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Lembrança de Procópio

Pintores ignorados por seus contemporâneos, como Van Gogh, podiam ao menos esperar da posteridade que lhes desse após a morte a fama que não tiveram em vida. Enquanto o mesmo ocorre com músicos e escritores, o teatro é uma arte ingrata no que diz respeito à fama póstuma.

| 06 nov 2014_15h02
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Pintores ignorados por seus contemporâneos, como Van Gogh, podiam ao menos esperar da posteridade que lhes desse após a morte a fama que não tiveram em vida. Enquanto o mesmo ocorre com músicos e escritores, o teatro é uma arte ingrata no que diz respeito à fama póstuma.

Muitos dos atores são adulados durante suas carreiras mas a lembrança de seu talento desaparece quando morrem os últimos que os viram atuar. Para os grandes atores de teatro dos últimos cem anos existem gravações esparsas de suas peças que podem justificar hoje aos olhos dos interessados a fama de que desfrutaram os astros do passado. Mas estes pálidos reflexos de seu talento são insuficientes para granjear novos admiradores entre as gerações presentes.

Procópio Ferreira é um exemplo acabado dessa dura realidade, que não prevalece apenas no Brasil. Procópio é hoje sobretudo lembrado como o pai de Bibi Ferreira, grande atriz cuja carreira mantêm-se viva, pois a própria Bibi é ainda extraordinariamente ativa, passados os 90 anos.

Procópio, filho de portugueses, foi unanimemente tido em seu tempo como o maior ator do Brasil. Monteiro Lobato dizia "Foi Procópio quem me ensinou a rir e a chorar", e Villa Lobos completava "Procópio é a minha terapêutica". Quase todos concordavam com Di Cavalcanti que dizia simplesmente: "Procópio é um gênio".

Não foi o físico que o projetou, mas a extraordinária presença no palco, percebida por todos seus contemporâneos. Nada tinha de galã: era baixo e o rosto de nariz arrebitado e olhos pequenos não era propriamente arrebatador para as plateias femininas. Crescia dramaticamente quando abriam as cortinas e granjeou uma legião de admiradores por todo o Brasil, numa carreira de mais de sessenta anos encerrada apenas com sua morte, aos 80 anos, em 1979.

A um casal de músicos que faziam parte dos muitos artistas que cercavam Procópio, o grande ator dedica a fotografia reproduzida aqui, tirada em São Paulo em 1934, quando sua fama estava já consolidada, aos 36 anos. A dedicatória reflete as admirações recíprocas:    

"A Lydia e José, em vocês homenageio a inteligência e a arte, Procópio".

Resta apenas aos grandes atores, como registro de sua arte nos palcos, o testemunho escrito de quem os admirou em vida. É pouco, se comparado a outros artistas, cuja criação é renovada cada vez que se olha um quadro, se lê um texto ou ouve-se uma música.

      

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