Governantes, empresários e esportistas vitoriosos se encontram entre os 15% que têm pênis com mais de 18 cm? Estariam Bush, Bill Gates e Ronaldinho entre os 0,001% dos com mais de 25 cm? FOTO: © ELLIOTT ERWITT_MAGNUM PHOTOS
Enlarge your penis!
Mitos e realidades sobre os métodos de aumento do órgão masculino mais importante depois (depois?) do cérebro
Antonio Prata | Edição 3, Dezembro 2006
Numa cena do filme Noivo neurótico, noiva nervosa, Annie Hall (Diane Keaton) conta ao namorado, Alvy Singer (Woody Allen), como foi sua primeira sessão de análise. Alvy lava pratos e escuta atentamente. Lá pelas tantas, Annie diz que o analista “mencionou algo sobre inveja do pênis; você sabia que as mulheres têm disso?” O franzino Woody Allen nem tira os olhos da pia. Melancólico, resigna-se: “Eu? Sou um dos poucos homens que sofrem do mesmo complexo”.
Talvez Alvy Singer se sentisse um pouco reconfortado sabendo que, numa pesquisa feita nos EUA, 99% dos homens disseram que aumentariam o pênis, caso houvesse uma forma mágica – sem riscos, constrangimento, esforço ou custo – de fazê-lo. (Claro que o leitor, esclarecido que é, encontra-se entre o 1% restante que jamais perdeu um minuto com tais questões pueris).
No Brasil, embora não haja dados estatísticos, as coisas não parecem ser muito diferentes. Não há semana em que Sidney Glina, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia, não receba em seu consultório algum homem aflito, querendo saber se existe uma forma de aumentar o pênis. Para desilusão dos pacientes, Glina explica que ainda não foi desenvolvido nenhum tratamento eficiente e seguro. Há cirurgias plásticas mas, segundo Glina, são perigosas. A técnica mais comum consiste em cortar um ligamento que prende o pênis ao osso pélvico e puxá-lo de um a dois centímetros para fora. (Cerca de um terço do pênis fica dentro do corpo). Assim, ganha-se em comprimento. Enxertos de gordura e outros materiais podem engrossá-lo. Segundo Glina, no entanto, na literatura médica há mais estudos sobre conseqüências indesejadas das cirurgias do que seus supostos benefícios. (A gordura é absorvida, formando nódulos; a cicatrização pode puxar o pênis para dentro, deixando-o menor do que antes e, com o ligamento cortado, quando rígido, o pênis fica para baixo). Por isso, o Conselho Federal de Medicina considera todas as cirurgias de aumento peniano experimentais. “Só deveriam ser feitas em hospitais universitários, e de graça”, diz Glina.
Carmita Abdo, psiquiatra e fundadora do Projeto Sexualidade (ProSex) do Hospital das Clínicas, também está cansada de tentar dissuadir homens que, depois de receber aqueles spams (“Enlarge your penis!”, “Gain 2 inches!”, “Aumente seu pênis já!”), acreditam que existam métodos capazes de fazer de qualquer Alvy Singer, em pouco tempo, um Long Dong Silver – o legendário ator pornô samoano, cujo pênis, ereto, media 47 centímetros. “Todo homem gostaria de ter o pênis o mais avantajado possível. Você encontra isso em qualquer faixa etária, em qualquer classe social.” Até Vinicius de Moraes – como conta Chico Buarque, ao final do filme Vinicius – disse que, caso lhe fosse concedida outra vida, gostaria de voltar igualzinho, só com “o pau um pouquinho maior”. Segundo Glina e Abdo, por enquanto, a única forma de aumentar o pênis é mesmo a proposta pelo poeta: morrer e nascer de novo.
Tarefa nada fácil é convencer os (im)pacientes de que, neste ponto do corpo, ao contrário do nariz, orelhas e outros órgãos em que a cirurgia plástica manda e desmanda, anatomia ainda é destino. Afinal, ao digitar “aumento de pênis” no Google, o sujeito angustiado encontra 187 mil resultados, muitos prometendo o fim de seu complexo de inferioridade. Vão de tratamentos com bomba a vácuo a extensores com elásticos ou molas, passando por pesos, cirurgias, implantes, injeções de gordura, meta-acrilato, gel russo, cosmo gel, pílulas e até técnicas árabes de massagem “que sempre existiram, mas nunca foram transmitidos para a cultura moderna” e “que têm servido a milhões de homens através dos séculos”. Tanto Glina quanto Abdo insistem: não há estudos que comprovem a eficácia de nada disso.
