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    Manifestantes acessam livremente o prédio do Congresso Nacional, em Brasília, para pedir golpe de Estado - Foto: Luigi Mazza

anais da extrema direita

Vias abertas para golpistas

No caminho dos bolsonaristas que depredaram Congresso e STF havia ambulantes, policiais fazendo fotos e dando informação – só não havia bloqueio

Luigi Mazza | 08 jan 2023_19h43
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Às quatro e meia da tarde deste domingo (8), quem quisesse subir a rampa do Congresso Nacional para defender um golpe de Estado e, no caminho, arremessar uma pedra contra os vidros do prédio, não teria dificuldade. A multidão de bolsonaristas invadiu o Congresso e a Praça dos Três Poderes por volta das três da tarde. Uma hora e meia depois, não havia qualquer bloqueio para quem quisesse se juntar a eles – a não ser o bloqueio para entrada de carros, que não podiam entrar na Esplanada dos Ministérios. O caminho era tão fácil que havia ambulantes com carrinhos vendendo água e algodão doce na rampa do Congresso.

Na Praça dos Três Poderes, onde ficam o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal, a Polícia Militar reprimiu os radicais bolsonaristas com bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo. Um helicóptero fazia sobrevoos baixos. Ouviam-se estampidos aqui e ali. Mas a cada minuto chegava mais gente pelas vias abertas da Esplanada. Em frente ao Itamaraty, que fica ao lado da Câmara dos Deputados, uma viatura da PM com poucos policiais fazia uma barreira meramente formal. As pessoas entravam e saíam da Praça dos Três Poderes como quisessem. Os policiais, simpáticos, davam informações a quem pedia e não vistoriavam ninguém.

Do mesmo modo, os bolsonaristas desciam livremente pelo gramado que dá acesso ao Palácio do Congresso Nacional. Alguns até de bicicleta. Ao lado da cúpula do Senado (a “tigela” virada para baixo, na parte de cima do Congresso), as grades de metal que deveriam conter o acesso à Praça foram derrubadas. Havia manifestantes deitados ao lado das grades. Eles gritavam para que outros também deitassem, numa tentativa de impedir que os policiais os tirassem dali. Mas, até aquele momento, a polícia passava longe deles.

A multidão puxou o grito de “Eleições limpas! Eleições limpas!”. Em seguida, “Lula ladrão, seu lugar é na prisão”. As pessoas que ocupavam a rampa e o gramado em frente ao Congresso convocavam as demais – que estavam numa área mais alta – para se juntar a elas. “Desce! Desce!” Alguns bolsonaristas rezavam. Uma mulher cantava um hino gospel.

 

Uma dezena de policiais militares, protegidos por uma barreira de contenção, assistia à cena sem fazer nada, em frente ao Palácio da Justiça – que fica em frente ao Itamaraty, colado no Senado. Foram alvo de xingamentos de alguns bolsonaristas que passavam ali. “Canalhas! Canalhas!”, gritou uma mulher vestida de verde e amarelo, exigindo que os policiais aderissem ao ato golpista. “Vocês estão comendo lixo!”, disse outra. 

Um pequeno grupo de jovens soldados que estava na portaria do Ministério da Defesa, vestindo camisetas e calças camufladas, também foi assediado com gritos de “Exército de bosta!” Um homem gritou: “Manda general para aquele lugar!” Mas, em geral, a relação entre policiais e golpistas foi harmônica. Vídeos publicados nas redes sociais mostram alguns agentes batendo papo e tirando selfies com bolsonaristas.

Já eram quase sete da noite – mais de três horas depois do início da invasão – quando a polícia tirou o último invasor de cima do Congresso. Até as 19h30, a Polícia Civil havia prendido 64 manifestantes. Também foram registrados ao menos dois casos de agressão e roubo a jornalistas, um do portal Metrópoles e outro da Folha de S.Paulo.

O presidente Lula decretou intervenção federal na segurança pública do Distrito Federal. A Advocacia Geral da União pediu a prisão de Anderson Torres,  ex-secretário de Segurança Pública do DF, exonerado do cargo durante a tarde de hoje. Torres foi ministro da Justiça de Bolsonaro.

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