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questões musicais

Sinais de fumaça

Vou tentar dar uma palhetada na memória das minhas recordações musicais. A ordem cronológica dos fatos e feitos pode estar meio embaralhada. E, esse depoimento, sujeito a esquecimentos de músicos, músicas e bandas no final do período. Mas lá vai.

Lembro que, pela porta da cozinha, vinha música de programas policiais como o Patrulha da cidade: hora que escorria sangue do rádio com casos verídicos sendo dramatizados por locutores e atores. Eu gostava das vinhetas de abertura com prefixo musical e sonoplastia de sirenes, tiros, gritos e etc.

Evandro Mesquita | 01 nov 2011_14h22
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Vou tentar dar uma palhetada na memória das minhas recordações musicais. A ordem cronológica dos fatos e feitos pode estar meio embaralhada. E, esse depoimento, sujeito a esquecimentos de músicos, músicas e bandas no final do período. Mas lá vai.

Lembro que, pela porta da cozinha, vinha música de programas policiais como o : hora que escorria sangue do rádio com casos verídicos sendo dramatizados por locutores e atores. Eu gostava das vinhetas de abertura com prefixo musical e sonoplastia de sirenes, tiros, gritos e etc.

Desse rádio também vinham coisas interessantes como Roberto Carlos, Erasmo. Lembro até hoje da primeira vez que ouvi Calhambeque. Adorei aquela história com humor e uma levada gostosa. Foi também no rádio da cozinha que ouvi Moreira da Silva cantando o Rei Do Gatilho. Fiquei apaixonado, era uma música… um filme… também com sonoplastia, tiros, cavalos correndo e muito humor na primorosa interpretação do extraordinário Morengueira.

Meu pai tocava violão clássico e, nos finais de semana ou à noite quando ele chegava do trabalho, praticava durante horas aqueles exercícios bonitos e chatos. Alguns sábados e domingos acordávamos a som da vitrola da sala executando um André Segovia, Dilermano Reis, Baden Powell, Jacob do Bandolim e, minha mãe, além da Amália Rodrigues era apaixonada por Tom, Vinícius, Chico, Dorival, Noel Rosa, Ataulfo Alves, Ciro Monteiro, Eliseth Cardoso, Elza Soares, Miltinho, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Jair, Elis, Nara, etc. Era um cardápio riquíssimo e variado Graças a Deus. Ela mãe também adorava fado e cantava, para mim e minhas irmãs, sucessos de Amália Rodrigues. Estranhava, apesar das bonitas melodias, achava que ela estava sacaneando a gente com o sotaque português.

Tive aulas de violão clássico mas logo desisti e querendo resultados mais rápidos, inclusive (ou principalmente), com as meninas. Tirava canções de Roberto, Beatles, Stones. Depois de longos cursos, aprimorei meu inglês tentando saber o que o Bob Dylan falava nas canções. Como adolescente, era a hora de ouvir e falar. Palavras, poetas, melodias e músicos (até hoje sempre que vejo uma novidade, dou Graças a Deus de Bob Dylan estar vivo).

Acho que o primeiro show que assisti foi do Juca Chaves. Gostava de vê-lo descalço, violão nas costas e com humor: críticas políticas e sociais. E ainda tinha um Jaguar.

Gostava também de um LP do Ari Toledo, que ele cantava Pau de Arara, Descobrimento do Brasil, numa versão ao vivo com Elis Regina e a plateia se acabando de rir. Fiquei impressionado com o poder da música de também fazer rir. Ouvia impressionado como ele tocava e “cantava” aquelas histórias hilárias. Pena que Ari Toledo tenha se tornado um contador de piadas chatas e abandonado o violão nas suas apresentações. ”Does humor belongs to músic?” perguntava Frank Zappa mais tarde.

Na discoteca da nossa vitrola Silverstone, comprada na Sears em suaves prestações, entre LPs de trilhas sonoras como Hatari (Henry Mancini), A Noviça Rebelde, Hair, Frank Sinatra, Nat King Cole, havia LP de efeitos sonoros que impressionava pela qualidade de gravação e do estéreo, coisa rara em tempos de mono.

