“Mother – A Busca pela verdade” – que verdade?
Em matéria de adendo infeliz, “a busca da verdade” é dos mais tristes. Fora o lugar comum, trai a essência do filme dirigido por Bong Joon-ho que, justamente, questiona a possibilidade de conhecer a verdade. É mais um caso de deformação ao batizar um filme em português.
Em matéria de adendo infeliz, “a busca da verdade” é dos mais tristes. Fora o lugar comum, trai a essência do filme dirigido por Bong Joon-ho que, justamente, questiona a possibilidade de conhecer a verdade. É mais um caso de deformação ao batizar um filme em português. Seguindo uma fórmula recorrente, o título original é preservado – “Mother”, acrescentando-se o que parece ser, muitas vezes erradamente, uma sinopse do enredo.
Exibido na mostra do Festival de Cannes, em 2009, “Mother” teria tido grande sucesso comercial na Coreia do Sul, segundo o “Boletim Filme B”, vendendo mais de um milhão de ingressos em seus primeiros quatro dias de exibição. Seria interessante saber o que levou a tamanho sucesso: empatia do público com um filme produzido em seu próprio país? Sensibilidade cinematográfica do espectador coreano? Algum outro motivo?
Depois de ter sido exibido, aqui no Brasil, em pelo menos dois festivais, “Mother” foi um fracasso comercial quando lançado, em fevereiro, em São Paulo, Brasília, Juiz de Fora e Vitória. Com isso, a exibição no Rio parece incerta, o que me leva, excepcionalmente, a comentar um filme que não está mais em cartaz e que deve se tornar uma raridade, difícil de ver.
É uma pena. “Mother”, dirigido por Bong Joon-ho, é dos melhores filmes exibidos recentemente no Brasil. Talvez, com um título melhor e um lançamento menos burocrático, pudesse ser visto ao menos por entre 20 e 30 mil pessoas.
Em certos filmes há momentos que se destacam do conjunto e se tornam inesquecíveis. Pode ser uma sequência, um gesto ou um olhar. Às vezes, é o primeiro plano que tem o poder de criar por si mesmo um universo ficcional próprio. Sua composição e duração, seu ritmo, a movimentação da câmera e dos atores, o local visto, definem um código original que, uma vez decifrado, permite interagir com o filme.
O primeiro plano de "Mother" é um desses momentos. Editado como um prólogo, antecedendo o título, dura cerca de 2. Nada é dito, e será preciso ver o filme até perto do final para saber como a situação se encaixa na história.
Embora, mesmo assim, haja uma diferença marcante entre as duas vezes em que o plano é usado.
No prólogo, ele vale por si mesmo, por sua forma, sua aparente falta de sentido, sua leveza. De um ponto elevado, vemos uma mulher se aproximando, em silêncio, por um campo ondulante e luminoso. No início, o movimento da câmera e da personagem são ligeiramente dissociados, custando um pouco a se interligar. A mulher chega a ficar na lateral direita do quadro, vista ainda de corpo inteiro, quando a câmera se estabiliza no nível dela. Olha em volta, encara a lente e inclina a cabeça. A música começa com uma percussão à qual violão e outros instrumentos se somam. A mulher ergue os braços, e balança o corpo no ritmo da melodia romântica; tapa o rosto e a boca com uma mão, vira de costas e há um corte para o segundo plano, sombrio, da mesma mulher, sobre o qual é superposto o título.
Essa descrição não faz justiça ao plano e ao seu efeito na abertura de "Mother". Nem dá conta do filme com um todo. É apenas a indicação de um momento inspirado. Na última sequência do filme, a mesma música leva a personagem a retomar a dança em contraluz, integrando-se aos companheiros da excursão dos ‘Pais agradecidos".
É por momentos como esses que um filme se diferencia. As histórias tendem a se repetir. A forma de contá-las é que faz a diferença.
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