ILUSTRAÇÃO: ANDRÉS SANDOVAL_2015
Paquera terceirizada
Um sedutor virtual profissional
Amanda Lourenço | Edição 105, Junho 2015
Greg e Sandrine se conheceram pela internet, num site de relacionamentos. Greg, um sujeito sedutor, habilidoso com as palavras, mantinha Sandrine interessada. A troca de mensagens ficou cada vez mais frequente até que decidiram se encontrar. Um ano e meio depois, os dois planejam morar juntos. Uma história de amor típica do mundo contemporâneo. O que Sandrine nunca soube, porém, é que a pessoa com quem ela conversava pela internet não era Greg, mas Adrien Tumsonet, um dating assistent contratado pelo namorado.
Tumsonet, de 29 anos, morador de um bairro de classe média na periferia de Paris, está por trás de dezenas de encontros amorosos. Desde 2013 ele vende seus talentos de sedução na Net Dating Assistant, empresa que ajuda solteiros – homens, principalmente – no universo da paquera online. O princípio é simples: a pessoa não tem tempo, paciência ou confiança suficientes para investir em interações virtuais que podem não dar em nada? Tumsonet e os outros catorze assistentes disponíveis “otimizam” o tempo e a lábia do freguês. Com a terceirização da cantada online, o pretendente só precisa dar as caras quando o encontro for marcado.
“Não recomendamos em hipótese alguma que nossos clientes revelem aos novos parceiros que recorreram a nossos serviços”, disse Tumsonet num café perto de sua casa. O dating assistent não é exatamente bonito – embora também não seja feio. Moreno, de olhos castanhos e estatura mediana, ele não chama atenção pelo físico, mas é bom de conversa e muito simpático. Não se sente culpado por fingir ser outra pessoa. “Somos aceleradores de oportunidades. Quando o cara aparece lá no encontro, é ele sozinho. Não tem nenhum ponto soprando frases no seu ouvido.”
A maior parte dos clientes da Net Dating é composta por homens rejeitados nos sites de relacionamento. Sujeitos que passam meses inscritos sem conseguir nenhum encontro. Tumsonet garante contar com a solução para todos esses casos. “Eu faço algumas mudanças no perfil, aprimoro a forma de abordagem e tenho sucesso rapidinho”, gabou-se. “Uma vez copidesquei um perfil ao meio-dia. Às três da tarde meu cliente estava conhecendo uma garota pessoalmente.”
A mudança começa, obviamente, pela imagem: fotos de homens sem camisa ou ao lado de carros, nem pensar. “Selfie, então, deveria ser proibido por lei”, ensinou. Se o sujeito estiver com um ar muito nerd, o assistente manda deixar a barba crescer por cinco dias e providenciar uma jaqueta de couro: “É tiro e queda.” O perfil em si não deve entrar em detalhes, tampouco cair em autodefinições: “Em vez de dizer ‘Sou engraçado’, vai lá e conta uma história divertida.”
Uma outra dica, muito importante, segundo Tumsonet: “Flerte não é entrevista de emprego.” Se o perfil agradou e a garota veio conversar, nada de bombardeá-la com perguntas. Para manter teso o arco da promessa, o segredo é sugerir assuntos e deixá-la falar. Um dos erros mais comuns da paquera virtual, disse o profissional, é que os homens costumam botar as mulheres em pedestais. Nada disso: elas precisam se sentir um pouco inseguras. Deve ficar claro que a seleção vale para os dois lados – de vez em quando cai bem alfinetar a moça com comentários levemente críticos.
A teoria do charme de Tumsonet é baseada no clichê segundo o qual as mulheres procuram homens protetores e autoconfiantes, enquanto os homens procuram mulheres… bonitas. É por isso que as técnicas se aplicam apenas a eles, já que elas não precisam fazer nada além de aparecer bem na foto. E as mulheres feias? “Estão ferradas”, ele disse, rindo. “Estou exagerando, mas é quase isso mesmo. O mundo é injusto.”
A sedução online é um aspecto, apenas, de um interesse mais amplo de Adrien Tumsonet: a sedução em geral. O rapaz passou a estudar as estratégias de conquista desde que sofreu uma forte desilusão amorosa, há alguns anos. Ele tinha planos de casar e ter filhos com a amada, e tudo caminhava para esse fim. Até que um dia ela anunciou que estava apaixonada por um colega de trabalho e foi embora, sem mais.
“Eu achava que ela era a mulher da minha vida… Foi um período sombrio”, contou. Pouco depois de ser abandonado, ele começou a pesquisar sobre comportamento social na internet e descobriu as artimanhas da conquista: “Aos poucos fui percebendo que eu também havia contribuído para a partida dela.”
Hoje, Tumsonet garante ter dado a volta por cima. Além dos benefícios pessoais, sua dedicação à paquera passou a servir como ganha-pão. Agora está pronto para consolidar sua reviravolta profissional. Quer deixar de lado sua formação – bem pouco sedutora – como engenheiro e empregar no comércio seus talentos de bom comunicador, paralelamente à atividade de coach de paquera.
O rapaz se diz feliz em poder ajudar seus clientes – mesmo que por métodos que variam dos relativamente controversos aos francamente machistas. Quando nos encontramos no café, na periferia de Paris, ele me disse: “Sabe aquela frase ‘As mulheres se apaixonam por aquilo que ouvem, os homens por aquilo que veem’? Por isso as mulheres usam maquiagem e os homens mentem? Acho que isso resume tudo.” Argumentei que, se é assim, talvez fosse útil as mulheres também aprenderem essas técnicas, para se defender. Olhando nos meus olhos, Tumsonet lançou mão de uma de suas estratégias de sedução: “Se defender de quê? Isso não é uma guerra.”