Nos três primeiros pronunciamentos de Jair Bolsonaro depois de eleito presidente do Brasil, duas palavras foram protagonistas: verdade e liberdade. Às 19h36 de domingo, minutos depois de confirmada a vitória, Bolsonaro iniciou uma transmissão para agradecer apoiadores no Facebook. Nos quase oito minutos de fala, repetiu “verdade” seis vezes. Esse foi o terceiro substantivo mais usado pelo candidato durante a transmissão, depois de “Brasil”, usado oito vezes, e “Deus”, repetido sete vezes. Em seguida, em pronunciamento na tevê aberta, o presidente eleito leu um discurso formal, em frente a sua casa na Barra da Tijuca. Neste, um pouco mais longo que o primeiro, repetiu a palavra “liberdade” onze vezes. Este também foi o terceiro substantivo mais usado, atrás de “Brasil”, repetido catorze vezes e “governo”, falado em treze oportunidades. Neste discurso, Bolsonaro também falou “verdade” cinco vezes.
Nuvem de palavras do discurso lido por Bolsonaro e transmitido pela tevê aberta depois de eleito presidente
A piauí comparou as palavras usadas em cinco discursos de Bolsonaro, dois dos mais comentados quando ele era candidato e os três primeiros como presidente eleito. Foram analisadas a live no Facebook neste domingo, primeira fala após o resultado; o discurso de vitória lido para a imprensa, logo em seguida; uma terceira fala, mais curta, também pelo Facebook, duas horas depois; o pronunciamento pela mesma rede social depois do primeiro turno; e um discurso para seus apoiadores na avenida Paulista, também via internet, no dia 21 de outubro. Na análise, levou-se em consideração apenas palavras que tenham significado se usadas sozinhas.
Em todos os pronunciamentos, a palavra mais repetida é “Brasil”. Mas o peso dado à palavra, nos discursos analisados, era maior antes de ser eleito (como se vê abaixo). Quando comentou o resultado do primeiro turno, o então candidato repetiu o nome do país catorze vezes. Na transmissão para apoiadores na Paulista, falou vinte vezes. Neste, as outras palavras mais usadas foram “povo” e “pátria”, ambas repetidas cinco vezes cada. As palavras “liberdade” e “verdade” foram usadas só uma vez neste dia. Cenário diferente da pós-eleição.
Nos seus dois primeiros discursos depois da vitória, Bolsonaro citou a Constituição uma vez em cada pronunciamento, deixando de citar apenas no terceiro, feito mais tarde pelo Facebook. Nos outros dois, antes da vitória, não há menção à palavra. O discurso lido para a imprensa na frente de sua casa foi aquele em que o capitão da reserva mais explorou as variações da palavra “democracia”. O nome do regime foi citado uma vez, durante a fala “faço de vocês minhas testemunhas: esse governo será defensor da Constituição, da democracia e da liberdade. Isso não é uma promessa. É um juramento a Deus. A verdade vai libertar esse país”. Variações do termo, como “democrático” e “democrática”, apareceram duas vezes cada em outros momentos do discurso, e “democráticas”, uma vez. A soma desses termos é bem superior a qualquer referência a democracia nos dois discursos feitos quando estava em campanha. Na fala transmitida na avenida Paulista, Bolsonaro reproduziu só uma vez as palavras “democrática” e “democracia”. Na live do Facebook logo após a confirmação do resultado (que se vê abaixo), no pronunciamento depois do primeiro turno e na fala mais curta deste domingo não houve menção às palavras.
A primeira live de Facebook transmitida por Bolsonaro depois de eleito
Nos pronunciamentos deste domingo é possível perceber uma mudança no tom do presidente eleito. Na live feita assim que confirmada a vitória, Bolsonaro falou em “socialismo”, “esquerda” e “extremismo” (citou uma vez cada uma). Já no discurso oficial, para a tevê, ele não repetiu as palavras, e nem variações delas. Por outro lado, no discurso que leu, usou “seringueiro”, que não aparece em nenhuma das outras falas – o que também acontece com “opinião” e “opiniões”, ditas uma vez cada. Os dois primeiros discursos após a eleição citam “libertará”, com duas variações na fala oficial: “libertaremos” e “libertar”. Variações dessas palavras não apareceram nos dois discursos anteriores à eleição.
“Pacificar” e “unir” aparecem no terceiro pronunciamento feito pelo candidato, na noite de domingo, duas horas depois de ter vencido a disputa. Foram ditas, cada uma delas, uma vez pelo presidente eleito.