Ofereço ao meu querido exército uma palyanitsa ucraniana, pintura feita em 1988: palyanitsa é um tipo de pão tradicional da Ucrânia CRÉDITOS: _FUNDAÇÃO BENEFICENTE DO PATRIMÔNIO ARTÍSTICO DA FAMÍLIA MARIA PRYMACHENKO
“Eu pinto para vocês”
As cores e o pacifismo de Maria Prymachenko
Maria Prymachenko | Edição 187, Abril 2022
Anastasiia Prymachenko, de Lviv
Em 25 de fevereiro, no segundo dia da invasão da Ucrânia, o Exército russo atacou o distrito de Ivankiv, terra natal da pintora Maria Oksentiiva Prymachenko. Desde então, os moradores da região convivem com a falta de energia elétrica, água, mantimentos, remédios e sinal de celular. Até o momento em que escrevo este texto a pedido da piauí, os habitantes de Ivankiv não haviam conseguido restabelecer contato com o exterior – o que tem sido motivo de uma angústia particular para nós.
Sou bisneta de Maria Prymachenko. Trabalho como diretora da fundação que cuida do seu legado artístico em nome da nossa família. Do front dessa guerra injusta, vieram informações de que um dos alvos do Exército russo foi o Museu da História Local de Ivankiv, uma pérola da nossa história, da nossa geografia, da nossa arte. No momento do ataque ao museu, catorze quadros e dois pratos de cerâmica criados pela minha bisavó estavam expostos ali.
As notícias preliminares indicavam que algumas dessas obras podem ter sido destruídas no ataque. Não todas, porque um dos habitantes de Ivankiv, aparentemente, conseguiu salvar uma parte das obras. Não sabemos ao certo, porque a comunicação continua interrompida. Neste momento, estamos empenhados em identificar esse herói local e saber quais quadros foram efetivamente preservados. Para ilustrar estas páginas e a capa da piauí, enviei à revista imagens de catorze obras de minha bisavó, nenhuma das quais está no acervo do museu de Ivankiv.
O conjunto é um exemplo de sua arte naïf, bastante reverenciada em diversas partes do mundo, e demonstra que Maria Prymachenko nunca foi indiferente aos acontecimentos do seu tempo. Ela sempre fez questão de expor seu antagonismo visceral à guerra, qualquer guerra, fazendo uso, apesar da crueza do tema, de cores vivas, vivíssimas. Da pequena Ivankiv, onde minha bisavó nasceu e morreu aos 88 anos, em 1997, sua obra manda o recado que Maria Prymachenko sempre insistiu em transmitir em vida:
– Eu pinto para vocês, eu pinto para a alegria das pessoas.
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