ILUSTRAÇÃO: GEORGES WOLINSKI_GLÉNAT
Na cama com Wolinski
Um encontro entre o autor de Pornopopéia e o decano do Charlie Hebdo
Reinaldo Moraes | Edição 101, Fevereiro 2015
A consternação, quase incredulidade, com que recebi a notícia do assassinato do Wolinski em Paris, junto com a patota do Charlie Hebdo, não conseguiu empanar a surpresa, seguida de intensa curiosidade, ao ler nos primeiros necrológios sobre o artista que ele tinha nascido em Túnis, capital da Tunísia. Pra mim, o Wolinski nasceu em 1975, em Paris, na baciada de ofertas de uma livraria, com todo tipo de porcaria encalhada a preço de banana – ou de livro encalhado mesmo, já que, na França, banana vale mais do que livro encalhado. Foi ali que achei uma coletânea pocket de desenhos desse cara, de quem eu mal tinha ouvido falar, publicados no jornalzinho de humor Hara-Kiri de 1965 a 1967. O livrinho se chamava Ils Ne Pensent qu’à Ça [Eles Só Pensam Nisso], e era um puta sarro, expressão de época que deve ter-me vindo à cabeça ao devorar os desenhos do cara.
“Puta sarro”, no caso, significava aquele humor cético, meio idiota, entre o nonsense e uma espécie de existencialismo pop, em que o macho quase sempre se dá mal nas mãos de mulheres sádicas ou indiferentes, ultrajadas ou liberadas pra libertinagem. Praqueles personagens delineados com traços mínimos mas de efeito total, o sexo é um palco em que se encenam os pequenos dramas sociais e individuais da modernidade urbana, com seu cortejo de constrangimentos e decepções, matéria-prima de um humor sem fronteiras morais, ideológicas, religiosas ou impostas por qualquer definição de bom gosto.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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