“Já faz dois meses que cuido da organização”, disse Simara Sukarno. “É como se fosse a montagem de um musical, só que por uma única noite. Daria para comprar uma casa” FOTO: TUCA VIEIRA
Diferenciada
Como Simara Sukarno organizou a festa de 15 anos da filha na Daslu
Roberto Kaz | Edição 36, Setembro 2009
“Vai ser uma coisa diferenciada”, disse Simara Sukarno pelo telefone, numa terça-feira de maio. “Já faz dois meses que eu cuido da organização. São mais de trinta fornecedores. O cerimonial vai ficar com a Marina Bandeira, que fez casamentos dos Safra e dos Klabin. No meio, a Marina é tida como a melhor. As rosas são colombianas. As máscaras serão feitas pela Gigi, que cuida dos principais destaques do Carnaval aqui de São Paulo. Eu sou destaque há dez anos. Prefiro trabalhar com o pessoal de escola de samba porque eles têm mais senso de ridículo.” A linha caiu.
Faltavam dois meses para a festa de 15 anos de sua filha, Caroline. Simara ligou em seguida. Contou que a celebração seria para 300 convidados e contaria com um quarteto de cordas de músicos da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo e uma acrobata do Cirque du Soleil. Prosseguiu: “Eu te falei dos convites? São todos vermelhos, feitos pela Cris Armentano, mulher do João Armentano, o decorador. É uma pessoa impecável para convites. E o bufê é do França. Minha filha estuda com o neto do França. Vou servir caviar, trufa, carrê de cordeiro. E vai ter um minicarrê para as nossas cachorras. O que me deu mais trabalho foi o Cirque du Soleil, pela dificuldade em achar um contato. Tive que ligar para o quartel-general deles, no Canadá, até descobrir alguém que pudesse se apresentar no Brasil. Só do cerimonial são dez pessoas. Tem iluminação, sonorização, chapelaria, segurança. Por isso resolvi alugar a Daslu também na véspera, para montar a festa com mais calma.”
Descendente de japoneses, Simara Agari Sukarno Simões é uma mulher magra, de estatura mediana, cabelos pretos e leves traços orientais. Usa bolsa e pasta Louis Vuitton “desde pequena”, disse ela. “Meu avô me dava porque era boa e resistente.” Costuma se vestir com roupas monocromáticas – de preferência com o nome da grife aparecendo –, combinando com um dos seus 560 pares de sapatos.
Aos 51 anos, acumula três casamentos e três divórcios. “Sou ótima para cuidar de casa, mas não tenho paciência com maridos”, explicou. Tem duas filhas, Stephanie, de 23 anos, fruto do primeiro matrimônio, com Arnaldo Holanda Leite, e Caroline, fruto do último, com Alexandre Grendene, dono da empresa de calçados do mesmo nome. O marido que não lhe deu filhos foi o empresário Miguel Ethel Sobrinho, diretor da Caixa Econômica Federal durante a presidência de José Sarney, e integrante do consórcio que venceu a privatização da Vale do Rio Doce, em 2002. Ela só se refere ao ex-marido como “o Miguel Ethel, da Vale”.
Simara mora com a filha mais nova em um apartamento de quatro quartos em Higienópolis. Na decoração, destacam-se uma onça de pelúcia, miniaturas de Buda, oito tapetes persas, dois quadros de Di Cavalcanti, um de Lasar Segall e um de Portinari. “Cadê meu Portinari?”, ela se perguntou, antes de recordar que ele estava na sala de televisão. No chão da sala de jantar, há um Volpi embalado em plástico bolha. “Tenho uma coleção de catorze, que pertenciam ao meu pai”, explicou.
Além da filha Caroline, o apartamento é habitado por três cachorras tamanho PP: a maltês Taylan (“flor de pessegueiro”, em mandarim), e as yorkshire Meylin (“viver em harmonia”, na mesma língua) e Belinha. As três têm direito a banheiro e armário próprio, onde Simara guarda roupinhas de estampas esportivas, chinesas ou japonesas, além de perfumes, tiaras, lacinhos e ossos artificiais de todos os tipos. Tomam banhos às terças, em casa, e aos sábados, no Encrenquinha’s Pet Shop, a três quarteirões de onde moram.
