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    CRÉDITO: ANDRÉS SANDOVAL_2023

esquina

Revolução no fardão

O traje tradicional da ABL se adapta a tempos de crise

Fernando Molica | Edição 200, Maio 2023

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Diógenes Cardoso retira da caixa os fios de ouro, dispostos em um arranjo que lembra um rabo de cavalo. “Olha só o peso”, diz o alfaiate de 82 anos, ao passar o conjunto para as mãos do interlocutor. A cena traz um toque de melancolia: em 2018, o profissional veterano perdeu a exclusividade que mantinha desde 2005 de confeccionar os fardões dos integrantes da Academia Brasileira de Letras (ABL).

A quebra do monopólio representou também o rompimento de uma tradição: não há mais ouro nos fardões. O que reluz no peito dos recém-chegados à ABL são paetês aplicados sobre o bordado. “Não tem ouro”, sentencia Cardoso ao ver fotos do novo modelo. Dependendo da incidência da luz, os fios produzem reflexos vermelhos ou verdes, mas não dourados. O alfaiate também usava paetês, mas dava o acabamento com fios de ouro.

O fim da “era do ouro” começou com a posse do poeta e compositor Antonio Cicero, que optou por uma solução caseira e mais barata. O novo fardão saiu do ateliê de seu marido, o figurinista Marcelo Pies, que há mais de vinte anos atua no cinema e no teatro. Fernanda Montenegro, Gilberto Gil, Godofredo de Oliveira Neto e Ruy Castro também entraram na academia com o modelo de Pies.

 

 

A mudança foi impulsionada pelo fim de outra tradição: há menos de dez anos, depois de alguns questionamentos sobre o uso de verbas públicas, governos estaduais e prefeituras deixaram de doar o traje de seus filhos tornados imortais – um gasto público que não é mais aceitável em tempos de austeridade fiscal. Atas de sessões realizadas em 2017 mostram que os acadêmicos discutiram novos meios para financiar a roupa coruscante dos colegas novatos. As propostas não avançaram. Como argumentou na época o jornalista Cícero Sandroni, o problema é do acadêmico, não da academia. Desde então, alguns eleitos bancaram o traje com recursos próprios; outros o receberam de amigos, empresas ou entidades profissionais.

A diferença de preços entre os fardões de Cardoso e de Pies é grande. O novo sai por 30 mil reais. O de fios de ouro por quase o dobro e chegou a custar 78 mil reais na época do mecenato oficial – o alfaiate alega que os governos atrasavam o pagamento e exigiam custosas certidões. Pies não respondeu aos pedidos de entrevista feitos pela piauí. Um amigo do estilista que o consultou sobre o tema confirma que os bordados de seu fardão são feitos com fios metalizados, mas ressalvou que a falta do ouro não justifica a diferença de preço (segundo Cardoso, na sua última compra, cada grama do metal custou 3,8 mil reais).

Presidente da ABL, o jornalista Merval Pereira não vê problemas na mudança. “O fardão mudou com o tempo”, diz. Ele lembra que o escritor Ariano Suassuna encomendou seu traje a uma costureira e a uma bordadeira do Recife. Machado de Assis, primeiro presidente da ABL, nunca vestiu fardão. O traje só foi introduzido na instituição em 1910 – dois anos depois da morte de Machado –, na posse do escritor e jornalista Paulo Barreto, o João do Rio. Tornou-se obrigatório desde então, embora as normas para sua confecção só tenham sido oficializadas no  regimento de 1964: deveria ter “bordados a ouro, imitando louros”.

 

As normas foram sendo relaxadas com o passar dos anos, como se pode constatar comparando três trajes mantidos no acervo da ABL. Nos fardões do poeta e filólogo Amadeu Amaral (empossado em 1919) e do jurista, historiador e político Afonso Arinos de Melo Franco (cuja posse foi em 1958), os louros são feitos inteiramente com fios de ouro. Já o fardão do jornalista e escritor Carlos Heitor Cony, empossado em 2000, tem fios do metal apenas nos acabamentos, tal como faz Cardoso.

 

Houve acadêmicos que propuseram a extinção do fardão, como o poeta e deputado Afonso Celso, que achava o traje pouco adequado ao nosso clima. Em 1928, o antropólogo Roquette-Pinto tentou, e não conseguiu, assumir sua cadeira sem envergar o uniforme. O poeta Manuel Bandeira, que não gostava do fardão, só o usou na sua posse. Em 1997, durante uma reunião da ABL, o também poeta Lêdo Ivo revelou que Bandeira usara um traje emprestado. Depois de ganhar alguns quilos, o romancista João Ubaldo Ribeiro deixou de ir às posses de acadêmicos e contribuiu para o anedotário em torno do uniforme. “Dizia que o fardão ficou tão apertado que ele se sentia um queijo provolone quando o abotoava”, conta a escritora e acadêmica Ana Maria Machado.

A adoção da roupa com louros dourados foi iniciativa do jornalista e escritor Medeiros e Albuquerque, com o propósito de deixar a ABL mais parecida com seu modelo, a Academia Francesa. Em mais uma inconfidência nas sessões da academia brasileira, o romancista Josué Montello contou aos colegas, em 1993, que Medeiros e Albuquerque tinha razões ocultas para imitar os franceses: funcionários da alfândega brasileira confundiam o fardão com o traje de gala usado por diplomatas e assim liberavam o ilustre passageiro sem revista de bagagem. “As coisas dele passavam tranquilamente”, disse Montello. Até onde se sabe, não havia tesouros das arábias entre essas coisas.

 

Em 1977, com a eleição de Rachel de Queiroz, primeira mulher a entrar na ABL, foi necessário criar uma versão feminina do fardão. Foi adotado um vestido longo com bordado em torno da gola. O modelo seria substituído, em 2010, por um parecido com o dos homens, desenhado pelo estilista Guilherme Guimarães. A troca não foi pacífica. “Fui voto vencido”, lamenta Ana Maria Machado, que considera o vestido mais leve e fresco. Novos imortais elogiam o traje assinado por Pies. Gilberto Gil afirmou que o considera elegante; Ruy Castro disse que ele é “muito confortável”. Para o romancista Godofredo de Oliveira Neto, o traje é “supercaprichado e bem cortado”.

Em seu ateliê com vista para a ABL – fica a 120 passos do Petit Trianon, sede da instituição, no Centro do Rio –, cercado de ternos em produção e de fotos ao lado de acadêmicos, Diógenes Cardoso admite ter ficado surpreso – mas não magoado – com a adoção do modelo concorrente. Faz questão de lembrar que, no ano passado, foi dele a roupa que o neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho vestiu na posse. Numa das prateleiras de seu local de trabalho, repousam três peças de gabardine verde-escuras, material para a confecção de três fardões. “Se eles vierem…”, suspira o alfaiate, sonhando com os próximos imortais.

Fernando Molica

Jornalista e escritor, é autor do romance Uma selfie com Lenin, da Record. Foi repórter especial da Folha de S.Paulo e da TV Globo

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