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    Resgatei esse ensaio do naufrágio de um livro ambicioso que jamais consegui escrever. Tento encontrar num mecanismo narcísico da arte brasileira uma fonte de potência capaz de reverter a desgraça (criar sem dimensão pública) em liberdade extrema FOTO: WWW.IMAGINARYFOUNDATION.COM

questões da arte

No palácio de Moebius

João Gilberto, Lygia Clark, Graciliano Ramos, Mira Schendel e a modernidade brasileira girando na vitrola sem parar

Nuno Ramos | Edição 86, Novembro 2013

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1. MOEBIUS

Em 2001, ao escrever sobre Hélio Oiticica, deparei com o que me pareceu um paradoxo – o impulso para fora, a vontade de colocar a obra diretamente no mundo, no exterior de qualquer moldura física ou institucional, acabava criando dobras, cavidades, fendas, ninhos; a atividade alardeada, contraposta ao que seria passividade nos trabalhos tradicionais, transformava-se em repouso, sono, preguiça, conforto.[1] Creio que o momento exato em que essa ambivalência nasce está na passagem dos Bilaterais (1959) para os Relevos Espaciais (1960) – ali, à dimensão quase bidimensional (a soma da espessura de duas superfícies de madeira de compensado), é sobreposta uma fenda, uma dobra, um interior. Destas pequenas frestas, que os Relevos Espaciais instauram, sai toda a obra de Hélio Oiticica (e boa parte da arte contemporânea brasileira), num impulso de interiorização constante que somente as Praças, ou Magic Squares, quase dez anos depois, vão em alguma medida interromper.

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Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz

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