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    Dalton Trevisan em sua antiga casa, na Rua Ubaldino do Amaral, em desenho de Poty: o escritor preferia trabalhar na edícula que mandou construir no quintal e que chamava de “cabana” CRÉDITO: POTY_1992

despedida

Uma carta inédita de Dalton Trevisan

O escritor lamenta em 1956 sua incapacidade de escrever romances

| 09 jan 2025_08h54
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O curitibano Dalton Trevisan – que morreu no mês passado aos 99 anos – publicou cerca de quarenta volumes de contos e apenas um romance, A polaquinha. A obra não entusiasmou a crítica quando chegou às livrarias, em 1985.

Três décadas antes, Trevisan já havia expressado imensa frustração por tentar e não conseguir fazer romances. A confidência está numa carta que o paranaense mandou para o escritor e jornalista mineiro Otto Lara Resende, de quem passou a se corresponder a partir de  1955. Até agora inédita, a carta pode ser lida na edição deste mês da piauí.

“Otto, meu velho, com que tristeza lhe conto: não escrevi o romance. Nunca escreverei um romance”, anunciou Trevisan, no dia 8 de dezembro de 1956. Ele continua:

Desisti da história da Penélope, não judiemos das pobres velhinhas. Imaginei outra que – triste aviso! – eu já tinha escrito, em forma de conto: João e Maria. Noivado de pobre, como você sabe, dura anos, às vezes a mocidade, a graça, a pureza da noiva. O romance seria a história de dez anos do noivado de João e Maria, que nem acabaria em casamento. Fiquei todo arretado, fiz o plano, até a divisão dos capítulos (verdade que eram cinco apenas) e sentei diante da máquina. Estou sentado até hoje: escrevi quando muito cinco linhas… A história é uma beleza, um dia eu lhe conto. Pensei em escrevê-la no tom da história dos dois mudos do The heart is a lonely Hunter [O coração é um caçador solitário], da Carson McCullers, você já leu, Otto? É uma das coisas mais comoventes que já vi. Cada vez que eu ia começar a escrever lia um pedaço (como fazia Stendhal com o Código Civil) e não podia mais. Esse método não dá certo. É uma sonata de Beethoven para quem não sabe mais que assobiar uma polca…

Quando redigiu a carta, Trevisan atuava como advogado na fábrica do pai, que produzia louças. Tinha 31 anos e já gozava de certo prestígio, graças à Joaquim, revista literária que fundou com uma dupla de amigos. 

 Assinantes da revista podem conferir a íntegra da carta neste link.

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