Na tarde do primeiro turno, os irmãos Luís Paulo e Carlos Augusto Montenegro, vice-presidente e presidente do Ibope Inteligência, e Márcia Cavallari, CEO da empresa, revisam pesquisas de boca de urna para divulgação; o instituto foi o que mais faturou nas eleições de 2018 RACHEL GUEDES_2018
Contadores de votos
Uma história do Ibope, da miséria dourada à venda bilionária
José Roberto de Toledo | Edição 146, Novembro 2018
O trânsito paulistano estava especialmente carregado naquela tarde garoenta de sexta-feira. Os 22 quilômetros entre a sede do Ibope, o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística, na Água Branca, e nosso destino no Jabaquara custaram duas preciosas horas, ou quase. Fazia uma semana que Jair Bolsonaro havia sido esfaqueado enquanto era carregado nos ombros por entusiastas de sua campanha a presidente da República. O candidato do PSL estava hospitalizado, e ainda não se sabia qual impacto o atentado contra a vida do líder da corrida presidencial teria na opinião do eleitor. Era o que iríamos ajudar a aferir.
Enquanto o Uber abria caminho em meio à chuva fina, Adislene Machado Meireles me contava os macetes que aprendeu em dezesseis anos como pesquisador do Ibope. Ele explicou que é muito mais fácil fazer entrevistas domiciliares na periferia do que no Centro rico da cidade. O melhor lugar para trabalhar, disse, é em uma favela: “O acesso é bem mais fácil. Os moradores querem falar, te convidam para entrar.” E a segurança? “O pesquisador não pode ficar depois que escurece.” Meireles sabe do que está falando. Palmilhou Norte, Sul, Leste e Oeste de São Paulo. Conhece a capital de Perus a Marsilac, do Lajeado ao Rio Pequeno. Perguntei qual é o pior lugar para pesquisar. “Os setores mais difíceis são os verticais”, sentenciou, sem hesitar. Traduzindo: as áreas adensadas, onde quase todos moram em prédios de apartamentos. E o pior dos piores? Os Jardins, lar da burguesia paulistana. Nos bairros ricos gasta-se mais tempo para encontrar quem responda aos questionários porque o pesquisador não consegue autorização para entrar nos condomínios. O medo de assalto endureceu as regras de segurança nos edifícios. O jeito é ficar esperando em frente, na rua, até que alguém entre ou saia. Mas isso pode demorar. Pesquisadores experientes tentam convencer o porteiro a interfonar para os apartamentos e pedir a um morador para descer e dar a entrevista na calçada. Mas não um morador qualquer.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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