Se, em português, “aumento de pênis” tem 187 mil ocorrências, contra 87 mil de “Paz na Terra” e 18.800 de “Como ficar rico”, é sinal de que a preocupação com o tamanho do pênis tem um lugar importante na ordem das coisas. Por quê?
Carmita Abdo coordenou uma das maiores pesquisas já feitas sobre sexualidade no Brasil, entrevistando 7.100 pessoas. O resultado está no livro O descobrimento sexual do Brasil (Summus, 2004). Segundo a pesquisa, o maior medo dos brasileiros em relação ao sexo é não satisfazer o parceiro ou a parceira. Medo que aparece mais nos homens, 56%, do que nas mulheres, 45%. Será então que é para satisfazer as mulheres que, no amplo leque da anatomia, os homens gostariam de estar mais para o lado de Long Dong do que para o de Alvy Singer?
Sidney Glina e Carmita Abdo dizem que não. Abdo, em sua pesquisa, não encontrou queixas de homens nem de mulheres sobre o tamanho do pênis na qualidade da relação sexual. Glina concorda: “A maioria dos homens que vêm aqui no consultório e querem aumentar o pênis funciona muito bem sexualmente. O problema é no vestiário”. Alvy Singer sabe bem como é isso. Quando Annie Hall lhe pergunta por que não tomou banho no clube em que acabaram de jogar tênis, ele responde: “Eu não tomo banho em lugares públicos. Não gosto de ficar pelado na frente de outros homens. Nunca se sabe o que pode acontecer”. Infelizmente, Annie Hall não lhe pergunta: “Mas o que pode acontecer?”. Limita-se a balançar a cabeça e dizer “Quinze anos?”, referindo-se ao tempo que Alvy leva deitado no divã, digladiando- se com suas neuroses e sofrendo pelo fato de um charuto, às vezes, ser menor do que outros charutos.
Roberto Tulli, cirurgião vascular e plástico, foi duas vezes ao Programa do Jô falar sobre impotência e aumento peniano. “Nunca o telefone da produção tocou tanto durante a semana. Querendo o contato do médico”, diz Marta Bortolotto, produtora do programa. De cada dez pacientes que entram em seu consultório, quatro querem aumentar o pênis. Tulli engrossa o coro com Glina e Carmita Abdo: a palavra “mulher” mal aparece na boca desses pacientes, eclipsada sob a enorme sombra de “vestiário”. Assim sendo, Roberto Tulli desenvolveu um creme que, passado na glande, causa uma “intumescência”. “A glande incha, puxando todo o pênis.” O efeito é temporário, mas suficiente para uma melhor performance de vestiário.
O sexo não é apenas uma preocupação menor dos homens, mas alguns estão mesmo dispostos a arriscar seu bom funcionamento sexual para ganhar algum volume no vestiário. Glina conta de um paciente que, depois de algumas cirurgias malsucedidas, foi levado ao consultório pela própria mulher, empenhada em convencer o marido de que estava plenamente satisfeita com seu pênis. Não conseguiu. O paciente foi a Miami para mais uma cirurgia e, infeliz com os resultados, acabou se suicidando.
Se a preocupação com as mulheres não é uma questão crucial para quem quer aumentar o pênis, tampouco é o tamanho do mesmo. A maioria dos pacientes que procuram o ProSex, a clínica de Sidney Glina e outros médicos dizendo que gostariam de aumentá-lo estão dentro da média – 70% dos homens têm entre 13 cm e 16 cm de comprimento, em estado ereto. (Não que o leitor esteja preocupado com isso, mas a medição do comprimento se faz com uma fita métrica, pelo lado de cima, da pélvis até o fim da glande). Se, a crer nos resultados da pesquisa de Carmita Abdo, o prazer da mulher não cresce na proporção em que aumenta o pênis e a maior ambição dos que querem aumentá-lo é exibi-lo no vestiário, há de se pensar qual será o poder que os pênis grandes têm sobre os homens. Será que os mais bem dotados seriam conseqüentemente mais seguros, decididos, agressivos e, portanto, mais bem-sucedidos? Viveríamos numa falocracia, em que os diretores de multinacionais, presidentes de países e esportistas vitoriosos se encontram todos entre os 15% dos homens que têm pênis com mais de 18% cm? Estariam George Bush, Bill Gates e Ronaldinho entre os 0,001% dos homens com mais de 25 cm?
