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Walter Robinson e as denúncias de pedofilia que inspiraram o filme Spotlight

Walter Robinson comandou a equipe do Boston Globe que investigou casos de pedofilia na Igreja Católica. O trabalho deu origem ao filme Spotlight, ganhador do Oscar. A última mesa desse primeiro dia da 3º edição do festival teve início com uma leitura de Robinson.

09out2016_09h59
FOTO: TUCA VIEIRA
FOTO: TUCA VIEIRA

Walter Robinson comandou a equipe do Boston Globe que investigou casos de pedofilia na Igreja Católica. O trabalho deu origem ao filme Spotlight, ganhador do Oscar. A última mesa desse primeiro dia da 3º edição do festival teve início com uma leitura de Robinson. Abaixo, um trecho dela:

Repórter investigativo é apenas um nome bom para um bom repórter. Vivemos tentando encontrar histórias que os poderosos querem manter escondidas. Fracassamos muitas vezes. Eles são poderosos. Passei parte da minha carreira tentando encontrar essas histórias.

Nos anos 90, o Boston Globe e outros veículos investiriam em repórteres que poderiam buscar boas histórias. Fui a Paris e acidentalmente encontrei uma boa história. Obras de arte que pertenciam a judeus foram roubadas durante a Segunda Guerra e eram comercializadas sem que sua procedência fosse conhecida. Muitas pessoas compravam as obras ignorando a origem delas. Fiz perguntas que jamais foram feitas. Gente demais fez vista grossa porque preferia não saber.

O mesmo valeu para os casos de abuso. As pessoas sabiam que as crianças eram abusadas pelos padres, mas tinham medo de fazer perguntas. Crianças continuam sendo abusadas porque as perguntas certas não foram feitas. Duzentos e cinquenta padres abusaram de crianças em Boston. As pessoas achavam que havia algo na água de Boston que fazia com que os padres cometessem abusos. Não é verdade. O que acontece é que, em Boston, a história ficou conhecida.

Em seguida, Robinson começou a conversa com Bernardo Esteves, da revista piauí, e Renata Lo Prete, da GloboNews.

Depois da publicação dos primeiros casos de pedofilia, no início de 2002, a redação do Boston Globe passou a receber e-mails de todas as partes do mundo relatando outras ocorrências. “Só em Boston recebemos telefonemas de mais de 300 vítimas. As pessoas queriam contar sua história. Varias dessas vítimas achavam que aquilo só tinha acontecido com elas, aquela tragédia era só elas. Eu mesmo atendi o telefonema de um homem 87 anos que nunca havia contado que tinha sido estuprado por um padre aos 12 anos. Jamais falara do assunto com ninguém nos últimos 75 anos.”

A Igreja tomou a defensiva. “Publicamos mais de 600 matérias. Foram mais ou menos 20 meses de trabalho. O arcebisbo de Boston foi exilado. Quase nenhum bispo ou cardeal sofreu punições severas.”

Robinson sublinhou a importância de uma decisão judicial que lhes garantiu acesso aos documentos da igreja. “Um advogado fez uma moção para acessar esses arquivos. Uma juíza, católica, decidiu a nosso favor. Isso acabou abrindo um precedente. Em todos os outros casos, tivemos acesso aos documentos pessoais dos padres. Os documentos deixaram claro que principal objetivo da Igreja era manter isso em segredo.”

No começo da investigação, a equipe do Boston Globe trabalhou sigilosamente. “A gente tentou manter segredo em nossa própria redação. Mas o cardeal descobriu a investigação em dias. E me ligou. Eu disse que estava fazendo uma reportagem e, quando fosse a hora certa, ia entrar em contato.”

Robinson também ressaltou dois pontos que considera cruciais no processo de apuração de uma reportagem: “Você precisa ser um bom ouvinte para ser um bom repórter. E-mails e telefonemas muitas vezes não funcionam, é importante fazer entrevistas pessoalmente, olho no olho.”

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