Quando as leva para passear, Simara costuma vestir casaco Prada Sport, jaqueta Versace ou, em dias mais quentes, um conjunto da Juicy Couture, fabricante americana de roupas para adolescentes. “Não é porque é Prada, é que a roupa me cai bem”, justificou. Em dias de chuva, as três cadelas passeiam em uma espécie de carrinho de bebê – só que feito exclusivamente para caninos –, de forma a não sujar os pés.
Simara contou que tanto o pai quanto o avô eram cafeicultores em Londrina, onde ela nasceu. Ainda na infância, mudou-se para São Paulo, onde fez amizade com o playboy Chiquinho Scarpa, que foi padrinho de Caroline. “Conheci o Chiquinho aos 17 anos. A gente ia direto no Leopolldo e no Gallery.” Nessa mesma idade, Simara disse ter ido estudar economia em Harvard, embora a universidade afirme não ter registro do fato. Ao voltar, em 1983, dividiu seu tempo entre uma confecção que abrira e o júri do Programa Flávio Cavalcanti, do qual participava.
Hoje, Simara tem uma porcentagem das ações da Grendene, cuja receita bruta foi de 1,6 bilhão de reais no ano passado. Por precaução, o prédio onde mora é vigiado por seguranças do Grupo GP. Simara não gosta dos serviços da Haganá, empresa que gere boa parte dos edifícios caros nos Jardins, em Higienópolis e na Vila Nova Conceição. “Eles pegam um sujeito, vestem um terno qualquer e acham que isso é proteção”, disse. “Aqui é diferente. Se alguém entrar na minha casa, sai morto.”
Na quinta-feira, 21 de maio, Simara agendou uma visita à doceira Conceição Amaral, que fornece bem-casados para o castelo de Caras. Simara usava sapato Dolce & Gabbana de salto, calça jeans, top marrom e óculos de oncinha. Ainda no apartamento, ela explicou a razão de ser da festa, agendada para dali a um mês: “No ano passado, viajamos para a Indonésia, Tailândia, China e Japão. Passamos o Réveillon em Bangcoc, em uma cerimônia linda. E no meio disso, a Caroline falou que queria fazer um baile de máscaras, ao estilo veneziano, com vestido e rosas vermelhas. Fiquei surpresa, porque ela sempre foi muito calminha, discreta.”
Voltando ao Brasil, Simara começou a produzir a festa. “Primeiro, liguei para as meninas da Daslu”, contou. “O aniversário da Caroline era em março, mas elas só tinham data em abril ou maio. Eu precisava que fosse num sábado, por causa da escola. E que a sexta estivesse livre também, para a montagem. Havia data nos dias 5 e 6 de junho. Mas, por causa do feng shui, dia 5 eu não uso para nada. Sobrou então o 27. E dois mais sete, na soma, dá nove; e nove é um número auspicioso.” Em nenhum momento cogitou fazer a festa em outro lugar: “A arquitetura da Daslu é neoclássica, perfeita para recuperar essa atmosfera veneziana; tinha que ser lá de qualquer jeito.”
Com a data escolhida, passou aos preparativos. Ao visitar o Terraço Daslu vazio, teve a idéia do Cirque du Soleil: “Quando vi aquele pé-direito com mais de 5 metros, pensei: ‘Tenho que colocar alguma coisa diferenciada.'” Em seguida, cuidou dos adornos: “Baile veneziano tem que ter máscaras. Não quis alugar porque não era nem higiênico, nem agradável. E, para vender, só havia de qualidade inferior. A opção foi mandar fazer.”
Embora a festa tivesse uma lista com menos de 300 convidados, ela encomendou 1 200 doces. “É para preencher a mesa e manter a integridade do visual.” Para a decoração, alugou mobiliário veneziano, lustres de cristal, prataria e cadeiras douradas, “tudo de acervo pessoal”. Resumiu: “Na verdade isso é como se fosse a montagem de um musical, só que por uma única noite. Daria para comprar uma casa.”
No caminho para a doceira, perguntei se tinha algum assistente ajudando na empreitada. “Na parte financeira, meu braço direito e esquerdo é o Álvaro Picolli, diretor financeiro da Grendene. Ele já cuidava das minhas contas particulares.” Para facilitar, abriu uma nova conta bancária apenas para o aniversário. “Dizem que essa é a primeira festa em que tudo está sendo pago antecipadamente”, ela falou. “Depositamos em cash, para facilitar.”
