ILUSTRAÇÃO: ANDRÉS SANDOVAL_2015
Distrações
Cada um escolhe as suas
João Moreira Salles | Edição 112, Janeiro 2016
Os alunos receberam a prova e logo mergulharam nas questões, e continuariam assim, absortos, se primeiro um, depois outro e por fim todos não se dessem conta de que um colega enfrentava dificuldades. Luiz Fabiano Pinheiro olhava para a página, daí para a mão, para a página, mão, página, mão. Incapaz de segurar a caneta, entregou a prova em branco. “Foi sério”, recordou na sala do pequeno apartamento em que mora no bairro do Flamengo, Rio de Janeiro. “Prova escrita, a gente tinha cinquenta minutos e eu assim”, disse, as pontas dos dedos coladas em bico. “Foi o Parkinson que travou.”
A disciplina era “superfícies de Riemann”, uma encrenca da geometria diferencial; o local, o Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada; o curso, a pós-graduação; e os colegas, jovens prestes a concluir o doutorado. Pinheiro tem 73 anos, é divorciado, pai de cinco filhos e avô de sete netos. Bacharel em matemática pela Uerj, lecionava em escolas de ensino médio e fundamental até se aposentar alguns anos atrás. Fazia apenas um mês que chegara ao Impa com a intenção de se tornar doutor.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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