A cobertura da vacinação infantil no Brasil está reduzindo a cada ano. Das nove principais vacinas indicadas para crianças, nenhuma atingiu em 2020 a meta federal de ter pelo menos 90% ou 95% do público vacinado. Até mesmo a cobertura da vacina contra poliomielite, cuja forma mais conhecida é a vacina da gotinha, diminuiu 23%. Em 2010, apenas 1% das crianças não foram vacinadas contra a pólio. Em 2020, a proporção aumentou para 24%. Com a diminuição de coberturas vacinais, o risco é que doenças já erradicadas voltem a circular no Brasil. A proporção de recém-nascidos cujas mães não fizeram pré-natal adequado estava diminuindo desde 2014, mas, em um país que acentuou as desigualdades enfrentadas no acesso à saúde durante a pandemia, esse cenário piorou. Em 2020, de cada 10 nascidos vivos, 3 não fizeram pré-natal adequado. Os dados são do IEPS Data, uma iniciativa do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde, que compila indicadores de saúde no Brasil. O =igualdades desta semana faz um raio X da cobertura vacinal no país.
Em 2020, primeiro ano da pandemia, as vacinas BCG, rotavírus humano, meningococo C, pneumocócica, poliomielite, tríplice viral (1ª dose), pentavalente, hepatite B (em crianças até 30 dias) e hepatite A não atingiram a meta federal de ter pelo menos 90% do público vacinado. Ano a ano, está havendo a diminuição da aplicação de imunizantes recomendados para crianças.
A vacinação contra a poliomielite diminuiu 23% em dez anos. Em 2010, apenas 1% das crianças não foram vacinadas contra a pólio. Já em 2020, aumentou para 24%. O estado onde essa mudança foi maior é o Amapá: em 2010, 9% das crianças não foram vacinadas e, em 2020, foram 58%. Desde 2016, a cobertura vacinal contra a pólio no Brasil está abaixo de 95%, que é a meta recomendada pelo governo federal.
A cobertura vacinal da BCG, que protege contra as formas graves de tuberculose, também tem registrado baixos índices – caiu de 99,7% em 2018 para 74% em 2020. No primeiro ano da pandemia, nenhum estado atingiu a meta de vacinar 95% do público-alvo. A indicação do Programa Nacional de Imunizações é que a vacina seja aplicada logo após o nascimento.
Em 2015, foram confirmados 214 casos de sarampo no Brasil e, no ano seguinte, o país recebeu a certificação de eliminação do vírus pela Organização Mundial da Saúde. Tanto em 2016 quanto em 2017, não foram registrados novos casos. No decorrer dos anos, a cobertura vacinal da tríplice viral, que protege contra a doença, foi reduzindo e, em 2018, foram confirmados 9.325 casos. No ano seguinte, o Brasil perdeu a certificação de eliminação do vírus e novos surtos foram identificados. Em 2019, foram registrados 20.901 casos da doença. O número aumentou a partir da entrada do vírus junto com turistas doentes e imigrantes. De 100% de cobertura vacinal da primeira dose em 2014, baixou para 79,7% em 2020, quando foram registrados 8.448 casos. A meta do governo é que a cobertura vacinal seja maior de 95%, sendo a maneira mais eficaz de controlar os casos de sarampo no país.
A proporção de recém-nascidos cujas mães não fizeram pré-natal adequado estava diminuindo desde 2014, mas, em um país que acentuou as desigualdades no acesso à saúde durante a pandemia, esse cenário piorou. Em 2020, de cada 10 nascidos vivos, 3 não fizeram pré-natal adequado.
A cobertura de médicos no Brasil é um terço do Reino Unido. Apesar da OMS não possuir um parâmetro específico de proporção de médicos por habitantes, o governo federal utiliza como referência a proporção do Reino Unido que, depois do Brasil, tem o maior sistema de saúde pública de caráter universal orientado pela atenção básica. Em 2020, havia dois médicos a cada mil brasileiros, já no Reino Unido, eram seis em 2019.
No Brasil, também há uma desigualdade regional na cobertura de médicos. Em 2020, no Distrito Federal, unidade federativa com maior cobertura de médicos, havia 3,6 profissionais por mil habitantes, mais que na Nova Zelândia. Já no Maranhão, estado com a menor taxa, apenas 0,9 médicos por mil habitantes, que se assemelha a Fiji.
Fonte: IEPS Data; Ministério da Saúde; Our World in Data
Repórter da piauí
É fundador do Pindograma, site de jornalismo de dados, e estudante de história na Universidade de Columbia, em Nova York
É designer e diretora do estúdio BuonoDisegno