Simara não soube diferenciar o quanto da festa seria pago pelo ex-marido, Alexandre Grendene, e o quanto ela desembolsaria. Explicou que ele preferira não tomar parte nas decisões. “O Alexandre primeiro teve um choque, depois melhorou. Agora, está entregue.” O choque, conta, foi quando ela anunciou: “É mais ou menos tanto.” Pelo telefone, Grendene gritou: “O quê?!” Para convencê-lo, Simara foi enfática. “Eu já tinha pago a Daslu à vista. Então avisei: ‘Alexandre, se não for lá, não vai ser em lugar nenhum.'” O ex-marido acabou concordando. “Depois, ele nunca mais tocou no assunto. Deletou da cabeça. É como se a festa não existisse.”
Nas festas de milionários paulistanos, um cerimonialista, banqueteiro, decorador, florista, iluminador, garçom ou manobrista só se destaca quando oferece um serviço “diferenciado”. Para gerenciar os 15 anos de Caroline, Simara contratou Marina Bandeira, casada com o navegador Amyr Klink: “Ela trabalha por hobby, é uma pessoa diferenciada.” Já Marina, que não gosta de organizar festas de debutante, disse ter aceito porque pais e professores também haviam sido convidados, o que garantiria certa sobriedade. “Além disso, é na Daslu, que é um lugar diferenciado”, contou. Na hierarquia, a Daslu é o Maracanã das comemorações. Em junho, antes da festa de Caroline, a loja serviu de palco para o casamento do jogador de futebol Roberto Carlos.
A lista de fregueses de Marina Bandeira inclui a grife Cartier, o Banco Lloyds e as famílias Klabin e Hawilla (do empresário J. Hawilla, braço direito de Ricardo Teixeira, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol). Cobra de 10 a 20 mil reais pelo serviço, dependendo da estrutura a ser montada.
Marina começou a organizar eventos nos anos 80, quando a clientela era formada basicamente por empresas multinacionais ou familiares. “Oitenta por cento do meu trabalho era para montadora de carro”, disse. “Mas naquela época, o máximo que se fazia era fechar um clube, ou hotel, e contratar um cantor. Nos 60 anos da GM, fiz uma festa com Gal, Toquinho, Cauby e Miele no Monte Líbano. Durou quatro dias.”
Nos anos 90, as grandes festas começaram a encarecer. A abertura ao mercado de importados elevou o padrão de exigências. “As montadoras que vinham de fora queriam eventos mais sofisticados”, disse.
Na década seguinte, ocorreu a última mudança. Devido a políticas de incentivo para abertura de capital, companhias antes fechadas, como TAM, Natura e a própria Grendene, lançaram ações na Bolsa. Em 2004 foram sete novas. Três anos depois, 64. A nova leva de acionistas significava, além de lucro, austeridade fiscal. Vera Simão, uma referência em produção de casamentos em São Paulo, explicou: “Quando as empresas faziam eventos, ninguém perguntava quanto se gastava. Com a chegada de auditores, gerentes e CEOs, os gastos passaram a ser mais controlados.” Em resumo: “A partir do momento em que o proprietário abriu mão do controle da empresa, a festa social migrou para a filha dele que se casa.”
Multiplicaram-se as grandes comemorações particulares. Os casamentos, antes íntimos, passaram a ser promoções. “Um diretor de empresa que vai casar a filha pode chamar o prefeito, mas se ele fizer um evento corporativo, não”, explicou Vera.
Segundo Marina Bandeira, não se faz hoje uma celebração de porte por menos de 100 mil reais: “Mas esse é o preço de uma festa pequena. O cliente me diz qual deve ser o piso máximo. Se não, o céu é o limite.” Por limite, se entenda valores de sete dígitos. O casamento de Ronaldo com Daniela Cicarelli, em 2005 (castelo na França, vôo fretado, apresentação de Fatboy Slim), teve o custo estimado em 2 milhões de reais. O de Doda Miranda com Athina Onassis, no mesmo ano, para 1 300 convidados (fora os 400 seguranças), em 1,5 milhão.
Marina Bandeira disse que, mesmo não sendo a festa mais cara que produziu, os 15 anos de Caroline Grendene estavam virando um fenômeno na cidade. “Tem fornecedor que me liga pedindo para entrar”, ela falou. “É que a Simara tem um perfil diferenciado: paga todo mundo adiantado.”
