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Que o Senhor possa continuar te abençoando

A macaca Kate precisava da paz de Cristo

Clara Becker | Edição 38, Novembro 2009

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Primeiro os animais, depois as pessoas, depois os objetos”, anunciou o frei Carlos Quinelato ao microfone, na tentativa de organizar a fila da bênção. Era 4 de outubro, dia de são Francisco, o padroeiro dos animais. Em respeito à data, gestantes, idosos e mulheres com crianças de colo perdiam a preferência na Paróquia São Francisco de Assis, no Rio Comprido, Zona Norte do Rio de Janeiro. A prioridade, incontestável, era para bichinhos de toda sorte – de mamíferos a répteis, que, durante toda manhã, povoaram a igreja para a tradicional bênção dos animais.

Eram sete da manhã quando frei Carlos saiu de sua cela no convento, que divide com outros cinco frades, e desceu para a paróquia, onde benzeria mais de 100 animais. Frei Carlos nunca quis ser padre, o que o impede de celebrar os ritos dos sete sacramentos da Igreja. É como ser diplomata e não querer ser embaixador. “As pessoas não se conformam com a minha opção, tem um lobby imenso me pressionando para que eu vire padre, mas prefiro ser um irmão religioso e trabalhar mais na parte de educação pastoral”, disse. Neste dia, impossibilitado de comandar a missa, ficou incumbido de dar a bênção aos animais.

Vestia o hábito sobre uma calça jeans, blusa branca e tênis preto. “Para o caso de chover”, justificou. Com uma caldeirinha de água benta na mão esquerda e um ramalhete de folhas de oliva na direita, abençoou os primeiros ocupantes da fila: a jiboia Boazinha, a arara Farofa e o coelho Peludo. Os três haviam sido levados por dois biólogos da Fundação RioZoo, que administra o zoológico carioca. Apesar de o biólogo Pedro Paulo Farah ter dito não haver motivo para medo, a menina Luisa Duarte, de 10 anos, achou melhor levar seus hamsters Tico e Teco para o final da fila. No dia anterior, frei Carlos havia ido pessoalmente ao Jardim Zoológico aspergir água benta de jaula em jaula. Com a experiência que os 23 anos de bênçãos lhe deram, percebeu que Kate, a macaca que atua na novela das sete, estava estressada. “Precisava da paz de Cristo.”

 

Depois da bênção no pátio, os bichos e os seus donos adentraram a igreja para assistir à missa. Eram mais de cinquenta cachorros de todas as raças, trajando as últimas tendências da alta-costura canina: sapatinhos de couro, vestidinhos de bailarina e coleirinhas douradas. Além de cães, a fila estava tomada por gatos, periquitos, papagaios e porquinhos-da-índia. Iguanas não havia – sinal de que o réptil, outrora popular, abandonou definitivamente a seleta lista de animais domésticos.

A julgar pelos latidos de Bart, um cocker spaniel hiperativo, seria complicado juntar cachorros, gatos, pássaros e hamsters em um ambiente fechado. Não foi o que ocorreu. “Os animais se comportam durante a missa, é muito bonito, eles ficam em harmonia, você não houve um pio”, explicou frei Carlos. Acrescentou ainda que nunca ocorreu de um bichinho fazer necessidades dentro da igreja ou avançar em alguém.

Em seguida, retificou: “Uma vez uma macaca mordeu o dedo do frei Carlos Roberto Charles, nosso pároco.” No ano de 1998, o circo Bartolo levou todos os seus animais para serem abençoados. Dois caminhões pararam na porta da paróquia, atulhados de camelos, elefantes, leões e chimpanzés (a Monga, infelizmente, teve que se contentar com a missa para humanos). Frei Carlos Roberto Charles se aproximou demais de uma macaca, que acabou lhe mordendo o dedo. Teve que ser levado às pressas ao hospital para tomar vacina antirrábica.

 

 

Devido à falta de espaço dentro da paróquia, frei Carlos permaneceu a maior parte do dia no pátio externo, abençoando os animais que chegavam. Teve que acompanhar a missa do arcebispo dom Orani pelo rádio de pilha. Como a demanda aumentasse, passou a benzer por atacado – formava um grupo de quatro ou cinco animais para aspergir água benta. “Que o Senhor possa continuar te abençoando. Que você seja instrumento da paz de Cristo”, dizia. Enquanto borrifava a água, foi abordado por Ana Pontes, dona de Belinha, uma poodle branca que sobreviveu à retirada do útero e a uma hemorragia interna. “Foi graças a são Francisco que ela se curou. Rezei tanto que melhorou também das convulsões e parou de tomar Gardenal”, disse. Nem doutor Fritz faria melhor.

Nessa noite frei Carlos se deitou à uma da manhã, depois que as barracas de comidas e lembrancinhas na frente da paróquia foram desmontadas. Antes de dormir, percebeu que Frajola, o gato vira-lata recém-adotado pelo convento, não havia sido abençoado. Ao que parece, o felino, frequentador assíduo da paróquia, preferiu manter um pé na heterodoxia.

Clara Becker
Clara Becker

Clara Becker é jornalista e vive no Irã. É coautora dos livros The Football Crónicas e Los Malos

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