Sandy contou às pessoas mais próximas sobre o seu plano. Ninguém tentou dissuadi-la da ideia, pois conheciam bem sua obstinação feroz quando tomava uma decisão. Mas quando seria isso? ILUSTRAÇÃO: BRIAN STAUFFER
Juízo final
Uma paciente de Alzheimer decide pôr fim à própria vida
Robin Marantz Henig | Edição 106, Julho 2015
A psicóloga Sandy Bem, professora da Universidade Cornell, estava sozinha em seu quarto enquanto assistia ao documentário O Projeto Alzheimer, da HBO. Era uma noite de maio de 2009, e dali a um mês ela completaria 65 anos. Nos dois últimos anos vinha experimentando o que chamava de “esquisitices cognitivas”: esquecia-se do nome das coisas ou confundia palavras parecidas. Certa vez, reclamou de uma blizzard (tempestade de neve) no seu pé, quando queria dizer que tinha uma bubble (bolha); em outra ocasião, chegou em casa com um pacote de ameixas, apanhou uma delas e, parada no meio da cozinha, perguntou a uma amiga: “Isto aqui é uma ameixa? Não consigo saber ao certo.”
Sandy era uma mulher baixinha, tinha apenas 1,45 metro de altura, pesava 43 quilos e possuía a aparência andrógina de um elfo: cabelos curtos, óculos e um guarda-roupa em que predominavam as calças jeans e os suéteres confortáveis que ela mesma tricotara ao longo dos anos 90. À medida que o documentário avançava, aceleravam-se as batidas de seu coração – na tela, uma mulher se submetia a um teste de memória. Sandy resolveu participar do experimento. O examinador anunciou que diria três palavras. E a prova consistia em, depois de ter ouvido as palavras, escrever uma frase qualquer, sem conexão com os termos enunciados, e em seguida repetir o que ele havia dito. Sandy ouviu as três palavras: maçã, mesa e tostão. Escreveu, então, uma frase curta: “Eu nasci em Pittsburgh.” Depois, disse em voz alta as palavras de que se lembrava: maçã, tostão… Era um teste de memória dos mais simples, e ela tinha fracassado.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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