O apelo de Pancetti
O manuscrito apresentado nesta página parece ser um “argumentário” destinado a servir de base para o pedido de uma amiga em seu favor. Pancetti rascunha a sugestão de um aumento de sua pensão com uma promoção, em função daquilo que o pintor considera ter sido sua contribuição artística ao Brasil. Uma nota manuscrita em outra letra indica que o manuscrito foi entregue em Agosto de 1951 a D. Elisa Coimbra Bueno Lynch, senhora de sociedade e diretora de uma organização de voluntárias, que teria acesso ao ministro da Marinha e poderia interceder em favor de Pancetti. O texto merece ser citado na íntegra:
José Pancetti é um caso à parte no melhor da pintura brasileira do século XX. Nada, em suas modestas origens ou nos seus acidentados primeiros vinte anos, o destinava à arte. Até mesmo sua vida “brasileira” acabou devendo-se muito ao acaso, pois, nascido em Campinas, passou uma década na Itália e só voltou aos 18 anos. Basicamente autodidata no início da sua carreira, pintor de paredes e de cascos de navios, Pancetti recebeu alguma formação no chamado Núcleo Bernardelli e no início inicio dos anos 1940 já recebia prêmios por sua pintura.
Seu orgulho maior foi ter ingressado com 20 anos na Marinha de Guerra do Brasil, na qual fez carreira por 25 anos, reformado como 1º tenente em 1946.
Intoxicado pelas tintas, tuberculoso, Pancetti acabou morrendo de câncer aos 56 anos e nunca chegou a gozar de tranquilidade financeira graças à sua pintura.
O manuscrito apresentado nesta página parece ser um “argumentário” destinado a servir de base para o pedido de uma amiga em seu favor. Pancetti rascunha a sugestão de um aumento de sua pensão com uma promoção, em função daquilo que o pintor considera ter sido sua contribuição artística ao Brasil. Uma nota manuscrita em outra letra indica que o manuscrito foi entregue em Agosto de 1951 a D. Elisa Coimbra Bueno Lynch, senhora de sociedade e diretora de uma organização de voluntárias, que teria acesso ao ministro da Marinha e poderia interceder em favor de Pancetti.
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O texto merece ser citado na íntegra:
“Serviu na Marinha de Guerra mais de 25 anos. Pertence à reserva, da qual é 1º tenente com os vencimentos de 5,5 mil.
Mora numa casa alugada cujo aluguel é a metade destes vencimentos, com a esposa e dois filhos.
Durante o tempo que serviu na Marinha tomou parte em todas as revoltas desde 22 até a de 1937 – sempre ao lado do governo constituído, possuindo por isso inúmeros elogios de Ministros de Estado e Presidentes da República.
Nos serviços da Marinha, trabalhando como profissional de pintura de bordo, adquiriu grave enfermidade que o inutilizou para sempre.
Estudando arte tornou-se pintor de fama, elevando o bom nome da Marinha e do Brasil no estrangeiro.
Seu nome figura nas maiores enciclopédias do mundo como a TRECANI, por exemplo.
Possui quadros em 8 museus estrangeiros.
Que a Marinha de Guerra poderia como recompensa a seu mérito promovê-lo a um posto superior – pois o artista no Brasil, embora de projeção, não vive de sua arte.
Que o atual Ministro da Marinha o conhece bem de longa data e sabe de seus méritos e comportamento.
José Panceti, 1º tenente”
É tocante a simplicidade com que Pancetti resume sua biografia mesclando uma modesta carreira na Marinha com a “fama” na pintura.
É também notável a ênfase na fidelidade aos “governos constituídos”, na relação com o então Ministro da Marinha e no “bom nome da Marinha e do Brasil”, menções que revelam uma postura conformista, ou quase subserviente, diante do Poder e da Marinha da Guerra, que Pancetti respeitou e admirou acima de tudo.
O texto mostra também que Pancetti tinha consciência do brilho de sua carreira artística, mas que esta não lhe trazia condições de vida adequadas, cinco anos antes de sua morte, quando redige esse pedido.
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