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O filho turbulento de D. João VI

| 12 ago 2016_16h28
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A imagem póstuma do último rei de Portugal e do Brasil permaneceu associada à personalidade amena, hesitante e, de certa forma, bondosa, de d. João VI. O monarca teve um papel fundamental, ainda que em parte involuntário, para fazer do Brasil o que ele é hoje, ao transladar-se com a corte para a então colônia em 1808.

Esta carta, dirigida em 12 de maio de 1824 por d. João VI ao rei da França, Luís XVIII, trata do irmão mais moço de d. Pedro I, o infante d. Miguel.

D. Miguel não é personagem central da história do Brasil, mas teve grande importância na de Portugal e na vida de seu irmão, nosso primeiro imperador.

Invejoso de d. Pedro I, d. Miguel fez muita confusão e acabou criando uma divisão duradoura entre “miguelistas” (conservadores) e “pedristas” (liberais). A carta, apesar de formal e atenuada, não se esforça em esconder a profunda decepção que causara a d. João VI a traição de seu filho, que se  aliara à mãe, a rainha Carlota Joaquina, havia muito separada do marido. O objetivo último das conspirações lideradas por Miguel e Carlota, absolutistas e retrógados, era derrubar d. João VI. Menos de duas semanas antes da redação da carta, d. Miguel, chefe de Exército português, tentara um golpe contra o governo de seu pai, que foi obrigado a se refugiar num navio inglês ancorado em Lisboa. A quartelada mal-sucedida passou à história como “Abrilada”, por ter ocorrido em 30 de abril.

D. João VI destituiu o filho do cargo e decidiu exilá-lo de Portugal. O parágrafo principal da carta diz:

“Meu filho, o infante d. Miguel, tendo expressado o seu desejo de viajar durante algum tempo, pensei que seria conveniente que começasse por visitar a França. Estou convencido de que Vossa Majestade aceitará acolhê-lo como a um jovem príncipe que teve a felicidade de prestar serviços a seu país, que lhe granjearam algum direito a que meu amor paterno possa perdoar erros que sua juventude imprudente lhe fez cometer ultimamente.”

No texto, d. João VI ameniza o banimento imposto ao filho conspirador, fingindo que a viagem à França deriva de um “desejo” de d. Miguel, mas deixa claro que o filho cometeu “erros”, que o pai atribui a sua “juventude imprudente”.

Apesar dos eufemismos, é um documento histórico muito significativo. Cartas oficiais entre monarcas raramente são tão sinceras e explicitas com relação a desmandos e traições quanto esta.

 

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