Um sincerão do jovem Ferreira Gullar
Numa época em que o costume de escrever cartas parece cada vez mais anacrônico, soa mais remota ainda a noção de cartas conjuntas. Quando vários amigos encontravam-se num mesmo lugar e queriam fazer-se presentes junto a um amigo comum a todos, não era raro mandar-lhe um cartão postal ou uma carta escrita a várias mãos. É o caso da peça reproduzida nesta página, um cartão assinado por cinco intelectuais e artistas e dirigido ao poeta e diplomata Raul Bopp, então embaixador na Suíça e autor do “Cobra Norato”, de 1927, um clássico do modernismo brasileiro.
Numa época em que o costume de escrever cartas parece cada vez mais anacrônico, soa mais remota ainda a noção de cartas conjuntas. Quando vários amigos encontravam-se num mesmo lugar e queriam fazer-se presentes junto a um amigo comum a todos, não era raro mandar-lhe um cartão postal ou uma carta escrita a várias mãos.
É o caso da peça reproduzida nesta página, um cartão assinado por cinco intelectuais e artistas e dirigido ao poeta e diplomata Raul Bopp, então embaixador na Suíça e autor do , de 1927, um clássico do modernismo brasileiro.
O cartão brasonado (mandado do Rio de Janeiro, em 5 de fevereiro de 1957) é preenchido nos dois lados pela escultora Mary Vieira, que inicia e termina a mensagem conjunta. Traz também mensagens dos escritores e críticos Jayme Adour da Câmara e Oliveira Bastos, do psicanalista Hélio Pellegrino e do jovem poeta Ferreira Gullar, então com 26 anos, único entre os correspondentes que parece não conhecer pessoalmente Bopp. Isso não o impede de participar do cartão com o seguinte parágrafo:
“Bopp, não o conheço: abomino seus poemas de cônsul e considero uma das mais vivas obras da poesia brasileira. está presente hoje. Gullar ”
Ecoando uma apreciação bastante corrente que deprecia a obra tardia de Bopp (seus “poemas de cônsul”), o que certamente desagradou ao diplomata, Gullar talvez achasse que sua manifestação entusiasta a respeito do Cobra Norato justificasse sua nota algo impertinente e provocadora.
Os demais correspondentes evocam 1922 e o Modernismo e Hélio Pellegrino, que também parece conhecer pouco Bopp, abraça-o “em ”.
Ao juntar os amigos talentosos para saudar Bopp, Mary Vieira (que também anuncia sua próxima chegada à Suíça) talvez tenha somente acentuado no velho poeta a frustação (comum a vários escritores e artistas) de ser respeitado apenas por sua produção velha de três décadas…
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