ILUSTRAÇÃO: ANDRÉS SANDOVAL
Longe do poder
ACM desiste do golpe e se queixa da oposição
Mario Sergio Conti | Edição 3, Dezembro 2006
“Não, não dá para pensar em golpe”, responde o senador Antonio Carlos Magalhães a uma indagação sobre a possibilidade de se tirar Luiz Inácio Lula da Silva do poder à força. Há apenas seis meses, parece que dava. Quando militantes do Movimento de Libertação dos Sem-Terra, MLST, invadiram e depredaram a Câmara Federal, o senador baiano subiu à tribuna e conclamou: “Reajam, comandantes militares, reajam enquanto é tempo, antes que o Brasil caia na desgraça de uma ditadura sindical presidida pelo homem mais corrupto que já chegou à Presidência da República”. Numa tarde chuvosa de novembro, ao traçar com gosto um filé mal passado no seu gabinete no Senado, Antonio Carlos se rende aos fatos: “Depois da reeleição do Lula, a única coisa que dá para fazer é marcar posição”.
Pela manhã, em Salvador, Antonio Carlos assistira à missa de aniversário do governador Paulo Souto. Pegou o avião e, em Brasília, seguiu direto para o plenário do Senado, para participar da homenagem ao senador Ramez Tebet, falecido dias antes. Só pôde almoçar às 4 da tarde. “Eu não podia faltar à missa”, diz. Paulo Souto, o candidato de ACM à reeleição para o governo baiano, saiu da disputa já no primeiro turno, derrotado pelo petista Jacques Wagner. Já o seu candidato à Presidência, o tucano Geraldo Alckmin, perdeu para Lula em 415 dos 417 municípios baianos.
Vergado pelos votos dados a seus adversários, o senador desistiu da pregação golpista. Decidiu ficar na oposição. “Mas não quero ficar sozinho,” avisa, depois de cravar os dentes numa ameixa suculentíssima. Com esse intuito, foi procurar Fernando Henrique Cardoso. Queria uma conversa discreta, mas o ex-presidente sugeriu um almoço no restaurante Massimo, em São Paulo – encontro largamente divulgado nas colunas de fofocas políticas. O senador diz que Fernando Henrique e ele concordam que é preciso fazer oposição intransigente ao governo federal.
ACM registrou com satisfação o fato de o ex-presidente ter declinado da sugestão de Lula para um encontro. Foi o que o próprio Antonio Carlos Magalhães fez, quando um amigo comum o consultou sobre como reagiria a um convite do ministro Tarso Genro para um tête-à-tête. Mas puxar a fila dos oposicionistas intransigentes não significa que tenha se negado, em alto e bom som, ao encontro com o petista. Enrolou, adiou a decisão: instruiu o amigo comum a dizer a Tarso Genro que, sim, aceitaria o convite com o maior prazer. “Mas diga que um encontro agora não seria útil nem para ele, nem para mim”.
Com o café, Antonio Carlos come um chocolate dietético e explica que, mesmo no governo Lula, não se recusou a encontrar, discretamente, ministros petistas. E se deu mal. “Fui enganado pelo José Dirceu e pelo Palocci”, conta. O então chefe da Casa Civil jantou algumas vezes com ACM. Pedia-lhe orientação, apoio. Certa noite, José Dirceu chegou a verter lágrimas sentidas, na presença do senador, ao relatar humilhações que o presidente lhe impunha. “Pois não é que, depois, o Dirceu vai e me esculhamba no blog dele?”, espanta-se.
Já o ex-ministro da Fazenda lhe garantiu – “com uma fisionomia extremamente séria” – que jamais estivera na sede brasiliense da República de Ribeirão Preto. Antonio Carlos acreditou e, da tribuna do Senado, saiu em defesa de Palocci. Repetiu a dose junto à imprensa. Aí apareceu o caseiro Francenildo Costa e fez picadinho da credibilidade do ministro. “Fiquei com a brocha na mão”, diz o senador.
ACM também se cuida para não ser apanhado no contrapé por seus companheiros de oposição. Julga que quando o mensalão e o valerioduto foram expostos, era obrigação do PSDB e do PFL entrar com um pedido de destituição do presidente. “Mas os tucanos preferiram preservar o Eduardo Azeredo a lutar pelo impeachment.” O senador diz que não tem medo de ficar sozinho na oposição. Seu novo encontro com as urnas será em 2010. “Até lá, garanto que não estarei mais sozinho.”