IMAGEM: AMANDA JENDERBÄCK
Sonetos impotentes
Gregorio Duvivier | Edição 134, Novembro 2017
Ser traído não é um grande drama.
Se o amor de vocês estiver morno,
É bom que outra pessoa esquente a cama
Pra você se deitar no seu retorno.
A mulher que te trai também te ama
E lamenta demais esse transtorno.
O problema do chifre é só a fama:
Não há sorte maior do que ser corno.
A tarefa do sexo todo dia
É um fardo que o amante te alivia
Como alguém que te ajuda no trabalho.
Generoso, durante tuas viagens
Ensina à tua mulher mil sacanagens
Que ela vai aplicar no seu caralho.
*
Você diz que encontrou o grande amor
Mas é sempre importante um plano B.
Seu rapaz pode ter algum tumor,
Ou então, de repente, um AVC.
Não que eu torça pra isso, que horror!
Mas se o cara infartar do coração
Eu entendo e respeito a sua dor,
Só te peço pra ser a outra opção.
Se o bonitão tiver câncer de próstata
Ou morrer de alguma outra bosta, tá
Combinado que eu sou o seu backup.
Toda vida, mi’a amada, acaba um dia.
Ninguém está imune à leucemia.
Anota, por favor, o meu WhatsApp.
*
Sexo livre não tem lá muita graça
É coisa de criança. Não é sério.
Tesão sem compromisso dá e passa.
Adulto gosta mesmo é de adultério.
Quando tudo é perfeito e cor-de-rosa,
Nessa altura, certeza: ninguém fode.
Quando alguém sofre é quando você goza.
Trepa‑se muito mais quando não pode.
Se já não for tão forte sua libido
Invente uma mulher ou um marido:
Alguém que irá fazer papel de otário.
Imagina uma esposa ou um esposo
Que o sexo logo fica mais gostoso
Nada melhor que um corno imaginário.
Adolescente fui um mar de espinha
Que nunca tinha visto uma só teta
Nem sequer avistado uma calcinha:
Passava os dias a bater punheta.
Esperava a velhice que não vinha
Não fumava ou bebia, era careta.
Até que resolvi perder a linha
E eis que a vida passou como um cometa.
Não que haja algo errado em masturbar-se
Mas a droga oferece-te a catarse
E a trégua das dores que te afligem.
Se não fossem o álcool e a maconha
Teria continuado só na bronha.
O que me fez crescer foi a vertigem.
*
Não sei fotografar bem o meu pau,
As fotos que tirei já não espalho.
Mandar-te-ei, então, um nu verbal
Pra não viralizar o meu caralho.
O comprimento do garoto é bom.
Não é pequeno nem tampouco é grande,
Feito um desodorante de roll-on
Mas com a veia roxa e uma glande.
Levanta com preguiça de manhã
Mas à noite trabalha com afã.
Vez ou nunca acontece de estar duro.
Não querer conhecê-lo é uma perda.
Como o seu dono, tende para a esquerda
Sensata: mais Mujica que Maduro.
Desculpa se pareço muito afoito
Assim que a gente acaba de transar,
Mas logo após molharmos o biscoito
Só penso em qual veneno vou tomar.
O distúrbio surgiu em dois mil e oito
E desde então o mal só faz piorar.
Chama “vontade-de-morrer-pós-coito”:
Após foder, só penso em me matar.
Não posso ter remédios na gaveta.
Quero morrer assim que morre o pau.
Não pense por favor que é pessoal:
Acontece também quando é punheta.
Sabe o que ajuda: Algum carboidrato.
Pede uma pizza e esconde o mata-rato.
*
Filha minha querida e tão esperada
Peço perdão por toda a putaria
Que compõe essa obra desgraçada
– um pornô travestido de poesia.
Que seu pai é uma alma depravada
Imagino que isso já sabia,
Mas não tanto, já que não sobra nada
Se tirarmos a parte doentia.
Poderia dizer: “Tudo é ficção,
Inventar putaria é um ganha-pão.”
Mentira, seu pai fala porque gosta.
Poderia alegar que era a idade,
“Melhorei com a tal paternidade!”
Mentira, seu pai tá a mesma bosta.