ILUSTRAÇÃO: ANDRÉS SANDOVAL_2016
Volta às origens
Depois do crime, o exílio
Tiago Coelho | Edição 120, Setembro 2016
Com um turbante colorido, salpicado de desenhos tribais africanos, Pedro Alvarenga desce o morro do Vidigal, no Leblon. São sete da manhã. Por volta das nove, precisa estar no outro lado da cidade para uma aula de estética. No sopé do morro, pega o primeiro dos dois ônibus que o levarão até a Ilha do Fundão, onde se localiza o campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ. Enquanto faz o trajeto, observa a paisagem mudar drasticamente. Na orla da Zona Sul, as grades que rodeiam os prédios o incomodam. “O medo virou o principal afeto do Rio”, comenta um tanto aflito, talvez sentindo o peso de usar como sinônimo palavras quase antagônicas – medo e afeto. Depois de atravessar o túnel Santa Bárbara, desemboca no Centro e avalia a Zona Portuária, reconstruída para os Jogos Olímpicos. “Chamam de revitalização o que se deu aqui, só que as obras soterraram o passado.” Na Zona Norte, avista a favela da Maré e se impressiona com a imensidão da comunidade. “É precária, mas potente, viva.” Quando finalmente chega à Ilha do Fundão, desce em frente ao prédio modernista que abriga a Escola de Belas Artes e vai para o 7º andar.
Terminada a aula, caminha em silêncio até a janela da sala. “Foi ali que encontraram o Diego”, diz, enquanto aponta para a Baía de Guanabara. “Preto, pobre e viado, como eu. Quem o matou deve continuar por aí.”
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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