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    Bolsonaro e Russomano - Foto: Douglas Gomes/Republicanos

questões eleitorais

Prefeitos sim, padrinhos não

Candidatos da situação largam na frente em pesquisas nas capitais; no interior, eleição também começa mais dura para a oposição

José Roberto de Toledo e Hellen Guimarães | 12 out 2020_15h03
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A primeira rodada de pesquisas municipais aponta para uma eleição muito mais de continuidade do que de mudança. Os atuais prefeitos (ou os candidatos apoiados por eles) são, em regra, os favoritos. Tampouco é um pleito de padrinhos fortes. O grande eleitor em 2020 não é o presidente Jair Bolsonaro nem os governadores, mas os atuais comandantes do poder local – principalmente nos municípios com até 50 mil habitantes. Segundo pesquisa inédita do Ibope Inteligência, na média, a gestão dos prefeitos dessas pequenas cidades é ótima ou boa para 41% de seus eleitores, contra apenas 25% de avaliações “ruim” ou “péssima”. O saldo de 16 pontos está longe de ser o único ponto positivo para quem já está à frente das prefeituras.

Por causa da pandemia de Covid-19, esta é a campanha eleitoral mais curta desde a redemocratização. Nunca os candidatos a prefeito tiveram tão pouco tempo para se tornarem conhecidos do eleitor. Obviamente, isso é um problema muito maior para quem está na oposição do que para quem já se elegeu uma ou mais vezes para o cargo. E as desvantagens para os desafiantes não param por aí. Sob alegação de risco de contágio, muitos debates na tevê foram cancelados, diminuindo as chances de quem está atrás nas pesquisa atropelar os favoritos na reta final da campanha.

Mesmo nas capitais, onde os prefeitos são mais mal avaliados do que seus colegas do interior (27% de ótimo/bom contra 33% de ruim/péssimo, na média), os incumbentes estão levando vantagem. Se a eleição fosse hoje nas 15 capitais onde o Ibope já fez pesquisa, o candidato da situação seria eleito no primeiro turno em quatro delas, e em outras oito ele passaria ao segundo turno. Apenas em três o prefeito ou seu candidato seriam derrotados de cara: em Porto Alegre (RS), Belém (PA) e João Pessoa (PB).

Até no Rio de Janeiro, onde o atual prefeito bateu 66% de avaliações negativas e é rejeitado por 57% dos eleitores, Marcelo Crivella (Republicanos), com seus 12% de intenção de voto, teria hoje mais chances de passar ao segundo turno e enfrentar o líder das pesquisas Eduardo Paes (DEM) do que as duas candidatas tecnicamente empatadas com ele: Delegada Martha Rocha (PDT) tem 8%, e Benedita da Silva (PT) tem 7%. Crivella está em outra disputa,uma bem mais incômoda: divide tecnicamente com Zenaldo Coutinho (PSDB) o título de prefeito de capital mais mal avaliado do Brasil. O prefeito de Belém tem 64% de ruim/péssimo.

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“Nas eleições municipais, os eleitores são mais pragmáticos, votam em candidatos que conhecem bem os problemas da cidade e que tragam soluções factíveis. Prefeitos que estão bem avaliados e que concorrem à reeleição têm grandes chances de serem reeleitos”, explica Márcia Cavallari, CEO do Ibope Inteligência. O melhor exemplo é Alexandre Kalil (PSD), cuja administração em Belo Horizonte tem 65% de avaliações positivas. Acostumado a andar de ônibus e a fazer visitas surpresa a hospitais públicos, Kalil lidera disparado, com 58% das intenções de voto estimuladas.

E aqueles que ficam no meio do caminho, não são amados mas tampouco execrados? 

