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    ILUSTRAÇÃO DE PAULA CARDOSO

questões de mídia e política

Ruptura de bolsonaristas com PSL ganhou asas no Twitter

Disputa por controle do partido impulsionou menções a Eduardo e Joice na rede

Luigi Mazza | 13 nov 2019_13h46
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Antes mesmo que se confirmasse a saída do presidente Jair Bolsonaro do PSL, esta semana, a guerra pelo controle do partido teve dois protagonistas no Twitter: Eduardo Bolsonaro e Joice Hasselmann, ambos deputados federais pela sigla. Rivais declarados, eles dispararam em número de menções na rede social em outubro. O filho 03 do presidente foi mencionado 2,4 milhões de vezes, seu maior pico desde o início do ano. Com isso, manteve o posto de segundo bolsonarista mais citado, atrás apenas do ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro. Joice, por sua vez, saltou de um patamar de 100 mil menções para mais de 1 milhão. Foi a terceira bolsonarista mais mencionada, passando à frente de Carlos e Flavio Bolsonaro, personagens centrais do governo. Os dados são da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (DAPP-FGV), que, a pedido da piauí, monitora desde o início do ano as citações a políticos ligados ao governo no Twitter.

Enquanto a briga pela liderança do PSL na Câmara se desenrolava, dividindo o partido entre bolsonaristas e bivaristas – como foram apelidados os apoiadores do presidente da sigla, Luciano Bivar –, Eduardo e Joice trocavam insultos nas redes sociais. A deputada federal entrou em rota de colisão com a família Bolsonaro por ter apoiado a permanência do Delegado Waldir como líder do partido na Câmara. O governo brigava para que Waldir fosse trocado por Eduardo – que, ao fim da contenda, ganhou a vaga.

Por ter contrariado o clã do presidente, Joice foi destituída de seu cargo como líder do governo no Congresso. A retaliação inflamou as discussões no Twitter. Dias depois do afastamento de Joice, Eduardo impulsionou a hashtag #DeixeDeSeguirAPepa – referindo-se a Joice como Peppa Pig, a porquinha que protagoniza um desenho animado infantil. Ela retribuiu chamando o filho 03 de Bolsonaro de “picareta” e “menino nem-nem: nem embaixador, nem líder, nem respeitado”. A publicação de Eduardo teve o triplo de curtidas e seis vezes mais retuítes que a resposta de Joice. Embora tenha grande alcance nas redes, a deputada conseguiu seu pico de menções em outubro principalmente por conta dos ataques virtuais que sofreu dos apoiadores do presidente.

Com 2,4 milhões de menções no Twitter em outubro, Eduardo Bolsonaro bateu o seu próprio recorde. Superou o patamar que alcançou em julho, quando foi anunciado pelo seu pai como possível embaixador do Brasil nos Estados Unidos. O crescimento, dessa vez, se deveu principalmente ao racha generalizado do PSL, mas outros fatores também contribuíram. No dia 31 de outubro, Eduardo virou notícia ao levantar a possibilidade de se instaurar no Brasil um novo AI-5 – o Ato Institucional Número 5, que marcou o endurecimento da ditadura militar em 1968. A declaração golpista viralizou e rendeu cerca de 300 mil menções a ele no mesmo dia.

O único personagem do governo mais citado que Eduardo continua sendo Sergio Moro. Em outubro, o ministro e ex-juiz foi lembrado 2,9 milhões de vezes – 1 milhão a mais que no mês anterior. Diferentemente de outros membros do governo, Moro mantém um patamar alto de forma orgânica, mesmo não sendo um grande tuiteiro. Por ser uma figura popular e associada às principais pautas do bolsonarismo – combate à corrupção e à violência –, ele não depende de episódios polêmicos para ser mencionado no Twitter.

O ranking dos bolsonaristas mais citados em outubro também contempla Carlos e Flavio Bolsonaro, com cerca de 1 milhão de menções cada um, e a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), que teve 680 mil menções no mês. Zambelli teve uma queda ligeira desde agosto, mas, com exceção dos filhos do presidente, é hoje a principal porta-voz do governo no Congresso. Tem mais menções que todos os ministros, excluindo Moro, e se tornou um polo mobilizador do bolsonarismo nas redes. Para o bem e para o mal: ao se opor aos bivaristas na briga do PSL, chegou a ser suspensa de suas atividades no partido e agora responde a um processo no Conselho de Ética da legenda, junto com outros dezoito deputados.

Além de Eduardo e Joice, a crise do PSL jogou luz sobre outros membros da bancada do partido. O deputado federal Delegado Waldir, que foi gravado dizendo que iria “implodir” Bolsonaro, explodiu em número de menções. Foi citado 281 mil vezes em outubro, catorze vezes o que tinha recebido de menções em setembro. Junto com ele, quem saltou de patamar foi o presidente do partido, Luciano Bivar, citado 233 mil vezes pelos tuiteiros. Os dois, até então pouco lembrados nas redes, ficaram no mesmo patamar que Major Olímpio (PSL-SP), senador que tem grande visibilidade e se alinhou ao grupo bivarista.


Outra figura que ganhou relevância em meio aos atritos do bolsonarismo foi a deputada Bia Kicis (PSL-DF). Embora já viesse numa rota de crescimento desde janeiro, ela mais que dobrou seu número de menções entre setembro e outubro: de 176 mil, passou para 394 mil. Seguidora fiel do presidente, Kicis tem ganhado espaço no núcleo duro do governo e, segundo os números da Dapp, começa a tomar o lugar de Joice como segunda parlamentar do PSL mais citada no Twitter. À exceção do crescimento isolado que teve em outubro, Joice vinha perdendo relevância na rede. Encolheu constantemente entre julho e setembro, caindo de um patamar de 325 mil menções para 115 mil.

Assim como Carla Zambelli, Kicis saiu em defesa da indicação de Eduardo para líder do partido na Câmara e comemorou o que chamou de “xeque-mate na turma do Delegado Waldir”. Foi recompensada com mais destaque nas redes governistas. Em geral, o núcleo de influenciadores ligados à família Bolsonaro e seu entorno tem mais poder de mobilização que outros grupos de direita, como o dos apoiadores de Bivar. 

Olavo de Carvalho, que costuma ser replicado por Kicis e pelos filhos do presidente, é um bom termômetro dos movimentos bolsonaristas. Depois de alguns meses em queda no Twitter, o guru do presidente voltou a crescer em outubro. Foi às redes defender uma “união indissolúvel do povo, presidente e Forças Armadas” e, num vídeo em seu canal do YouTube, atacou Joice, dizendo que “a Peppa Pig sem o Bolsonaro é apenas uma youtuber”. Ao fim do mês, teve 610 mil menções, seu maior patamar desde maio.

 

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