Na sexta-feira, 22 de maio, Simara tinha encontro marcado com dois costureiros para a escolha do vestido. Ela usava camiseta de alcinha e óculos escuros Armani Exchange. Acompanhada de Caroline, foi primeiro ao estúdio de Tiyomi Kitasato, no Sumaré, onde recebeu um orçamento de 39 mil reais por três vestidos – dois para a filha e um para ela. Em seguida, partiu para o atelier do costureiro Júnior Santaella, nos Jardins. No carro, explicou que o valor orçado estava até baixo: “No Demi Queiroz, que a gente foi uns dias atrás, era 28 mil por uma única peça. Alta costura é assim.”
No fim da tarde, juntou-se à dupla a segunda filha, Stephanie, uma moça bonita de pele muito branca e cabelos pintados de vermelho. Na sala de espera do costureiro, Stephanie contou a sua participação na festa: “Insisti muito para que a minha irmã fizesse uma grande comemoração. Tinha medo que, se não houvesse nada, ela se arrependesse depois. Ela é muito meiguinha, gosta de conto de fadas. E uma festa de 15 anos é um conto de fadas. Quando voltamos de viagem, falei para a minha mãe: ‘Se mexe.'”
Stephanie não imaginou que o evento daria tanto trabalho: “Festa na Daslu todo mundo faz. Até aí tudo bem. Mas com quarteto de cordas e Cirque du Soleil, não. É tanta coisa que às vezes me pergunto se vai dar certo.” Embora animada, disse que jamais se colocaria no lugar da irmã. “Gosto mais de viver a festa dos outros. Prefiro a Caroline em foco.”
A conversa foi interrompida pelo costureiro Júnior, que convidou as três a entrarem em sua sala, decorada com dois tapetes persas, um retrato a óleo de Afrodite e rosas vermelhas de plástico. Ao ouvir a descrição de como seria o evento, Júnior animou-se: “Estive em um baile veneziano esse ano. Mas não na Daslu. Acho que era no Fasano. É uma idéia linda, uma fantasia no estilo do imaginário. Me conta o que você quer, Caroline.”
Ao ouvir que a debutante pensara em um vestido branco e outro vermelho, respondeu: “Vermelho significa as coisas boas da vida.” Foi interrompido por Simara: “Vermelho é uma cor excelente. Foi escolha dela. Só cuido dos detalhes, mas não interfiro em nada. Sou uma espécie de assessora especial.”
Júnior prosseguiu: “Caroline, eu acho que tenho uma idéia. Posso te fazer um vestido bem de espanhola, um pouco aquela coisa do filme Moulin Rouge.” Fez um intervalo e continuou: “Caroline, você não faz idéia da quantidade de subempregos que você gera com uma festa dessas. Você faz a economia girar, Caroline.” Simara acrescentou: “E você movimenta profissionais do mais alto nível.” O estilista concluiu: “E embaixo desses profissionais de alto nível, você ajuda os outros, como o garçom, o cozinheiro e o agricultor que colhe os legumes.”
Diante do silêncio da menina, Júnior voltou à seara estética: “E eu logo vejo que a Caroline tem uma descontração, uma alegria, com essa boca de Angelina Jolie. Agora me conta sobre o outro vestido, Caroline. A gente podia mudar. Esse vestido vai ser tão vistoso. Você gostaria que ele fosse branco, não é, Caroline?” A menina respondeu que a idéia havia sido da mãe.
Simara Sukarno não costuma aparecer em revistas de celebridades, colunas sociais, jantares beneficentes ou lançamentos de produtos. Na internet, ela frequenta sites de Carnaval, por ser destaque em desfiles em São Paulo. Alertei-a que a reportagem a tornaria mais conhecida. “Eu sei, mas não tem problema”, ela disse. “Sequestrador lê Caras e O Estado de S. Paulo.” Pedi que contasse quanto custaria a festa e ela respondeu: “A diária da Daslu custou 60 mil. O bufê França, 70. A bailarina do Cirque du Soleil, 26 mil. O resto são custos menores. Seis mil pelas máscaras, 6 mil pelas fotos, 5 mil pelo DJ, por aí vai.” Na estimativa total, 400 mil reais.
Em meados de junho, voltei a encontrar Simara. Ela me aguardava na portaria do prédio, e assim que cruzei a entrada, anunciou: “Vou te dizer, hein. Põe 1 milhão aí na festa. Põe 1 milhão.” Anotei a frase, para, horas depois, ouvir um pedido para que a reportagem não citasse esse valor. Disse-lhe que registraria que a festa teria um custo modesto, se comparada a casamentos que passam dos 3 milhões de reais.
