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Violência policial

A violência da repressão policial às manifestações de rua, voltada para estudantes em maioria, é apenas uma faceta menos frequente, salvo em momentos excepcionais, da brutalidade policial. As dezenas de milhares de manifestantes que foram às ruas na semana passada no Rio de Janeiro podem ser vislumbradas no vídeo 100.000 Rio de Janeiro•Brasil, trabalho coletivo realizado pela Três Filmes e veiculado a quente pela internet. Novas formas de documentário e de intervenção. Num momento como este, questões cinematográficas ficam em segundo plano.

Eduardo Escorel | 24 jun 2013_12h58
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Todo comentário sobre as manifestações de rua que vêm ocorrendo deveria começar denunciando a violência policial. Ou, ao menos, terminar assim, como fez Luiz Eduardo Soares no artigo “O que vem depois da queda da tarifa?” (O Globo, Prosa, 22.6.2013, p.3):

“É urgente incluir na agenda a refundação do modelo policial brasileiro, para estender à segurança pública a transição democrática. Polícia é tema decisivo. Se o relacionamento entre a sociedade e o Estado está no epicentro do movimento, as polícias também estão. Afinal, o policial uniformizado na esquina é a face mais tangível do Estado para a maior parte da população. Não haverá democracia enquanto o Brasil for campeão de brutalidade policial contra negros e pobres.”

A violência que vem ocorrendo nas ruas, voltada para estudantes em maioria, é apenas uma faceta menos frequente, salvo em momentos excepcionais, da brutalidade policial.

Ao abusarem do monopólio da violência que o Estado detém, os governantes perdem sua legitimidade.

E governos ilegítimos representam uma grave ameaça para a democracia.

Responsáveis em última instância pela violência policial, os governadores dos estados devem ser responsabilizados pelos atos dos seus subordinados.

Ao não condenarem a violência policial, os governadores deixam patente sua própria fragilidade.

Diante do descalabro geral, a única surpresa com a eclosão e amplitude das manifestações deveria ser que só tenham ocorrido agora e que não sejam mais frequentes.

Considerar as manifestações inesperadas só é possível se a passividade for assumida como característica inata dos brasileiros.

O grau de insatisfação que as manifestações revelam confirma o testemunho “assombrado e comovido” de Luiz Eduardo Soares, no mesmo artigo citado acima: “Assisti a uma cena inverossímil: lado a lado, 100 mil pessoas em festa celebravam o estar ali e evocavam o que ainda não é, enquanto, silenciosa e inadvertidamente, sepultavam o que havia sido, seguindo o doloroso cortejo fúnebre do PT.”

As 100 mil pessoas festejando a que Luiz Eduardo Soares se refere podem ser vislumbradas na parte inicial do video 100.000 Rio de Janeiro•Brasil, trabalho coletivo de Leonardo Harim, Renan Silva, JV Santos, Jefferson Vasconcelos, Wagner Novais, Gustavo Guimarães, Eduardo Santos, Jonas Rosa, Marcelo Scofield, Leo Lima, Thomás Oliveira, Felipe Vianna, Micael Hocherman, Rafael Martinau, realizado pela Três Filmes e disponível na internet.

Trabalho coletivo, veiculado a quente pela internet. Novas formas de documentário e de intervenção. Num momento como este, questões cinematográficas ficam em segundo plano. Assim como considerações necessárias sobre formas de atuação política. 

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