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As regras do jogo – Cavalcanti, Kossakovsky e Forgács
Depois das famosas quatorze “normas de conduta” mandadas por Alberto Cavalcanti (1897–1982), em 1936 (ou teria sido em 1948, segundo a maioria das publicações?), aos jovens documentaristas dinamarqueses, pelo menos dois cineastas contemporâneos, um russo, outro húngaro, animaram-se a propor regras a serem seguidas para fazer documentários.
Depois das famosas quatorze “normas de conduta” mandadas por Alberto Cavalcanti (1897–1982), em 1936 (ou teria sido em 1948, segundo a maioria das publicações?), aos jovens documentaristas dinamarqueses,Post pelo menos dois cineastas contemporâneos, um russo, outro húngaro, animaram-se a propor regras a serem seguidas para fazer documentários.
Cavalcanti começou recomendando não tratar de gerais: “você pode escrever um artigo sobre os correios, mas deve fazer um filme sobre uma carta”. E terminou defendendo experimentar: “NÃO perca oportunidade de experimentar: o prestígio do documentário só foi conseguido pela experiência. Sem experiência o documentário perde o seu valor. Sem experiência, o documentário deixará de existir.”
Victor Kossakovsky (1961 – ), diretor, entre outros, de (2004), Svyato (2005) e Longa vida às antípodas! (2011), este último lançado no Festival de Veneza deste ano, propôs suas dez normas numa master class, em 2006, no Festival de documentários de Amsterdam (IDFA), começando por uma recomendação de caráter existencial, menos pragmática, portanto, do que a de Cavalcanti: “Não filme se puder viver sem filmar”. E conclui auto-irônico: “Não siga minhas regras. Encontre suas próprias regras. Sempre há alguma coisa que só você, e ninguém mais, pode filmar.”
No recém lançado Cinema’s Alchemist – The Films of Péter Forgács, editado por Bill Nichols e Michael Renov (University of Minnesota Press, 2011), Forgács (1950 – ) dá sua contribuição aos mandamentos do documentarista, declarando quais são as “regras do seu jogo de retalhos”:
“Primeiro, nenhuma tautologia de significado e nenhum uso de fatos como ilustração. Segundo, encontre qual é a mágica dessas tiras inconscientes de filmes domésticos, a mágica de recontextualizar, camada por camada, para sentir a intensidade gráfica de cada fotograma. Terceiro, quero fazer filmes para meus amigos, meu grupo de referência: ‘Veja o que encontrei para você’, enquanto descasco o material de arquivo até suas raízes. Quarto, não explique ou ensine, mas envolva o espectador o máximo que for possível. Quinto, dirija-se ao inconsciente, ao sensível, ao que não pode ser dito, ao que pode ser tocado mas é o lado mais silencioso do espectador. Sexto, deixe a música orquestrar e regular a história emotiva. Sétimo, tive que aprender a ouvir minha própria voz interna mais baixa, o guia da criação – o que consigo se afugentar, ou reduzir, o ruído no canal.”
Autor de documentários como O êxodo do Danúbio (1998), O filme de Angelo (1999), Cão negro: histórias da guerra civil espanhola (2005), Miss Universo 1929 (2007), e Hunky Blues: O sonho americano (2009), entre mais de 40 filmes feitos a partir de 1978, Forgács trabalha principalmente com imagens feitas por cineastas amadores e a partir de filmes de família que vem reunindo em Budapeste na Private Photo and Film Archive Foundation – PPFA. Pouco conhecido no Brasil – Cão negro foi exibido no É Tudo Verdade, em 2006, mas Forgács não recebeu na ocasião, nem depois que eu saiba, a atenção que seus filmes merecem. De difícil acesso mesmo em DVD, haverá, porém, oportunidade, entre o final de janeiro e o de fevereiro, de reparar essa lacuna na nossa cultura cinematográfica, graças à mostra com curadoria de Patricia Rebello, no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio, Brasília e São Paulo, para a qual está prevista a presença de Péter Forgács.
Uma motivação forte para fazer seus filmes, nas próprias palavras de Forgács, é “realmente amar esses velhos filmes arranhados […] O panorama geral do documentário [didático e de entretenimento] é horrível, como sempre foi. […] Com poucas exceções eu não suporto documentários [desse gênero]”.
Sábias palavras.
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