Sergio Firmeza Machado na festa de 50 anos de José Olympio Pereira em São Paulo em 2012 FOTO: ROGERIO LACCANA_EDITORA GLAMURAMA
Os irmãos Machado
Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, aderiu à delação premiada para proteger três dos seus quatro filhos que estão na mira da Lava Jato
Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, aderiu à delação premiada para proteger três dos seus quatro filhos que estão na mira da Lava Jato. Detalhes da sua delação foram determinantes para o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pedir ao STF a prisão de Renan Calheiros, José Sarney, Eduardo Cunha e Romero Jucá.
Daniel Firmeza Machado, 40, o primogênito, é um próspero executivo, sócio de empresas do setor de educação (entre as quais algumas escolas) espalhadas pelo Nordeste, em estados como Pernambuco, Ceará e Paraíba. As participações nessas companhias chamaram a atenção dos investigadores, que passaram a se debruçar sobre os negócios dos Machado na área e levaram Daniel a firmar acordo de delação premiada. O caçula, Expedito Machado Neto, 31, o Did, era o responsável pelos investimentos da família em Londres, onde administrava um fundo num escritório cujo aluguel, segundo conhecidos, custaria cerca de 30 mil libras por mês (cerca de 153 mil reais). A Lava Jato suspeita de que cerca de 700 milhões de reais em propina para o PMDB tenham sido lavados por lá. Entre os políticos do PMDB, a delação de Did é hoje mais temida do que a do próprio Machado.
O filho do meio, porém, é o caso mais bem-sucedido da linhagem. Sergio Firmeza Machado, 38, que foi acionista e, na prática, segundo o mercado, era o número dois do banco de investimentos Credit Suisse no Brasil, também teve de firmar acordo de delação premiada com os investigadores. Serginho, como é chamado no mercado, era o responsável pela área de operações estruturadas do banco, que investia em renda fixa (em termos gerais, emprestava dinheiro e reestruturava dívidas de empresas). Sob seu comando, o setor foi o mais lucrativo do Credit Suisse nos últimos anos. Agressivo e “fazedor de dinheiro”, Serginho, segundo seus pares, era o principal banqueiro da instituição no Brasil, abaixo apenas do presidente, José Olympio Pereira (a foto de Serginho que acompanha este post é do aniversário de 50 anos de Olympio, em 2012).
Paralelamente ao trabalho de executivo do banco, Serginho administrava investimentos imobiliários por meio de empresas das quais é sócio, embora o Credit Suisse estabeleça severas regras de compliance para evitar conflitos de interesse entre as atividades institucionais e os investimentos privados de seus executivos. Era conhecida sua predileção por comprar terrenos e apartamentos na zonas oeste e sul paulistana, como no bairro da Vila Olímpia.
Há cerca de um mês, desligou-se do banco discretamente, quando os investigadores da Lava Jato fechavam o cerco sobre seu pai. O setor sob sua responsabilidade teria sofrido uma reestruturação para se adequar aos tempos de crise e ao perfil do novo CEO do Credit, Tidjane Thiam – foi essa a explicação oficial. Serginho, no entanto, considerado uma estrela por seus pares, poderia ter sido reaproveitado em outra área. Como isso não ocorreu, o mercado inferiu que seu afastamento tinha a ver com a Lava Jato. Os investigadores querem que ele fale sobre orientações de investimentos dadas ao seu irmão mais novo, Did, responsável, segundo as apurações, pela aplicação do dinheiro oriundo da propina do petrolão. Did é sócio com 0,01% em uma das empresas.
Sergio Firmeza Machado começou a trabalhar no Credit Suisse em 2000. Fez carreira na área de Investment Banking, onde atuou em operações de fusões e aquisições e emissões de títulos no Brasil e no exterior. Passou a cuidar da área de renda fixa em 2004. No final de 2015, quando a Polícia Federal fez uma operação de busca e apreensão na casa de seus pais, Serginho dava expediente no escritório do banco, no Itaim, bairro que concentra o setor financeiro de São Paulo. O executivo chegou a comentar com colegas a respeito da manobra da PF.
Questionado pela piauí, o CS disse que Serginho reportou “atividades realizadas fora do banco” durante o período em que era funcionário da instituição, mas que tais atividades “não tinham conflito com os negócios do Credit Suisse”. Procurado, o ex-executivo afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não poderia comentar sua delação, mas que nenhuma de suas empresas era objeto de investigação da Lava Jato.
Se os filhos de Machado herdaram do pai o tino para os negócios, agora precisarão recorrer à lábia de político do progenitor para convencer os investigadores de que agiram dentro da lei. Dos três, Did é o que está, até agora, mais encrencado.
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