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questões cinematográficas

Boss – triunfo do mínimo denominador comum

Em exibição semanal às quintas-feiras, no canal TNT, desde o início de abril, Boss é um exemplo do que a televisão tem a oferecer de melhor em matéria de séries dramáticas – a banalização do óbvio com tinturas shakespearianas, referências pseudo-cultas, e embalagem caprichada com laço de fita e tudo.

| 24 maio 2012_14h02
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Em exibição semanal às quintas-feiras, no canal TNT, desde o início de abril, Boss é um exemplo do que a televisão tem a oferecer de melhor em matéria de séries dramáticas – a banalização do óbvio com tinturas shakespearianas, referências pseudo-cultas, e embalagem caprichada com laço de fita e tudo.

Vale a pena ver, embora, a esta altura, a degringolada semanal, capítulo a capítulo, esteja quase no fim. O iraniano Farhad Safinia, criado na Inglaterra, formado em Cambridge, e roteirista de Apocalypto (2006), de Mel Gibson, além de criador, roteirista e produtor de Boss, é um talento reconhecido para o mínimo denominador comum.

Com elenco, locações e produção impecáveis, situada em Chicago, onde foi filmada, a série estreou com episódio dirigido por Gus Van Sant – assinatura tão prestigiosa quanto inesperada. Depois dos créditos de apresentação, superpostos a travellings em câmera lenta mostrando a cidade ao som de Satan Your Kingdom Must Come Down, na primeira sequência o prefeito Tom Kane – o boss – recebe de uma médica, em um matadouro abandonado, a notícia de que está com Lewy Body – rara doença degenerativa – e que tem de 3 a 5 anos de vida.

O abalo provocado no personagem com a notícia da sua doença terminal é indicado, na sequência seguinte, numa sucessão de planos montados com cortes descontínuos, mostrando Kane indo embora do matadouro em seu carro oficial. Segue-se seu discurso referindo-se a Chicago como a “mais americana das cidades” e condenando a corrupção ao saudar o governador corrupto. 

Seria preciso continuar? Depois desses cerca de oito minutos e meio iniciais, o espectador mais exigente deveria ser capaz de mudar de canal e desistir de ver a continuação da série. Mas o produto, embora raso, é cativante, a lucidez a partir das dez da noite fraqueja, e algumas semanas foram necessárias para conseguir, em retrospecto, não só perceber o acúmulo de indícios do repositório de lugares comuns concentrados no início do episódio de estreia, como também no que a série foi se transformando, já sem a direção de Gus Van Sant.

Primeiro, há a letra da música de Robert Plant e as imagens de Chicago: “Satã, seu reino precisa ruir/Ouvi a voz de Jesus clamar/Satã, seu reino precisa ruir/Vou rezar até que destruam seu reino/Ouvi a voz de Jesus clamar/Satã, seu reino precisa ruir” – síntese do que virá.

Nas três sequências seguintes, o espectador é apresentado, em rápida sucessão, ao personagem principal, informado que ele está desenganado, que é o prefeito de Chicago e chama-se Tom Kane, referência nada sutil ao consagrado personagem criado por Herman J. Mankiewicz e Orson Welles.

Pela ordem, temos Satanás, seguido de Chicago, Boss, Lewy Body, matadouro abandonado, jump-cuts, Kane e um discurso hipócrita. Com tal acúmulo de ingredientes concentrados no início do primeiro episódio qual seria o desdobramento possível, a não ser o denso e repetitivo desfile de situações esquemáticas, narradas em alta velocidade, no qual a série vai se transformando?

Até quando a derrocada de Tom Kane se sustentará? A brilhante interpretação de Kelsey Grammer será capaz, por si só, de prender nossa atenção até o fim? A alta qualidade da produção resistirá à banalização do roteiro? A falta de alternativa no dia e horário da exibição nos condena a continuar vendo, por mais duas quintas-feiras, mais do mesmo?

Boss estreou nos Estados Unidos em 2011, onde a segunda temporada, com dois episódios a mais do que os oito da anterior, está prevista para agosto.

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