ILUSTRAÇÃO: ANDRÉS SANDOVAL_2016
Sanitário gourmet
Um faxineiro a serviço da sofisticação
Roberto Kaz | Edição 120, Setembro 2016
É fim de tarde no Grand Central Oyster Bar, restaurante centenário e chique que se localiza no subsolo de uma estação ferroviária de Nova York. Do lado de fora, a multidão corre para não perder os trens que partem rumo ao norte do estado. Do lado de dentro, outra multidão – essa mais cordata, formada por executivos, advogados, turistas e aposentados – disputa um lugar à mesa, para se fartar com os mais de duzentos tipos de ostra servidos na casa.
Alheio à algazarra, Rafael Rodriguez permanece de pé em frente à pia do banheiro masculino, onde bate ponto há quase vinte anos. Ao longo desse período, o trabalho – que se resumia a limpar o chão, os vasos sanitários e o lavatório – foi ganhando em sofisticação. Inicialmente, Rodriguez passou a oferecer itens de perfumaria à clientela. Depois, sentiu a necessidade de provê-la com artigos de primeiros socorros. Por fim, intuiu que o efeito da ostra no hálito de um homem poderia azedar o destino de uma eventual investida romântica. Providenciou escova de dente e bala de menta – que alocou sobre a pia, como os demais mimos, à distância (sugerida) de um agradecimento monetário. “Alguns não usam nada e me dão 5 dólares. Outros se perfumam e vão embora sem pagar um centavo.”
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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