecidos a cada semana, poderia ser tomado como sintoma de que é mais do que hora de repensar o papel e o lugar desse gênero de filme.
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