Com 27% de ótimo/bom e 27% de ruim/péssimo, é o caso do prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB). O saldo de popularidade é zero, mas, ainda assim, seus 21% de intenção de voto levariam o tucano hoje para a disputa de segundo turno. Principal rival do incumbente por enquanto, Celso Russomanno (Republicanos) é o único candidato a prefeito que recebeu apoio explícito de Bolsonaro. Conta com a falta de debates na tevê e o endosso presidencial para quebrar a tradição de sair na frente e chegar atrás em campanhas majoritárias. Mas a inconsistência de seus números continua clara na imensa diferença entre suas intenções de voto espontânea (6%) e estimulada (26%). 

Isso não acontece com nenhum outro líder das pesquisas em capitais. É um sinal de que a maioria dos eleitores de Russomanno não associa por contra própria o nome do candidato do Republicanos à vaga de prefeito. Apenas depois de confrontado com a lista de quem está na disputa é que seus simpatizantes falam seu nome. É mais efeito memória do que convicção.

Daí a esperança de Russomanno de consolidar esse eleitorado fluido com a ajuda de Bolsonaro. Não é uma tática sem riscos, porém. Segundo o Ibope, apenas 24% dos eleitores paulistanos dizem que o apoio do presidente aumentaria a chance de eles votarem no candidato a prefeito indicado por Bolsonaro. Pior: 47% dizem que o endosso presidencial teria o efeito contrário, diminuiria a chance de o eleitor votar no nome bolsonarista.

Nenhum padrinho político soma mais votos do que subtrai na eleição paulistana. O apoio do governador João Doria (PSDB), que abandonou a prefeitura com menos de dois anos de mandato para disputar o governo do estado, agrega meros 16% de simpatizantes ao seu apadrinhado – menos do que Bruno Covas alcança na estimulada – e tira 48%. Quem tem mais força a oferecer na cidade é Lula: 32% dizem que seu apoio aumentaria a chance de votarem no candidato que ele indicasse. Mas outros 40% dizem que a vinculação ao ex-presidente diminuiria sua disposição de votar no apadrinhado. 

Para quem tem apenas 1% de intenções de voto, como Jilmar Tatto, do PT, o apoio de Lula é a única chance de levá-lo ao segundo turno – mesmo que isso aliene 4 em cada 10 eleitores. É isso ou entrar para a história como o candidato de pior desempenho do partido em São Paulo. Tatto enfrenta outro obstáculo, além do desconhecimento: Guilherme Boulos, do PSOL, tem oito vezes mais intenções de voto do que ele e, portanto, muito mais chances de galvanizar o eleitorado de esquerda.

As pesquisas mostram também que, além de mais curta, a atual eleição municipal não empolga quase ninguém. Três em cada quatro eleitores em São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, não conseguem citar nenhum candidato espontaneamente ou, mais grave, dizem que anularão ou votarão em branco. Faltando pouco mais de um mês para o primeiro turno, era de se esperar que apenas um terço do eleitorado estivesse tão alienado em relação aos candidatos – diz Maurício Moura, diretor do Ideia Big Data.

Tudo isso favorece os nomes conhecidos e, principalmente, os prefeitos que disputam a reeleição ou seus candidatos.

No interior, nos municípios onde não há segundo turno, outra novidade ajuda os atuais mandatários: a multiplicação das candidaturas. Neste pleito de 2020 há 2 600 candidatos a prefeito a mais do que houve em 2016. O recorde absoluto é consequência da proibição das coligações nas eleições proporcionais: partidos fracos que antes se coligavam a partidos fortes para tentar eleger um ou outro vereador perderam sua carona. Por isso, mais siglas se viram forçadas a lançar um candidato a prefeito a fim de chamar atenção para o número da legenda e “puxar” votos para os candidatos à Câmara Municipal.

E por que o fato de haver mais candidatos a prefeito ajuda quem disputa a reeleição? Porque o “excesso” de candidaturas costuma dividir mais o eleitorado de oposição do que os votos de quem já está no poder e tem sua base política consolidada graças à distribuição de verbas, cargos e favores. Seus eleitores são mais fiéis – ou dependentes. Como não há segundo turno, ninguém precisa de maioria absoluta. Basta ter mais votos do que os adversários. Quanto mais rivais, melhor para o incumbente.

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