Simara irritou-se: “Quem dá festa de 3 milhões?” Respondi que, segundo ouvira de organizadores de eventos, a família Safra. Ela contestou: “É mentira. Não tem festa de 3 milhões. Os Safra falam isso porque eles dão jóias de presente e contabilizam no custo total.” Esclareceu: “Quando eu era casada com o Alexandre, fiz festa para 2 mil pessoas em Punta del Este, com show da Ivete Sangalo, Daniela Mercury, passagem de primeira classe, hospedagem em hotel cinco-estrelas, com o bufê inteiro indo de São Paulo para o Uruguai. Sei o custo que essas coisas têm. O pessoal gosta de mentir.” Mais calma, sentenciou: “Não existe no Brasil festa mais cara que a nossa.”
Simara dirige um automóvel sem blindagem. Dependendo do local, é acompanhada de seguranças, que a seguem em outro carro, a distância. Na quarta-feira, 17 de junho, ela tinha encontro marcado com Givanethi Arizoni, a Gigi, responsável pela confecção das máscaras. Dirigia com dois celulares entre as pernas, que não paravam de tocar. “Quando você me vê com mais de um telefone, é que minha situação está complicada”, justificou.
No caminho, Simara contou que contratara o ator Humberto Carrão, de 18 anos, para dançar a valsa com Caroline. O ator, que atua no seriado Malhação, é o ídolo da jeunesse dorée paulistana. “Ele tem ensaiado com o Jonatas Faro, da ‘Dança dos Famosos'”, disse. Depois, mostrou um pedaço de tecido branco, com um desenho em cristais. “Foi o Júnior que fez, para mostrar como vai ficar o vestido. Você está vendo a qualidade?”, perguntou. “É seda pura, com Swarovski. E o fio da costura? Fio de ouro. Foi 28 mil reais um vestido e 17 mil o outro. Quando se vai em um costureiro desses, não se barganha. É tudo muito etéreo.”
Chegando à casa da costureira, Simara anunciou: “A Gigi é a pessoa que faz os melhores destaques no Carnaval. Ela tem um acervo de plumas que ninguém tem.” Virando-se para a carnavalesca, continuou: “Fofa, quero sair toda de faisão este ano.” Gigi explicou que cada pena de faisão custa 120 reais, e uma fantasia, quando muito trabalhada, sai por 40 mil reais. Perguntei à costureira se as de Simara eram as mais elaboradas. A própria Simara tratou de responder: “Conta para ele se alguém mais usa roupa bordada. Contrato uma pessoa só para ficar dois meses costurando minha fantasia. Não desfilo com roupa colada.”
As duas começaram a falar das máscaras. Simara encomendara 250 exemplares, divididos em mais de vinte variações. Faltavam as da família: “Uma vermelha e uma branca para a Caroline. Para mim, cinza. Uma fúcsia com prata para a Stephanie. E outra, com cristais Swarovski, para o namorado dela, para combinar com a gravata-borboleta, que também vai ter cristais.”
Enquanto Gigi anotava, Simara lembrou-se de um detalhe: “Ah, deixa eu te falar uma coisa!” Gigi perguntou: “As máscaras das suas filhas? As pequenas?” “Isso, pega aí.” Gigi voltou com uma minimáscara de 5 centímetros de comprimento, para as cadelas da família. Simara esclareceu que se tratava apenas do molde: “As definitivas vão ser cheias de cristais.”
Na manhã seguinte, Simara tinha reunião marcada com Marina Bandeira, encarregada de gerenciar os últimos detalhes da festa. Combinaram de se encontrar em um café nos Jardins. Simara usava colar, brinco, anel e relógio prateados da Bulgari. Após uma conversa de uma hora, na qual trocaram informações sobre as famílias Mansur, Klabin, Maluf, Diniz, Lafer e Collor, passaram a falar da festa.
Marina começou:
– Bebida? O que você comprou?
– Uísque, vinho, saquê, Lambrusco. De champanhe, chegaram 84 garrafas, mas estou mandando vir mais, para ficar pelo menos com 100. Festa sem bebida não é festa.
– E o Cirque du Soleil? São quantas pessoas? Precisam de camarim?
– São umas dez, talvez mais. Anota aí. Vão ter dois motoristas, o Aguinaldo e o Bolívar. O Bolívar é da família. O que ele ligar pedindo, está o.k.
