Virada 2013-14
A boa notícia da virada foi que às 15 horas do último dia de 2013 um depósito viabilizou o projeto do filme Martírio (link para posts que tratam do assunto). 918 colaboradores completaram os 80 mil reais necessários, tornando possível, inclusive, a realização da grande assembleia da ATY GUASU, entre janeiro e fevereiro, para discutir os rumos do movimento, no momento em que 3 mandatos de despejo pesam sobre as cabeças dos Guarani Kaiowa.
Más notícias não faltaram. Na semana passada, o site da Folha de S.Paulo divulgou imagens de três detentos decapitados no Complexo Presidiário de Pedrinhas, em São Luís.
A boa notícia da virada foi que às 15 horas do último dia de 2013 um depósito viabilizou o projeto do filme . 918 colaboradores completaram os 80 mil reais necessários, tornando possível, inclusive, a realização da grande assembleia da ATY GUASU, entre janeiro e fevereiro, para discutir os rumos do movimento, no momento em que 3 mandatos de despejo pesam sobre as cabeças dos Guarani Kaiowa.
Más notícias não faltaram. Na semana passada, o site da Folha de S.Paulo divulgou imagens de três detentos decapitados no Complexo Presidiário de Pedrinhas, em São Luís. Deixamos de reproduzir o link deliberadamente. Que fique claro: a divulgação das imagens não é a má notícia. Os fatos registrados, estes sim, constituem uma tragédia de proporção catastrófica, mesmo sem serem inéditos. Ao contrário, a tradição brasileira de decapitar é antiga. Um amigo lembrava das atrocidades do Exército em Canudos. E os jornais do fim de semana dão um panorama do descalabro generalizado do sistema prisional, do Rio Grande do Sul a Rondônia, sem esquecer o Rio Grande do Norte. O horror maranhense, porém, não diminui em nada por isso.
Segundo a imprensa, apenas em 2013, 62 presos foram assassinados dentro da penitenciária de Pedrinhas. Chama atenção o cuidado dos presos ao ajustarem o enquadramento para fazerem a gravação. Como se não bastasse, em represália à intervenção policial no presídio, os detentos teriam ordenado ataques a ônibus, em São Luis, e Ana Clara Santos Sousa, de 6 anos, morreu depois ter tido 95% do corpo queimado em um desses ataques.
A divulgação das imagens dos decapitados faz lembrar do filme Inextinguishable Fire (Fogo inextinguível, 1969), no qual o diretor Harun Farocki questiona a culpa dos que desviam o olhar. Como representar o horror? Como mostrar o napalm em ação? “Como podemos mostrar os ferimentos causados por Napalm”, Farocki pergunta.
“Se mostrarmos fotografias de queimaduras causadas por napalm, vocês fecharão os olhos. Primeiro fecharão os olhos para as fotografias. Depois fecharão os olhos para a memória. Depois fecharão seus olhos para os fatos. Depois fecharão os olhos para todo o contexto. Se mostrarmos a vocês pessoas com queimaduras de napalm, feriremos seus sentimentos. Se ferirmos seus sentimentos, vocês se sentirão como se tivessemos provado napalm em vocês, às suas custas. Podemos apenas dar uma ideia de como napalm funciona.”
Fazendo o papel de Thai Bihn Dahn, vítima vietnamita de napalm, ao dar seu depoimento ao Tribunal de Crimes de Guerra no Vietnam, em Estocolmo, o próprio Farocki apaga, em seguida, um cigarro no seu braço esquerdo e completa:
“Um cigarro queima a 400 graus celsius. Napalm queima a 3000 graus celsius. Se os espectadores não querem ter nada a ver com os efeitos do napalm, então é importante esclarecer o que já tem a ver com as razões do seu uso.”
“Chegamos a isto. Somos os campeões do descaso e das suas consequências”, escreveu Luis Fernando Verissimo no seu artigo de domingo (O Globo, 12.1.2014).
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Diante do que ocorre no Maranhão, outras más notícias adquirem coloração rósea.
Um ano depois da desastrada e desastrosa intervenção na Cinemateca Brasileira, ordenada pela ministra da Cultura, Marta Suplicy, as piores previsões se concretizaram. A Cinemateca está praticamente paralisada, mantendo as portas abertas graças à dedicação dos poucos funcionários abnegados que tentam preservar a dignidade da instituição. O novo diretor, Lisandro Nogueira, que assumiu no início de novembro, tem diante de si uma tarefa que parece maior do que sua capacidade – recuperar o dinamismo da Cinemateca que atingiu, na gestão anterior, alto padrão de excelência em múltiplas iniciativas. No momento, o panorama é desolador, estando ameaçado o laboratório no qual alguns milhões de reais foram investidos em equipamentos, mão de obra qualificada e formação de técnicos.
Se algo ainda pode espantar na crise da Cinemateca Brasileira é o fato dela ter sido fabricada pela inépcia do Ministério da Cultura, o que é omitido na matéria da Folha de S.Paulo de sexta-feira (10.1.2014). O leitor desavisado poderá ter a impressão que o Governo procura “salvar” a Cinemateca, quando ele é, na verdade, através da ministra Marta Suplicy, responsável por ter afogado a instituição.
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Sem ser novidade, outra má notícia é a confirmação de que o Vale-Cultura não passe de mais uma miragem. Segundo matéria de Cristina Tardáguila, publicada no Globo (29.12.2013), a “escassez de equipamentos culturais Brasil afora” poderá impedir a redução da “desigualdade de oferta e o consumo de cultura nas cinco regiões do país”. Reproduzindo dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine) a reportagem informa que, enquanto São Paulo tem 869 salas de cinema, o Acre tem apenas quatro, e todas na capital. No Distrito Federal há um cinema por 34,8 mil habitantes, e no Maranhão, um por 319,7 mil.
Faltam salas de cinema no País, e as que existem são ocupadas majoritariamente por filmes importados. No final do ano, o máximo a que chegou a Ancine foi aumentar de 4 dias a obrigatoriedade de exibir filmes brasileiros.
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De miragem em miragem, o cinema segue e o tempo passa. A corrida para as séries de televisão consolidará um mercado de trabalho? Se isso ocorrer, será positivo. Chama atenção, porém, o empobrecimento progressivo dos personagens e das situações dramáticas, mesmo nas mini-séries mais bem realizadas. Houve um tempo em que era possível mencionar “duzentas mil situações dramáticas”. Hoje, mesmo alguns dos bons autores que escrevem para a televisão se satisfazem com situações dramáticas que podem ser enumeradas com os dedos da mão esquerda.
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