Entre esses, dois LPs de peças teatrais da época. Liberdade Liberdade e Opinião com Zé Ketti, João do Vale e Nara Leão. Fiquei apaixonado cheguei a decorar cenas e músicas. Até a descoberta de Jorge Ben com o clássico LP Samba Esquema Novo que até hoje tem um lugar de destaque entre meus preferidos. Assim também como Simonal, que também reinou nas pick ups da minha sala, do meu quarto e das primeiras domingueiras que comecei a frequentar. Era uma mistura interessante Simonal com Ottis Redding, Jorge Ben, Trini Lopes, Johny Rives, etc.

Acho que foi assistindo Essa Noite Se Improvisa, um programa de TV sobre música popular, que minhas preferências musicais foram ganhando personalidade. Lembro que torcia e me impressionava com Caetano despenteado e arrasando nas respostas musicais. Torcia também para Gil e Chico, que também eram muito feras.

Na época (anos 60) rolavam shows interessantes como Chico e MPB4, Ari Toledo, Simonal, Juca Chaves, Zimbo Trio, Caetano, Gil, Baden e Vinícius, Gal, Tom Zé e os Brasões. Cheguei a assistir Stanislaw Ponte Preta e Quarteto em Cy.

O Fino da Bossa, programa de TV, comandado por Jair e Elis, era um painel sensacional da MPB. Viraram discos e encontros antológicos. Para saber a contribuição de Lennie Dale aos shows daqui é imprescindível assistir ao ótimo documentário sobre os Dzi croquettes. Vale a Dica.

Lembro que o primeiro Compacto que eu quis comprar, até pela foto da capa, porque não tinha escutado ainda, foi dos Beatles, Shes loves you.

Aí vieram os festivais da Record. Chico, Gil, Caetano, Vandré, Jair Rodrigues e Mutantes. Que maravilha descobrir os Mutantes! Aguardava um novo disco deles com muita ansiedade para renovar a agradável sensação de bem estar. De abrir, penetrar e degustar um disco novo dos Mutantes!

E também do Caetano, Chico, Gil, com a mesma ansiedade e curiosidade que aguardava novidades dos Beatles e dos Stones. Época rica em descobertas. Led Zeppelin, The Who, Pink Floyd entre Paulinho da Viola, Cartola, João Gilberto, Martinho e muitos outros.

As trilhas sonoras dos filmes de surfe que rolavam nas internas do pessoal da praia, sempre trouxeram ótimas novidades lá de fora.

Vi Mutantes no Monte Líbano e no Teatro Casa Grande. Tinha paixão platônica pela Michele dos Mamas and Papas e pela Rita Lee! Decorei e sei até hoje o discurso do Caetano em É Proibido Proibir no festival. Os discos de Gil, Caetano e o movimento da Tropicália foram luzes inspiradoras para todo sujeito que não era ruim da cabeça nem doente do pé!

Shows inesquecíveis do Caetano com Macalé. No Teatro Tereza Raquel, Gal com Lanny na guitarra como um Hendrix, assim como Pepeu com os Novos Baianos numa mistura perfeita entre o samba e o rock. Nos shows dos Novos Baianos tinha um momento que ficavam só Pepeu na guitarra, Dadi no baixo e Jorginho na bateria e rolava um som pra Jimmy Page nenhum botar defeito.

Sou amigo do Dadi desde a adolescência e visitava tanto o sítio em Vargem Grande, jogando bola contra e a favor do time deles, que saí na capa do disco Novos Baianos Futebol Clube. Tive o privilégio de assistir a muitos ensaios dos Novos Baianos no galinheiro do sítio e de comer a moqueca que Baby e Charles Negrita faziam com amor e axé de raiz. Jogávamos peladas sensacionais no Clube Guanabara, perto do sítio deles com feras como Jairzinho, Paulo Cesar Lima, Geraldo Assobiador, Nei Conceição, Afonsinho, Dé, Fred entre outras feras.

Felipe, o empresário dos baianos, passava com JK na praia, no Píer e recolhia nosso time. Iam uns 9 malucos dentro da mala do JK até Vargem Grande. Com cabelos nos ombros, íamos invisíveis, invencíveis e imortais driblando a ditadura fazendo música e jogando bola. Jogar todas as informações no liquidificador e ver a cara e as cores do som que sairá. Que felicidade! Raros verões como aqueles! Tatuados na alma!

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