– E qual é a função do Aguinaldo no dia? – perguntou Marina.
– Levar as cachorras e os seguranças das cachorras.
– E o Aguinaldo tem outra função além das cachorras?
– Vai buscar o Humberto Carrão no aeroporto. Ele tem ensaiado com o Jonatas Faro, da “Dança dos Famosos”.
– Águas?
– Da Jolie.
Perguntei a elas o que havia de especial na água. Simara respondeu:
– As garrafas são personalizadas com o adesivo da festa. Assim como as camisas que vou distribuir.
– Que música que ela quer na entrada?
– A d’A Bela e a Fera. E tem o stand-by do Chiquinho Scarpa. Ele quer vir de qualquer jeito. É a rentrée dele, uma situação muito emocionante. Vou ter que tomar um calmante.
Após três horas de conversa e catorze cigarros fumados, Simara levantou-se, pagou a conta e levou o isqueiro do garçom. Tinha encontro marcado, em casa, com Vinicius Credidio, responsável pela produção do making of. Enquanto dirigia, o telefone tocou. Era Credidio, para avisar que já estava chegando. “Oi, fofo. Qual é o seu carro? Uma BMW preta? O.k., vou avisar a portaria”, respondeu Simara. Comentei não imaginar que um produtor de making of pudesse ter um carro desses. “E casa no Morumbi!”, retrucou Simara. “Custa 17 mil reais o trabalho dele. É um mundo. Estou contratando só os melhores.”
No sábado, 27 de junho, data da festa, Simara Sukarno acordou às cinco da manhã. “Não consegui dormir mais”, disse. “Sabe o que eu fiz? Desci para lavar o carro.” Às onze, foi ao Encrenquinha’s Pet Shop. Usava um conjunto de calça e camisa roxa, da marca Bebe Sport. Com as três cachorras no colo, deu partida no automóvel. “Quem já está acostumado sabe que comigo nada é impossível”, comentou, diante da cena. Enquanto cruzava o portão, o vigia gritou: “É hoje, né?”
Faltavam menos de doze horas. Os números estavam fechados. No total, ela importara 20 mil rosas da Colômbia, alugara dez esculturas, doze castiçais e seis árvores cenográficas. Encomendara 450 velas e mandara fazer um pequeno palco com escadaria, para que a filha surgisse por trás das cortinas no momento da valsa. Os pães de mel eram 200; os bem-casados, 350; e doces variados, 1 200. No cardápio, dos canapés à sobremesa, escolhera 34 pratos diferentes, como caviar e nhoque de mascarpone com azeite de trufas. Fechara o efetivo em 260 funcionários. Para aliviar a pressão sobre Caroline, reservou-lhe um dia no spa Kiron, do Shopping Iguatemi.
Chegando ao pet-shop, Simara falou, olhando para as cachorras: “Quem quer sair do carro levanta a pata.” Dentro da loja, contou que as três ficariam no camarim, juntando-se à festa no momento da valsa, todas com máscaras de cristais Swarovski. Enquanto aguardava o banho dos animais, o telefone tocou: “Oi, Perrissé. Não é terno, é smoking. Volta na loja para eles trocarem.” Ao desligar, contou que alugara smoking para os amigos da filha que não podiam arcar com o custo, e emprestara vestidos seus para quatro convidadas. “Ninguém vai deixar de ir à festa por falta do que vestir”, disse.
Às seis da tarde, na Daslu, Simara ainda usava o traje Bebe Sport roxo. No camarim dela e da filha, entre roupas, presentes, brindes, quitutes, garçons, maquiadores, cabeleireiros, fotógrafos e um mordomo para os cachorros, havia duas malas, uma bolsa, uma pasta e uma pochete – todas da Louis Vuitton. De uma das malas, Simara tirou um enorme mantô cinza de vison. Justificou: “Trouxe um casaquinho para não ficar doentinha.”
Uma hora depois, ela entrou no chuveiro que, devido a um problema no gás, estava gelado. Do lado de fora, a cerimonialista Marina Bandeira falava em três celulares ao mesmo tempo. Pelo primeiro, perguntava onde estava o CD com as fotos da aniversariante, para que fossem projetadas na rede interna de televisões. Pelo segundo, queria saber quem impedia os vestidos de entrar pelo elevador da frente. Pelo terceiro, buscava entender por que, em uma casa que cobra 60 mil a diária, a água do chuveiro não esquentava. Como o banho continuasse gelado, Simara gritou, ao desligar o registro: “Quase morri!” Em seguida, vestiu um conjunto Chanel.
