CRÉDITO: REINALDO FIGUEIREDO_2023
A força e o futuro da extrema direita no Brasil pós-8 de janeiro
Brasil serve de laboratório para a fase revolucionária da extrema direita mundial
Vladimir Safatle | Edição 198, Março 2023
As ações históricas mais expressivas são feitas por quem sequer tem ideia do que está fazendo. Foi impossível deixar de pensar nisso ao ver a imagem do manifestante que entrou no Palácio do Planalto e achou por bem esfaquear, com uma violência tanto mais impactante porque displicente, a tela As Mulatas, de Di Cavalcanti. Seria fácil dizer que se trata de simples vandalismo, cometido por uma pessoa tão brutalizada que é incapaz de perceber o valor de um quadro “de 8 milhões de reais”, como se disse à época. Mas a verdade é que conflitos sociais reais acabam sempre por encontrar suas imagens e significações, a despeito da intenção dos seus agentes. O que o manifestante queria fazer ou acreditava estar fazendo tem pouca importância, pois não foi exatamente ele quem agiu, mas toda uma estrutura por meio dele. E, como costumava dizer Jacques Lacan, há momentos em que as estruturas descem às ruas.
É possível olhar para tudo que ocorreu em Brasília em 8 de janeiro passado e agir como se fosse a expressão irracional da violência das massas. Mas o que aconteceu – e provavelmente se repetirá mais à frente – não foi de fato “irracional”. Foi, na verdade, um acontecimento várias vezes previsto e anunciado: uma certa repetição do que se viu na invasão do Capitólio, em Washington. Durante muito tempo se destacou um lugar para esse acontecimento na racionalidade das lutas políticas atuais no Brasil. A questão é que essa racionalidade mudou, embora muitos prefiram não admiti-lo.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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