Aliando-se ao “atraso”, FHC acredita que venceu a esquerda e “neutralizou” a direita. Mas talvez ele tenha neutralizado a direita porque tomou seu lugar – e passou a exercer suas funções ILUSTRAÇÃO: CÁSSIO LOREDANO_2017
Do fim da era Vargas à vitória do atraso
Uma leitura dos Diários da Presidência de FHC
Celso Rocha de Barros | Edição 133, Outubro 2017
Como Hamlet, os Diários da Presidência de Fernando Henrique Cardoso trazem uma peça dentro da peça: enquanto escrevia suas anotações (e governava o Brasil), FHC leu os diários então recém-publicados de Getúlio Vargas. Esse encontro de presidentes-escritores é importante: em mais de um momento, FHC declarou sua intenção de encerrar a “Era Vargas”.
Não era tarefa fácil. Afinal, se contarmos a Era Vargas como o período que se iniciou com a Revolução de 30 e terminou com o fim do regime militar, ela foi, na maior parte do tempo, um enorme sucesso. O Brasil esteve entre os países que mais cresceram no século XX. Mas o modelo de desenvolvimento capitaneado pelo Estado, que começa com Vargas e chega a seu limite com Geisel, esgotou-se nos anos 80. Embora já fosse um intelectual internacionalmente reconhecido, foi nos anos 80 que nasceu o político FHC, e é nítido como essa experiência formativa o marcou. Na p. 425 do vol. 3 dos Diários, por exemplo, o ex-presidente escreve sobre a necessidade de “um programa viável para o Brasil sair da situação em que foi deixado pela década que vai, na verdade, dos anos 1980, 82, a 92”.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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