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Wagner Moura – um sonhador à solta entre nós

Wagner Moura sonha com os que conciliam experimentação e diálogo aberto com o público, conforme escreve em “Duas pontas”, artigo publicado no Segundo Caderno do Globo nesta segunda-feira (5.8.2013). É claro que ele tem direito a sonhar com o que quiser e só quem tenha competência específica poderia analisar o que está encoberto por seus devaneios. Ainda assim, vale comentar alguns aspectos.

| 06 ago 2013_20h17
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Wagner Moura sonha com os que conciliam experimentação e diálogo aberto com o público, conforme escreve em , artigo publicado no Segundo Caderno do Globo nesta segunda-feira (5.8.2013). É claro que ele tem direito a sonhar com o que quiser e só quem tenha competência específica poderia analisar o que está encoberto por seus devaneios. Ainda assim, vale comentar alguns aspectos.

Em primeiro lugar, chama atenção o fato de Wagner Moura não sentir necessidade de fazer qualquer avaliação de mérito, nem dos que optarão “por um caminho mais experimental”, nem dos que escolherão “um diálogo mais aberto com o público”, para ficar com as duas grandes categorias que ele indica. Ele sugere que essa seja a dicotomia básica do cinema brasileiro e que as duas vertentes têm o mesmo valor.

O pressuposto de Wagner Moura é que “a diversidade é um valor em si, e que esta já é uma marca […] do que tem sido feito no cinema do Brasil […].” Pluralidade, experimentação e diálogo com o público seriam, então, os pilares do que Wagner Moura vê como o estado atual e as perspectivas futuras do cinema brasileiro.

Mas, pensando bem, essas três categorias teriam, de fato, algum valor heurístico? Ou seriam apenas noções gerais, contra as quais ninguém se opõe e cuja reafirmação, além de óbvia, pouco ou nada contribui para entender o que se passa atualmente e quais as perspectivas futuras.

Para Wagner Moura, não haveria “contradição entre discurso crítico e sucesso popular”. Ao negar a existência de contradições e conflitos pressupõe um mundo ideal, desprovido de arestas, sem “limites e preconceitos”,  cuja existência ele diz perceber. É simpático que esse seja seu sonho, mas Wagner Moura deve ser capaz de reconhecer que está longe da realidade.

De passagem, Wagner Moura toca numa questão sensível. Reconhece que “umas [produções] precisem ser mais incentivadas pelo Estado que outras” –  única frase a indicar a existência de interesses divergentes. Mas como não esclarece quais seriam, segundo ele, as produções que precisariam de maiores incentivos, é legítimo ficar em dúvida. Seriam as críticas e que buscam a experimentação, ou as que pretendem ter um diálogo aberto com o público? Desse debate, Wagner Moura se mantém ausente.

Inteligente e sagaz, Wagner Moura sabe, com certeza, que há sim projetos divergentes para o cinema brasileiro. Sua postura bondosa, magnânima e ecumênica apenas encobre a vontade de ficar bem com todo mundo. Postura conciliatória típica de uma arraigada tradição cultural que surpreende encontrar no jovem e brilhante ator que é Wagner Moura.

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