Keynes versus Chamberlain
A carta aqui reproduzida data de um período particularmente tenso das relações internacionais, logo antes da Segunda Guerra Mundial
O inglês John Maynard Keynes costuma ser considerado o economista mais influente da primeira metade do século XX. Sua Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, de 1936, é um dos tratados mais importantes da macroeconomia – e o chamado keynesianismo dominou a política econômica de muitos países no pós-guerra.
A carta aqui reproduzida data de um período particularmente tenso das relações internacionais, logo antes da Segunda Guerra Mundial. Keynes escreve para Harold Nicolson, influente diplomata casado com Vita Sackville-West, escritora que foi o grande amor de Virginia Wolf e serviu de inspiração para Orlando. Todos pertenciam ao mais alto nível do establishment britânico – Sackville-West inclusive vinha de uma família da mais antiga nobreza.
Mas não são as ligações de Keynes com com os literatos o principal assunto do documento, mas sim o Anchluss (ou anexação) da Áustria pela Alemanha de Hitler, que ocorrera dez dias antes. A carta de 23 de março de 1938 comunica a Nicolson que Keynes publicará em breve, na revista New Statesman, um artigo intitulado “Um novo programa para a paz”, no qual censura abertamente a política pacifista míope do primeiro-ministro da época, Neville Chamberlain. Tanto Winston Churchill quanto Anthony Eden, futuros primeiros-ministros, haviam acabado de deixar o governo e criticavam a atitude excessivamente cautelosa de Chamberlain com relação a Hitler.
Esse grupo considerava desonrosas para a Inglaterra as concessões de Chamberlain, que tolerava atitudes inaceitáveis vindas do ditador alemão por acreditar que só essa política manteria a paz na Europa. Churchill discordava: “Eles aceitaram a desonra para ter a paz. Vão ter tanto a guerra quanto a desonra.” É nesse contexto que a carta ganha um relevo especial, pois ele diz ao diplomata: “Verá que sigo as ideias que você defende, e estou certo de que concordará de um modo geral.”
A frase final não perdoa Chamberlain: “Não há dúvida de que o primeiro-ministro é um verme.” Essa severa declaração do maior economista inglês sobre o chefe do governo de seu país, num momento histórico de grande importância, torna tal documento particularmente significativo.
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