Em sua casa na aldeia Metuktire, no final de novembro, Raoni faz a mala para viajar à França, onde foi recebido pelo presidente François Hollande. "Antigamente o presidente da República no Brasil também me recebia. Agora o Lula e a Dilma não me deixam mais entrar lá", reclamou o líder caiapó, que sempre buscou aliados estrangeiros FOTO: LATINSTOCK_JOHN VAN HASSELT_CORBIS_CORBIS (DC)
A onça e a barragem
Por que o mais conhecido líder indígena do país é contra uma hidrelétrica a centenas de quilômetros de sua aldeia
Rafael Cariello | Edição 77, Fevereiro 2013
O dia se anunciava chuvoso e abafado na aldeia indígena Metuktire, erguida numa clareira aberta na mata às margens de um trecho largo e calmo do rio Xingu. Antes mesmo que o sol levantasse, homens jovens e adultos começaram a sair, silenciosos, de suas casas. Um a um, iam se afastando aos poucos das grandes construções de madeira, cobertas com a palha amarelada das folhas do inajá e dispostas ao redor de um amplo pátio central, como os dentes numa arcada ou as penas de um cocar. Já era hora de caçar ou de cuidar da roça.
Sentado no chão de terra batida de sua residência, com as pernas cruzadas e a coluna ereta, Ropni Metuktire lixava desde cedo um pedaço de madeira, a fim de dar forma final a seu novo botoque – o disco do tamanho da palma da mão que enfeita e estica seu lábio inferior. Mais conhecido pela forma aportuguesada de seu nome, Raoni chegara no dia anterior à aldeia, depois de passar um mês e meio distante da mulher, com quem teve dez filhos, cinco deles ainda vivos. De sua rede, amarrada a um dos pilares de mais de 10 metros de altura que sustentam a construção, Bekuika Metuktire observava o trabalho minucioso do marido.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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