THE END
| Edição 37, Outubro 2009
Quem adiou para o próximo mês a participação no nosso estrepitoso II Concurso Literário se estrepou de verde e amarelo. Ele está sendo encerrado nesta edição de aniversário – sem aviso prévio, bruscamente, para não aumentar a dor da perda. O último brasileiro a poder se declarar vencedor da jocosa empreitada literária é um paranaense de Maringá ("Maringá, Maringá! Depois que tu partiste tudo aqui ficou tão triste…", como era mesmo essa música?), Michel Queiroz, cujo personagem, numa intuição inacreditável, morre junto com o concurso.
A partir da próxima edição, quem passa a ganhar a chance de acesso às cobiçadas páginas da revista é a tribodos cartunistas/chargistas/criadores de humor gráfico. Do anonimato, poderão saltar para a imortalidade piauiense. O novo e eletrizante concurso traços & rabiscos premiará o desenho (com ou sem legenda) que provocar os risos mais escandalosos na redação, local onde imperam a sisudez e a gravidez (foram cinco grávidas em um ano!). Qualquer assunto é assunto, mas aqui vai uma dica: situações do cotidiano terão acolhida mais generosa do que charges políticas – até porque consideramos que José Sarney (vide )é um exemplo de garbo, discernimento, patriotismo e hálito refrescante.
Também serão aceitas tiras de no máximo três quadrinhos. Os desenhos deverão ser enviados até a sexta-feira, 23 de outubro, para o e-mail: concurso@revistapiaui.com.br.
Atenção: será submetido a opróbrio, e talvez escarradas na fuça, quem enviar trabalhos já publicados – seja em livros, jornais, revistas, zamizdats, pichações, sites, propagandas, blogs, cartazes, grafites, facebooks, pôsteres, enciclopédias, dazibaos, orkuts, mictórios públicos, cartazes, cardápios, tatuagens, bulas, calendários twitters, rettiwt (o meio de comunicação secreto da piauí) e todo ou qualquer meio de expressão existente ou que venha a ser inventado nos próximos 3 974 anos.
O ÚLTIMO VENCEDOR
TRÊS MARIAS_Michel Queiroz
Terça-feira, 7h43, av. Brasil: "aí eu peguei e liguei na hora…", "parei de fumar semana passada e…", "acredita que engordei outra vez…", "ali ninguém presta. Mesmo…", "comprei na liquidação, mas não conta…", "isso! Na gaveta de baixo, abre ela…". As pessoas passavam por ele como se não existisse. Usavam roupas coloridas, uniformes, casacos, decotes. Era como se não estivessem na mesma estação, na mesma cidade, na mesma época. Ele seguia em linha reta, com um olhar altivo. Passou pela faixa de pedestres, banca de jornal, Banco Itaú, Mercantil e Bradesco. A cada minuto batia a mão no peito conferindo se a carta estava no bolso. Havia tomado banho decente e se barbeado após semanas. No pescoço, uma pequena cicatriz: culpa da navalha e da falta de prática. Os sapatos estavam engraxados e combinavam com a camisa de linho. Dobrou à direita na Getúlio Vargas e quase pisou nuns pombos que bicavam a calçada. Parou por um momento e olhou pra cima. O céu, já azul, era invadido por algumas nuvens. Ao redor, alguns prédios e letreiros de publicidade. À frente, a catedral. Era bem alta, pena não ter janelas. Andou mais alguns passos e entrou no Edifício Três Marias. Disse ao porteiro que iria à radio e entrou no elevador. Avaliou que oito andares eram suficientes. Conferiu a carta no bolso da camisa e apertou o botão do 8º. O elevador era barulhento. O edifício, um dos mais antigos de Maringá, década de 1960. Saltou no andar escolhido assoviando as notas de Lady Writer, o andar vazio. Verificou as janelas, todas fechadas. Olhou a cidade de cima e achou antipática. Tomou impulso no corredor e pulou contra a vidraça, depois contra o vento e caiu em cima dos pombos.
Quarta-feira, 7h44, av. Brasil: "não soube? foi ali pertinho, na Getúlio…", "rapaz novo, nem 40 anos…", "é verdade! O vidro do carro quebrou com o impacto…", "deve ser mais um desses drogados…", "Não posso. Não posso pensar na cena que visualizei e que é real…", "parece que era escritor, mas ninguém conhece…", "tinha uma carta no bolso, mas ninguém entendeu a letra…".