Faltando duas horas para o início, Marina reuniu-se com os sete recepcionistas e avisou: “Cada pessoa que chegar vai trazer um convite vermelho. Se não trouxer, procura na lista. Teve muita inclusão de ontem para hoje.” Três dias antes da festa, Simara resolvera convocar a Caras. Explicou: “Foi um pedido do Chiquinho Scarpa, que é um perigo na minha vida. Ele é a única pessoa que me faz abrir certas exceções. Não quero ser fotografada, mas se sair uma foto do Chiquinho com a Caroline, tudo bem.” (Chiquinho não compareceu. Sob o título “Veneza recriada em seus 15 anos”, a revista publicou três fotos de Caroline, ao lado da mãe, do pai, da avó e da irmã.)
Às 19h30, Caroline chegou, em companhia de um guarda-costas, que passou todos os minutos da festa a 3 metros dela. Simara falou para a filha: “Olha, pegaram todas as rosas da Colômbia. Parece que só sobrou uma única por lá. Era isso que você queria?” Caroline respondeu: “Nossa, está perfeito. Como eu imaginei.” Abraçadas, as duas se recolheram ao camarim.
Às 21 horas, entraram os primeiros convidados. Às 21h30, o quarteto da Sinfônica começou a tocar. Três minutos depois, chegaram as cachorras. Às 22h30, após fazer cabelo, maquiagem e colocar o vestido vermelho – o primeiro da noite – Caroline juntou-se à festa. Tirou fotos por dez minutos, cumprimentou os convidados um por um e sentou-se à mesa para jantar. Às 23h30, tirou fotos com o pai, que viera da sede da Grendene, em Porto Alegre, especialmente para a comemoração, com volta marcada para o dia seguinte. Às 23h40, em uma sala mais afastada, Caroline foi apresentada ao ator Humberto Carrão. Conversaram por alguns minutos, antes de ensaiar os passos da valsa. A menina passara o último mês praticando. Como o ator não se dedicara com o mesmo afinco, Simara ensinou-lhe a dança em cima da hora. Marina Bandeira orientou: “Supernatural, Carol, que nem casalzinho feliz.” Enquanto Carrão dava entrevista para a Caras, Caroline voltou ao camarim para trocar o vestido vermelho pelo branco.
À uma da manhã, DJ, músicos, garçons, recepcionistas, seguranças e faxineiras pararam para o grande momento da noite. Em um telão suspenso sobre a pista, foi projetado o vídeo do making of. Primeiro, os amigos de Caroline falaram: “Carol, eu quero que esta noite seja inesquecível, que nossa amizade dure para o resto de nossas vidas”, ou “Um beijo, Carol, que você curta demais a sua festa.”
Depois, o vídeo mostrou Simara, com as três cadelas no colo. Chorando, ela dizia: “Difícil falar da filha. Ela tem uma luz e uma energia que contagiam. Muitas vezes sinto que sou eu a filha, e ela, a mãe. Quando ela me falou dessa festa, nós estávamos no Japão. Achei engraçado, porque ela não gosta de aparecer. Ainda assim, ela resolveu que gostaria de fazer um baile de máscaras. Me envolvi profundamente, mas cada coisa foi feita pensando nela, para que tenha uma noite inesquecível.”
Caroline apenas escutou a mãe, sem vê-la: estava com duas funcionárias do cerimonial, atrás de um palco a 40 metros do telão, aguardando o sinal para atravessar a cortina. A permissão foi dada à 1h10, quando soaram os primeiros compassos de sua música preferida, o tema de A Bela e a Fera. Iluminada por um canhão de luz, ela desceu os três degraus do palco, deu o braço esquerdo ao ator de Malhação e caminhou até a pista de dança. Dançaram a valsa por três minutos. Depois, Caroline repetiu os passos, amparada pelo pai.
Em seguida, tirou fotos com a família, ator e cerimonialista, antes de beber o primeiro gole de champanhe. Dedicou quinze minutos a ser fotografada com os convidados. À 1h35, a acrobata do Cirque du Soleil entrou em cena. Findo o espetáculo, todos começaram a ir embora. Marina Bandeira contou que a festa durou até as seis da manhã: “Acabou com a Simara feliz da vida tomando champanhe. E a Caroline chorando de alegria.”