Jo Cameron: às vezes, ela percebe que está queimando a mão no fogão porque sente o cheiro de carne chamuscada; outras, ela se corta e só se dá conta quando vê o sangue FOTO: PETER JOLLY_SHUTTERSTOCK
Um mundo sem dor
É o sofrimento físico que nos torna humanos?
Ariel Levy | Edição 163, Abril 2020
Tradução de Sergio Flaksman
Dizem que aquilo que não mata engorda. Nos deixa mais resistentes, mais fortes. Nos deixa mais profundos. Mais sábios. Melhores. A Bíblia informa que “os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá revelar-se em nós”. Que “a tribulação produz a perseverança, a perseverança, uma virtude comprovada, a virtude comprovada, a esperança”. Nos termos desta equação, as dores, por maiores que sejam, são sempre algo positivo. Atribuem-se a Dostoiévski as seguintes palavras: “Quanto mais escura é a noite, mais forte é o brilho das estrelas. Quanto mais profundo é o sofrimento, mais próximo está Deus!” Nós, ateus, damos o nosso jeito de concordar, afirmando que a aflição da perda revela o quanto vale o amor. As horas que passamos contemplando as trevas, zanzando em torno da nossa própria constelação de ansiedades, não são uma perda de tempo, mas uma expressão fundamental da condição humana. Ser humano é sofrer.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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