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Operações especiais – pão e circo

Só falta mesmo distribuirem pipoca de graça na entrada dos cinemas

| 27 out 2015_13h03
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Havia dois espectadores na sessão de Operações especiais, às 19h20, sexta-feira, dia 16, no Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca, em São Paulo. Essa amostra estatística certamente não é significativa, mas sugere a possibilidade que o filme dirigido por Tomás Portella não atenda plenamente às suas próprias expectativas comerciais.

Mesmo sem saber ao certo se os dois solitários espectadores do Espaço Itaú representam ou não o grau de interesse do público, é possível dizer que a um deles Operações especiais causou penosa impressão. Ao sair do cinema angustiado, falando com seus botões, perguntou ingenuamente o que leva empresas como a Globofilmes e Universal Pictures, além da recém criada SPCine, a produzirem ou se associarem a filmes como esse, abrindo mão de qualquer ambição menos imediatista. A resposta, na verdade, é simples. Recursos fartos à disposição e ausência de qualquer risco estimulam a falta de empenho de projetos acomodados a fórmulas consideradas rentáveis.

De acordo com a edição 935 do Filme B (21/10/2015), um “oferecimento” da Globofilmes, 140.000 pessoas assistiram a Operações especiais em 327 salas, de 15 a 18 de outubro. Nesses 4 dias, a média por sala foi de 428 espectadores. E a média por sessão, considerando 3 sessões por dia em cada sala, de 36 espectadores, considerada baixa para o fim de semana de estreia. Com esse resultado, a perspectiva de renda final nos cinemas não é animadora e, dependendo do custo da produção, dificilmente tornará o filme rentável.

A degradação do cinema brasileiro chegou ao ponto em que, além de pretender se aproveitar do sucesso comercial dos dois Tropa de elite, os chamados filmes de ação nacionais imitam de forma deliberada o modelo exaurido de antigas séries de televisão americanas. Operações especiais é mais uma narrativa estereotipada com uma personagem principal feminina inverossímil, baseada em lugares comuns e situações dramáticas preconceituosas.

Mesmo se as 1501 pessoas entrevistadas na pesquisa “cinema: o que os cariocas querem ver” (disponível para download aqui), realizada em agosto/setembro de 2013 e divulgada pela RioFilme no ano passado, refletirem de fato a preferência dos frequentadores de cinema do Rio, e o filme de ação for o gênero preferido dos cariocas, conforme alardeou há dias a Folha de S.Paulo (“Preferido do público, filme de ação perde para comédia”, Ilustrada, 20 de outubro de 2015, p.C4), seria de esperar que os produtores não aderissem com tamanha desfaçatez à política do “pão e circo”.

E que jovens realizadores não se orgulhassem tanto das suas proezas logísticas para imitar os tiroteios, explosões e corre-corre das produções americanas. Só falta mesmo distribuírem pipoca de graça na entrada dos cinemas. Projetos cuja maior ambição é mimetizar filmes americanos apequenam o cinema brasileiro. Políticas públicas que estimulam essa produção, mediocrizam a atividade audiovisual do País.

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