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    Bad Science

Questões da Ciência

Crítica em recesso

Para tristeza de alguns e alívio de outros, a coluna Bad Science [Ciência Ruim], publicada todo sábado no Guardian por Ben Goldacre, foi temporariamente interrompida na semana passada. Nos últimos oito anos, esse psiquiatra e divulgador de ciência usou seu espaço no jornal britânico para denunciar a medicina alternativa e outras práticas terapêuticas questionáveis, textos jornalísticos que traziam erros científicos e anúncios publicitários que recorriam à ciência para vender seus produtos.

Bernardo Esteves | 08 nov 2011_16h54
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Para tristeza de alguns e alívio de outros, a coluna [Ciência Ruim], publicada todo sábado no Guardian por Ben Goldacre, foi temporariamente interrompida na semana passada. Nos últimos oito anos, esse psiquiatra e divulgador de ciência usou seu espaço no jornal britânico para denunciar a medicina alternativa e outras práticas terapêuticas questionáveis, textos jornalísticos que traziam erros científicos e anúncios publicitários que recorriam à ciência para vender seus produtos.

Na coluna do último sábado, Goldacre anunciou que vai se ausentar por seis meses, enquanto termina a redação do seu novo livro, e aproveitou para fazer um balanço de alguns dos artigos mais emblemáticos publicados por ele.

Em quase uma década de coluna, Goldacre se dedicou de forma recorrente a alguns temas. A homeopatia, por exemplo, foi um de seus alvos prediletos – no blog da coluna, nada menos que 52 textos já foram publicados sob essa categoria. Desmontar a relação que já foi apontada entre vacinas e autismo foi outra prioridade do autor, bem como apontar as relações espúrias entre a indústria farmacêutica e os periódicos de medicina (tema já tratado neste blog).

Com estilo mordaz, o colunista teve no noticiário de ciência da imprensa britânica a matéria-prima para a maior parte de suas colunas. Goldacre atacou os textos empurrados pelas assessorias de imprensa de institutos de pesquisa e companhias privadas e publicados sem grande questionamento pelos jornalistas. Criticou a falta de preparo dos repórteres para cobrir ciência, em especial no trato com as estatísticas. No livro de 2008 em que compilou algumas de suas colunas, ele escreveu:

Minha hipótese básica é a seguinte: quem conduz a mídia são pessoas formadas em ciências humanas com pouco entendimento da ciência, que usam sua ignorância como um distintivo de honra. (…) A ciência é retratada na forma de declarações de verdade didáticas, incompreensíveis e sem fundamento na boca de cientistas, eles próprios apresentados como figuras de autoridade arbitrárias e poderosas. (…)

Não causa espanto que Ben Goldacre não seja uma unanimidade entre os divulgadores de ciência. Ele parece falar de um lugar acima de qualquer suspeita, ao abrigo de ataques, e alguns de seus textos fomentam uma visão de cientistas distantes do resto da sociedade, no sentido oposto ao de sua provável intenção original.

Que se goste ou não do seu tom, Goldacre ocupa um espaço importante ao atuar como uma espécie de ombudsman do jornalismo de ciência e como um observador crítico dos abusos de profissionais de várias outras áreas – inclusive pesquisadores – ao lidar com temas ligados à ciência.

No cenário midiático brasileiro, o nicho ocupado pela coluna Bad Science está vago, para prejuízo dos leitores. Num país em que a imprensa vende o uso de drogas não regulamentadas como opção para o emagrecimento a despeito de orientações no sentido contrário da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, figuras como Ben Goldacre fazem falta.

(foto: EverJean – CC 2.0 BY)

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