Sidney Glina diz que não é o que a experiência tem mostrado: ele atende a muitos executivos poderosos que, se pudessem, diminuiriam suas contas bancárias para ganhar alguns centímetros dentro de suas cuecas. Além do mais, se o tamanho do pênis fosse determinante no sucesso do indivíduo, teríamos uma elite de negros, uma classe média de caucasianos e a Ásia abandonada à sua própria sorte. Sim: os negros têm pênis maiores que o dos brancos, que os têm maiores que os asiáticos.
No passado distante, enquanto andávamos nus pela terra, grandes falos podem ter sido sinônimo de poder. De todos os primatas, o homem é não só o de maior cérebro, mas também o de maior pênis. Um gorila tem, em média, um pênis de 3,17 cm, um orangotango, 3,81 cm. Os cerca de 14 cm do homem talvez sugiram que, durante a evolução, o tamanho do pênis tenha sido um componente importante na escolha dos machos pelas fêmeas, simbolizando poder e força física. Essa, no entanto, é apenas uma suposição entre outras tantas, quando o assunto é evolução. Como diz Jared Diamond, professor de fisiologia na Universidade da Califórnia e autor do livro Por que o sexo é divertido (Rocco, 1999), não se sabe ao certo por que o homo sapiens tem o pênis desproporcionalmente maior do que o de seus primos mais próximos na natureza – embora tenhamos, talvez, uma boa explicação para a agressividade de King Kong.
Carmita Abdo diz que, quando o homem tem a idéia fixa de que seu pênis é pequeno, “não adianta você medir, explicar, mostrar, comparar, abrir livros: ele não se convence”. Só sossega ao encontrar um médico que lhe ofereça o que ele procura. Não é difícil. Entre as milhões de pessoas que viram o médico Bayard Fischer no Programa do Jô estavam muitos destes inconsoláveis que, por mais que ouvissem explicações, não se conformavam com a idéia de que “mais vale um pequenino brincalhão do que um grande bobalhão” ou “não importa o tamanho da vara de condão, mas a mágica de que ela é capaz”.
O gaúcho Bayard Fischer Santos é cirurgião plástico genital: faz himenoplastia (reconstituição de hímen), ninfoplastia (diminuição dos pequenos lábios), perineoplastia (estreitamento de canal vaginal) e garante que é possível, sim, aumentar o pênis em comprimento e espessura. Usa técnicas combinadas de cirurgia (aquela que corta o ligamento), fisioterapia com aparelho extensor (mínimo de 12 horas por dia, todo dia, por quase um ano) e preenchimento com substâncias como gordura, colágeno e gel russo, além de medicação.
Segundo ele, a não aceitação de seus métodos por outros médicos é conseqüência da ignorância, preconceito “e umas questões relativas a um laboratório, que eu não quero nem entrar” – e não entrou. Como prova de sua eficiência, Bayard Santos cita o Guiness Book of Records, que lhe outorgou o diploma de maior aumento peniano do mundo: um paciente seu teve 16 cm de ganho, passando de 11 cm para 27 cm. (Na verdade, o paciente continuou se automedicando e usando o extensor por mais alguns anos, por sua conta e risco, depois que o médico já dera o tratamento por terminado).
Bayard Santos é autor do livro A medida do homem, mitos e verdades (Editora imprensa livre, 2001) mistura de almanaque sobre o pênis e um compêndio de técnicas para (supostamente) aumentá-lo. O primeiro capítulo, intitulado “O homem é seu pênis”, traz a seguinte citação, de Brian Richards: “Se um homem fosse pressionado a dizer qual a coisa mais importante do mundo, e em toda a sua história, a resposta mais lógica e correta seria o pênis”. E não qualquer pênis: “Tamanho é importante”, diz Bayard Santos. “Um pênis com menos de 13 centímetros escapa durante o ato, certas posições ficam impossíveis. Tem muita hipocrisia por aí. Uma mulher nunca vai dizer que gosta de pênis grande, porque vai parecer vulgar”.
