Sopa de cérebro no Ted

Em junho deste ano, a neurocientista brasileira Suzana Herculano-Houzel, pesquisadora da UFRJ, fez uma palestra TED – uma série de conferências muito popular na internet. Suzana apresentou o método inovador desenvolvido por ela para contar células nervosas e a hipótese segundo a qual foi a dieta cozida que permitiu que ancestrais dos humanos modernos desenvolvessem um cérebro com um número muito grande de neurônios, característica que distingue nossa espécie das demais. Suas pesquisas foram tema de uma reportagem publicada na piauí 77, de fevereiro/2013 (disponível para assinantes)

As palestras TED são promovidas por uma fundação privada americana sem fins lucrativos criada por Chris Anderson, ex-editor da revista Wired – as iniciais são a sigla para tecnologia, entretenimento e design. São falas curtas, de no máximo 18 minutos. As mais de 1.500 palestras disponibilizadas na internet já foram visualizadas mais de um bilhão de vezes desde que começaram a ser publicadas on-line, em 2006.

Suzana juntou-se a grandes figuras da ciência que fizeram palestras TED, como Jane Goodall, Jared Diamond e Francis Collins. É um dos primeiros nomes a representar o Brasil no evento – o também neurocientista Miguel Nicolelis também fez uma palestra do gênero no ano passado (a fala de Nicolelis aconteceu no TedMed, uma série de apresentações sobre medicina organizada de forma independente, em parceria com as palestras Ted).

Quando fez sua apresentação, em junho, Suzana escreveu em seu blog que, por conta do “altíssimo nível de exigência dos organizadores”, ela havia preparado “a melhor palestra que já [tinha dado]” até então. A apresentação foi publicada on-line esta semana e, em três dias, já havia sido visualizada mais de 100 mil vezes e recebido mais de 200 comentários, muitos deles respondidos pessoalmente pela neurocientista brasileira.

Suzana fez a palestra num inglês fluente e desenvolto. Algumas palestras TED são traduzidas por voluntários, mas a fala de Suzana ainda não dispõe de legendas em português. (Atualização: uma versão legendada foi publicada no YouTube em 29 de novembro).

Aproveitei que publicaria este post para saber de Suzana a quantas anda a contagem dos neurônios do cérebro de elefante – pesquisa que ela estava conduzindo com seus alunos no início do ano, quando foi publicado seu perfil na piauí. Naquela ocasião, ela disse que, embora o cérebro de elefante seja três vezes mais pesado que o humano, ele deveria ter um número menor de neurônios, de acordo com sua hipótese.

Suzana me disse num e-mail que a contagem já foi concluída e que o grupo está preparando um artigo para publicação numa revista científica. Contou ainda que os resultados confirmam a sua hipótese, e que o elefante de fato tem bem menos neurônios que os humanos no córtex cerebral. “Mas os detalhes ficam pra depois que o artigo sair.”

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Foto: James Duncan Davidson/TED

Atualização: este post foi atualizado em 29/11/2013 para incluir o link para a palestra legendada e especificar a natureza da palestra de Miguel Nicolelis.

Bernardo Esteves

Repórter da piauí, é apresentador do podcast A Terra é Redonda (Mesmo) e autor dos livros Admirável novo mundo: uma história da ocupação humana nas Américas (Companhia das Letras) e Domingo É Dia de Ciência (Azougue Editorial)