Algumas dizem. Fernanda Lima, para desespero dos 75% da classe média peniana, que estão na casa dos 15 cm, declarou à Playboy que “quanto maior, melhor”. Para piauí, ela contemporizou: “Acho que, na real, o que importa nessa história de pau é a segurança que ele traz a seu dono. Homens de pau grande se sentem mais seguros pois sabem que não precisam trabalhar muito durante o ato. Impressionam já na chegada, mas isso faz com que muitos decepcionem também, achando que são gostosos e não precisam se esforçar. Já aqueles de pau tamanho padrão são mais esforçados, mais demorados, mais preocupados com preliminares e finalizações. Mas tudo isso pode ser muito relativo”. Elza Soares disse, no programa Roda Viva, que não sabia dizer se tamanho era importante, pois em toda a sua vida, só tinha se deparado com os grandes. E sorriu…
Um advogado carioca de quarenta anos, que é paciente de Bayard Santos desde 2000, não se sentiria intimidado pelas preferências da bela gaúcha. Ele está feliz e contente com os tratamentos que, diz, o fizeram saltar da classe econômica dos 75% para a primeira classe dos 15%, acima dos 18 cm. “É uma coisa maravilhosa, que eu gostaria de propagar. Muda tudo, cara! A autoestima está lá em cima, voltei a estudar, fiquei muito mais centrado. Por exemplo, hoje eu saio de casa pra comprar uma plantinha, uma coisa que está faltando, sabe como é? Eu atribuo isso ao efeito psicológico, porque você perde a pressa, ansiedade, você está completo! Eu sou um cara bem afeiçoado, tenho um emprego legal, leio poesia, gosto de romantismo. Esse conjunto de coisas, mais um pau grande… Eu me considero imbatível!” O advogado gastou vinte mil reais com todo o tratamento. Fez a cirurgia para romper o ligamento, usou o extensor por dez meses e fez enxertos de colágeno e gel russo, para engrossar – “esse foi o pulo do gato!” Ele acompanha Bayard Santos em simpósios e conferências, mostrando, com orgulho, seu 18 x 18 para platéias de centenas de pessoas. O advogado só esconde o seu nome e sobrenome, que não quis ver citados nesta reportagem.
O tratamento seguido por Carlos Roberto é polêmico. Sidney Glina diz que o extensor não tem resultados comprovados em estudos científicos. Além disso, a maioria das pessoas, segundo o cirurgião Roberto Tulli, não agüenta usar o aparelho, mais de doze horas por dia, com uma pressão de até um quilo, durante mais de dez meses. Há alguns anos, Tulli chegou a receitá-lo a cinqüenta pacientes: apenas quatro conseguiram usá-lo até o fim. Desistiu de indicá-lo. Carlos Roberto, no entanto, diz que não teve problemas. “É só usar uma cueca samba-canção, botar ele para baixo e pronto. No começo machuca um pouco, mas você vai criando um calo e vai ficando legal, igual o dedo no violão.”
Segundo Bayard Santos, seus pacientes não reclamam do extensor. Explica que, com o estiramento, o organismo entra em processo de mitose (divisão celular), aumentando lentamente de tamanho. O crescimento esperado é de cerca de dois milímetros por mês, ou dois centímetros após dez meses. Tanto Carlos Roberto quanto Dr. Bayard Santos dizem que muito marmanjo anda por aí com seu aparelho extensor enfiado dentro da calça, sonhando com o dia em que chegarão aos 20 cm de Humphrey Bogart, os 30 cm de Charlie Chaplin (a razão das calças largas de Carlitos?) ou, quem sabe ainda, aos 32 cm de Rasputin que, segundo o livro do Dr. Bayard Santos (de onde tiro estas medidas), fazia com que “homens e mulheres desmaiassem” à simples visão. Dona Zuleika, enfermeira de Bayard Santos, diz que dois Big Brothers passaram pela clínica e fizeram o tratamento, antes de exporem suas sungas ao escrutínio da nação. Cheia de mistério, diz que outras “pessoas famosas também”.
Se o aumento peniano é fruto da mitose, como diz Bayard Santos, ou do mito, como defende a maioria dos profissionais, somente o tempo e o surgimento (ou não) de estudos poderão provar. No que tanto Bayard Santos como Sidney Glina concordam é que, dada a procura por métodos de aumento peniano, o futuro deverá trazer avanços nessa área (sem trocadilho, por favor). Enquanto isso não acontece, aqueles muito obcecados com a questão, que tirem as suas medidas. Os grandes podem ir correndo ao vestiário mais próximo. Os médios devem tentar ficar tranqüilos em meio à maioria silenciosa. Aos pequenos, sugere-se a prática de esportes individuais e resta o consolo de que, de acordo com a medicina, até com um pênis de 9 cm pode-se satisfazer uma mulher plenamente. (A ambição de namorar Fernanda Lima, no entanto, deve ser reconsiderada).